Professora universitária e advogada, a senadora Simone Nassar Tebet, 48 anos, foi oficializada como candidata a governadora na convenção do MDB. Convocada de última hora, após a prisão do presidente regional da sigla e um dos favoritos na disputa, o ex-governador André Puccinelli, acusado de chefiar organização criminosa para desviar recursos, ela aceitou o desafio para honrar o MDB, no qual sempre militou e um dos maiores partidos no Estado.
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Simone aceitou a missão em encontro com o ex-governador no Centro de Triagem Anísio Lima, que se transformou no comitê eleitoral da sigla. Filha do ex-senador Ramez Tebet, ela ameaçou desistir da candidatura, mas manteve o compromisso após reuniões no presídio, que contaram com a presença dos principais caciques do MDB, como o ministro Carlos Marun, o senador Waldemir Moka e o presidente da Assembleia, deputado estadual Junior Mochi.
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A emedebista vai para a campanha para defender o ex-governador, investigado na Operação Lama Asfáltica por suposto desvio de R$ 300 milhões e réu em duas ações penais na Justiça. “Estou aceitando o desafio, em primeiro lugar, pelo Puccinelli, nosso eterno governador”, justificou Simone, em entrevista divulgada pelo Campo Grande News.
A senadora virou candidata após André ter dois pedidos de liberdade negados pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça. O terceiro habeas corpus ainda não foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Nesta semana, o ex-governador se tornou réu na segunda ação penal por receber R$ 22,5 milhões em propinas da JBS, que teriam sido pagas por meio de notas frias para empresas. Na primeira, é acusado de causar prejuízos de R$ 142 milhões aos cofres públicos.
André nega as acusações apontadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. A defesa classifica a prisão como estranha, por ter ocorrido próximo da convenção do MDB. No ano passado, a primeira prisão preventiva foi decretada na semana em que ele iria assumir a presidência regional da sigla.
Simone foi assessora da Assembleia Legislativa de 1995 a 2001, deputada estadual de 2003 a 2004, prefeita de Três Lagoas de 2005 a 2010 e vice-governadora de 2011 a 2014. Está no primeiro mandato de senadora.
Defensora das medidas impopulares do presidente Michel Temer (MDB), como a PEC do Teto dos Gastos Públicos, que pode deixar a pós-graduação sem bolsas em 2019, e a Reforma Trabalhista, que reduziu direitos dos trabalhadores para facilitar a geração de empregos.
Ela votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e pela cassação do mandato do senador Delcídio do Amaral. No entanto, Simone votou para salvar o mandato do senador Aécio Neves (PSDB), gravado pedindo propina de R$ 2 milhões, defendendo matar para evitar delação e a obstrução da Operação Lava Jato
A emedebista é ré em ação pelo suposto desvio de R$ 242,3 mil na revitalização do balneário municipal. A Justiça Federal determinou o bloqueio dos bens para garantir o ressarcimento dos cofres públicos. A Vara de Fazenda Pública de Três Lagoas também determinou o bloqueio, mas a medida foi suspensa pelo Tribunal de Justiça.
Diante de outros candidatos e até dos aliados, a candidata pode se considerar “inocente” ao ser alvo de denúncia em apenas um caso ao longo de 15 anos ocupando cargos eletivos.
No entanto, denúncias de corrupção não atingem apenas o presidente regional do MDB. Em caso de eleição de Simone, a vaga de senador fica com o empresário Celso Dal Lago, primeiro suplente, foi condenado por corrupção a quatro anos e oito meses de prisão na Operação Uragano, deflagrada pela Polícia Federal em 2010.
Aliás, a candidata a governadora não deve estar preocupada com o desgaste causado pelo tema. Na convenção deste sábado, Simone cumprimentou a multidão de mãos dadas com a deputada estadual Antonieta Amorim (MDB), investigada no TRF3 por suposta peculato e corrupção na licitação da coleta de lixo em Campo Grande.
Ao lado do ex-marido, o ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB), Antonieta teve os bens bloqueados em ação por improbidade por suspeita de pagamento de propina para comprar uma fazenda, também em decorrência de suspeita de corrupção na coleta do lixo.
Antonieta é irmã do empresário João Amorim, preso na Operação Lama Asfáltica desde 8 de maio deste ano.
Apesar dos fatos apresentados, a senadora conseguiu apoio importante e surpreendente na reta final das convenções: o procurador de Justiça Sérgio Harfouche (PSC) será o seu companheiro de chapa, como candidato a vice-governador.
Ao longo da pré-campanha, o procurador fez campanha para o Senado e chegou a aparecer em quarto lugar nas pesquisas. Ele cogitou ser candidato a governador, mas acabou fechando com o MDB.
Ao reforçar a campanha para defender o “eterno governador André Puccinelli”, Harfouche contraria o próprio discurso, de que o cidadão tinha acordado contra a onda inaceitável de corrupção. Em entrevista à rádio CBN, o procurador defendeu a eleição de pessoas sem suspeitas, denúncias, processos e condenações por corrupção.
Agora, a foto ao lado de Simone e Antonieta, que enfrentam ações na Justiça por suspeitas de corrupção, fica a pergunta: Harfouche mudou de ideia ou o eleitor ainda não acordou?
Com a campanha costurada nos minutos finais, a candidata à governadora começa a delinear as propostas de Governo. Inicialmente, defendeu uma gestão municipalista. “As pessoas moram nas idades. Onde estão problemas e a maioria dos serviços públicos. O prefeito tem 90% das necessidades da população e não 20% das receitas”, defendeu ela, conforme o Midiamax.
Conforme o TopMídiaNews, a senadora ficou comovida com a situação dos presidiários do Estado após visitar o ex-governador no Centro de Triagem. De acordo com a candidata, André anda de chinelos e come a mesma alimentação servida aos demais internos. A forma do preparo da carne, cozida em óleo reaproveitado, chocou a parlamentar. Ela prometeu melhorar as condições do presídio.
Simone resgastou o slogan adotado nas últimas campanhas de Puccinelli: “Amor, Trabalho e Fé”.
O MDB só definiu um candidato a senador, Waldemir Moka, que buscará o segundo mandato como senador.