O ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, aproveitou agenda em Campo Grande para visitar o ex-governador André Puccinelli (MDB) no presídio. Para defender o emedebista e amigo, ele ignorou os fatos apontados nas acusações de corrupção e lavagem de dinheiro apontadas na Operação Lama Asfáltica.
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Famoso pela fidelidade aos amigos, o ministro repetiu o gesto que fez com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB), quando ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Sérgio Moro. Na ocasião, exercendo o cargo de deputado federal, ele usou verba da Câmara para pagar passagem aérea e estadia em Curitiba (PR). Após o caso ganhar as páginas dos jornais, Marun ressarciu o legislativo.
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Agora como ministro, em horário de expediente, ele aproveitou para visitar o ex-governador na cela 17 do Centro de Triagem Anísio Lima, no Complexo Penitenciário da Capital. De acordo com o jornal Campo Grande News, a visita durou 40 minutos.
Para justificar a permanência na Capital, Marun agendou dois compromissos públicos. Às 10h, ele se reuniu com a promotora de Justiça Filomena Aparecida Depólito Fluminhan, sem especificar o motivo do encontro. À tarde, 14h30, conforme a agenda disponibilizada no site da secretaria, participa de reunião bilateral em Corumbá para discutir a implantação da Ferrovia Brasil Bolívia.
Carlos Marun já chegou a ser tema de reportagens de jornais nacionais por ter agendas próximas do fim de semana em Campo Grande, onde tem residência, o que lhe permite se deslocar em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira).
Sobre a visita ao amigo preso, o ministro engrossou a suspeita de complô contra o ex-governador. Após ter os pedidos de liberdade negados pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça, André desistiu de disputar o cargo de governador pela terceira vez e anunciou que apoia a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB).
O ex-governador e a cúpula do MDB consideram que a sua candidatura era “fator preponderante” para mantê-lo preso. Na avaliação, a Justiça vem despachando de olho no calendário eleitoral e não pelos supostos crimes praticados.
“O André está convencido que o fato de ser candidato na eleição está influenciando para que ele permaneça na cadeia. Nós também temos razões para concordar com ele, pois esta sua prisão é arbitrária, já que não foi denunciado e muito menos condenado”, disse Marun ao site Campo Grande News.
O ex-governador não foi condenado, mas já foi denunciado em dezembro do ano passado. André é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes que teriam causado prejuízo de R$ 142 milhões aos cofres estaduais.
Não é apenas a ação penal que foi ignorada por Marun. Ele minimizou o material escondido em uma quitinete alugada no Indubrasil pelo advogado André Puccinelli Júnior.
“Esta questão de material na quitinete, disseram que era para ocultar provas, mas o que foi coletado? Quais as provas?”, questionou o ministro.
De acordo como juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal, foram encontrados no local lista de imóveis, relação de cheques relativos a venda de gado, laudos de imóveis urbanos e rurais, documentos que mostram o vínculo com o pecuarista Mauro Cavalli, acusado de ser “laranja” do ex-governador, estoques de rebanho, entre outros.
Marun esclareceu que a quitinete só foi locada porque o apartamento “humilde” de André, situado no Jardim dos Estados, área nobre e uma das mais caras da Capital, não tinha espaço para guardar os documentos.
Além de visitar André, Marun aproveitou para participar da reunião do MDB, que começa a definir os detalhes da candidatura de Simone ao Governo.
Com a renúncia, o ex-governador espera obter o habeas corpus para deixar o presídio junto com o filho e o dono do Instituto Ícone, João Paulo Calves.
A defesa pode aguardar o julgamento do mérito do pedido pelas turmas do TRF3 ou STJ ou ainda ingressar com novo pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal. No entanto, por temer a decisão da ministra Cármem Lúcia, pode esperar o fim do recesso, quando voltam os ministros como Gilmar Mendes, Dias Toffoli…