Mais um caso da farra sem limites nos gastos com o dinheiro da saúde. A pediatra Rafaela Moraes Siufi, 38 anos, filha do médico Adalberto Siufi, virou ré por receber salários sem trabalhar para o município de Campo Grande. O pior, ela recebia para prestar serviço no Hospital do Câncer Alfredo Abrão pela própria empresa, a Blue Med Serviços Médicos.
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A história mostra que a Polícia Federal não assusta esse povo acostumado em, digamos, se beneficiar do dinheiro público. Há cinco anos, no início de 2013, Adalberto Siufi foi alvo da Operação Sangue Frio, que o apontou como um dos integrantes da “Máfia do Câncer”, como ficou conhecida a suposta organização criminosa especializada em desviar recursos da saúde.
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O oncologista, um dos mais conceituados da Capital, acabou afastado do comando do hospital e foi alvo de inúmeras ações judiciais, sem nenhuma sentença cinco anos depois.
Em 2015, a prefeitura da Capital, sob o comando do pastor Gilmar Olarte, enviou ofício ao Hospital do Câncer informando a cessão de Rafaela para trabalhar na unidade de saúde. Só que a médica já prestava serviço ao estabelecimento por meio da sua empresa, a Blue Med Serviços Médicos.
De acordo com o depoimento do presidente da instituição na época e atual secretário estadual de Saúde, Carlos Coimbra, Rafaela Siufi recebia R$ 12 mil por mês para atender duas vezes por semana e atender 65 crianças. Ele estranhou o ofício do município e cobrou explicações, que nunca foram dadas.
O promotor Adriano Lobo Viana de Resende, da 29ª Promotoria do Patrimônio Público, descobriu ainda que a cedência foi feita com ônus para a origem. Com não havia ambulatório de oncologia pediátrica no Hospital do Câncer, o município informou que Rafaela também iria trabalhar na Santa Casa para completar a carga horária. Só que a entidade informou que a médica nunca integrou seus quadros.
Nos últimos meses, conforme a denúncia, a filha do médico Adalberto Siufi recebia R$ 12 mil do Hospital do Câncer e mais o salário do município para atender 11 crianças e trabalhar apenas duas horas semanais.
“Por meses não prestou qualquer serviço ao órgão público municipal, mas recebeu regularmente os valores do erário, demonstrando inegavelmente má-fé e violação ardilosa ao princípio da moralidade, inclusive porque cumulava com os altos valores pagos pelo Hospital do Câncer – onde o serviço pediátrico já vinha diminuindo diante da redução do número de pacientes”, destaca o promotor na denúncia encaminhada à Justiça em janeiro deste ano.
“Entabulou uma cessão com ônus para a origem (Município de Campo Grande/MS) para atuar em uma instituição privada onde, porém, já atuava mediante contrato particular para prestação de serviços. Inobstante esta situação, apesar do recebimento de valores pela instituição privada, cumulou ilicitamente seus vencimentos”, observou, no pedido de bloqueio de R$ 38 mil da médica.
Ela pediu exoneração do cargo no município em outubro de 2015, quando o caso foi descoberto.
“Os fatos narrados acima configuram improbidade administrativa, na medida em que traduzem práticas ensejadoras de enriquecimento ilícito da servidora, prejuízo ao erário, e violação dos princípios da administração pública, nos termos expressos pelos artigos 9, 10 e 11 da Lei 8.429/92”, afirma Resende.
Para evitar o recebimento da denúncia, Rafaela alegou que o MPE não logrou êxito em comprovar nenhuma irregularidade. A médica ressalta que houve a prestação do serviço ao Hospital do Câncer.
O juiz Marcel Henry Batista de Arruda, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, considerou consistentes os indícios apontados pela promotoria de que houve pagamento irregular para Rafaela atender interesse privado. Ele aceitou a denúncia no dia 25 deste mês.
A ação ajuda a entender porque a fortuna gasta com a saúde não é suficiente para atender a população.
A ganância dos corruptos que se locupletam com o dinheiro público, enquanto o povo sofre com a falta de médicos, de remédio, de ambulâncias, de leitos, de vagas em hospitais, de dignidade… enfim, até morrem na porta uma unidade de saúde em decorrência do caos criado pela má utilização do dinheiro público.
Enquanto a sociedade for conivente com quem faz essas coisas, o Brasil não vai mudar.