Há quatro anos, o MPF (Ministério Público Federal) tenta reaver na Justiça a fortuna desviada por uma organização criminosa do Hospital do Câncer Alfredo Abrão, em Campo Grande. Conclusão da Operação “Sangue Frio” apontou que foram desviados R$ 27 milhões da instituição, dinheiro suficiente para concluir a obra de ampliação da unidade, orçada em R$ 28 milhões.
No entanto, a ação cobrando o ressarcimento dos cofres públicos anda tão devagar, que deixa a gente até com vergonha de contar. Enquanto no Rio de Janeiro, a Justiça Federal até já mandou o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso em novembro passado, devolver o dinheiro desviado para pagar funcionários, aqui estamos discutindo o valor a ser bloqueado.
Nova reviravolta ocorreu nesta semana. A Justiça reviu a decisão anterior e elevou o valor bloqueado em 360%, de R$ 6,3 milhões para R$ 29 milhões dos quatro investigados: o médico Adalberto Abrão Siufi, a sua filha Betina Moraes Siufi Hilgert, Issamir Farias Saffar e Blener Zan.
Inicialmente, a procuradoria pediu e obteve o bloqueio de R$ 51,3 milhões. Os acusados recorreram e o Tribunal Regional Federal da 3ª Região reduziu para R$ 6,3 milhões. O MPF recorreu e com base em nova perícia conseguiu o bloqueio de R$ 29 milhões, o que totalizará R$ 116,1 milhões.
Se a Justiça fosse ágil – e prestasse serviço compatível com a remuneração de primeiro mundo – o Hospital do Câncer já poderia estar concluindo a obra de ampliação de 48 para 240 leitos, sendo 30 de UTI.
Além de concluir as obras, o poder público teria dinheiro para tirar o tratamento contra o câncer da penúria. Milhares de pacientes sofrem com a falta de atendimento adequado na rede pública, enquanto os envolvidos nos desvios milionários seguem impunes, com consultórios chiques e até tendo tratamento de “autoridade”.
Na Justiça Estadual, Siufi ainda enfrenta três ações por erro médico. Até o momento, o médico não foi julgado das denúncias feitas após a deflagração da Operação Sangue Frio.
Além de gestão eficiente, o caos na saúde é reflexo da impunidade de quem desvia, não cumpre horário e ganha bons salários.
Para o bem da saúde pública, a situação precisa melhorar. Se um juiz, que tem salário superior ao pago em países de primeiro mundo, agir com a mesma agilidade e retidão no cumprimento das leis, já podemos evoluir um pouco, pelo menos dando mais dignidade para quem sofre de uma doença tão terrível como o câncer.