As novas provas, que estavam escondidas na quitinete com infiltração no Indubrasil, ajudaram a Polícia Federal a desvendar o suposto esquema de lavagem de dinheiro do ex-governador André Puccinelli (MDB), preso desde sexta-feira. Conforme despacho do juiz federal Bruno Cezar da Cunha Teixeira, ele repete o modo empregado pelo empresário João Amorim, preso desde 8 de maio deste ano, que legalizava o dinheiro desviado dos cofres públicos por meio de sucessivos empréstimos, que eram usados na compra de fazendas.
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A ocultação de provas, um mês antes da Operação Máquinas de Lama, em 11 de maio do ano passado, foi um dos motivos da prisão preventiva do ex-governador, do filho, o advogado André Puccinelli Júnior, e do dono do Instituto Ícone, João Paulo Calves.
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“A documentação em questão ainda está sob análise da Autoridade Policial, mas os documentos já verificados reforçam sobremaneira a vinculação de ANDRÉ PUCCINELLI com MAURO CAVALLI, proprietário rural conhecido na “Lama Asfáltica”, o qual foi identificado no decorrer das investigações como um auxiliar direto do ex-governador no desempenho das atividades delitivas praticadas em tese, chegando a ter sua condução coercitiva decretada quando da deflagração da 4ª fase da operação”, destaca o juiz.
Fazenda das suspeitas
André escondeu na quitinete o laudo de avaliação da Fazenda Palanque, que foi comprada pelo seu filho por R$ 1,3 milhão em 2003 e vendida no mesmo ano por R$ 4,5 milhões. Os policiais calculam que a propriedade vale R$ 20 milhões. O novo proprietário seria de classe média e não teria renda para comprar o imóvel.
Cavalli foi o coordenador de licitações nas gestões de André na Prefeitura de Campo Grande e denunciado, junto com o emedebista, por enriquecimento ilícito no Superior Tribunal de Justiça. Em oito anos no comando do município, o patrimônio do suposto braço direito saltou de R$ 40 mil para R$ 10 milhões. Hoje, Mauro é conhecido pecuarista no Estado.
Nas pastas escondidas no Indubrasil, os policiais encontraram provas de que André e Mauro mentiram em depoimento prestado à PF. O pecuarista disse que foi sócio do ex-governador há mais de 15 anos em uma propriedade rural em Aquidauana.
No entanto, documentos apreendidos mostram que ele fez empréstimos em quantias s significativas e relevantes movimentações de rebanho bovino com o emedebista em maio de 2016.
No “cafofo do Indubrasil”, a PF ainda encontrou provas das notas frias reveladas nas delações do empresário Ivanildo da Cunha Miranda e dos donos da JBS. Em colaboração premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, o grupo diz que pagou R$ 112 milhões em propinas para André Puccinelli por meio de notas frias e doleiros.
Conforme o magistrado, a descoberta dos novos documentos “ilumina a dinâmica da lavagem de dinheiro empregada nas fases 2 (Fazendas de Lama), 3 (Aviões de Lama) e 4 (Máquinas de Lama)”.
O modus operandi é o mesmo adotado pelo dono da Proteco, João Amorim, acusado de chefiar a suposta organização criminosa com André e o ex-deputado Edson Giroto. O empresário fazia empréstimos entre pessoas e empresas do grupo em infindáveis repetições até distanciar da origem ilícita e comprar fazendas. Os lucros eram usados para “quitar” o financiamento e dar aparência de sucesso econômico, concretizando o branqueamento de capitais.
“A ocultação da documentação é preocupante e interfere absolutamente sobre o funcionamento da investigação e da instrução processual penal, pois os documentos que foram escondidos nas quitinetes do Indubrasil indicam ter havido, por exemplo, superfaturamento na colheita de cítricos e divergência de estoque e vendas de rebanho (fls. 96/97), reforçando que os indícios de lavagem de dinheiro não aconteciam apenas na singela aquisição de fazendas como patrimônio, subsequente aos atos de lavagem predecessores (cadeia fictícia de empréstimos), quiçá posto em nome de “laranjas”, como noutra fase se apontou, mas também escamoteando nessa própria atividade econômica (através de uma possível dinâmica criminosa interna ao funcionamento da própria atividade rural), que passa a ser potencial “porta de entrada” de dinheiro criminoso, como se dará, por exemplo, em movimentações fictícias de rebanho com um apoio ‘logístico’de frigoríficos para lavar dinheiro através da negociação de“gado de papel” (fl. 112), entre diversas outras formas que o intelecto dos grupos criminosos dedicados à lavagem poderiam conceber. Tudo isso estava alheado da linha investigativa”, ressalta o juiz Bruno Teixeira.
Depois de manter os documentos longe da investigação da Polícia Federal por três anos, considerando-se que a Operação Lama Asfáltica completou três anos neste mês, a estratégia do ex-governador é desqualificá-los.
Confira a íntegra da prisão preventiva do ex-governador
Neste domingo, em entrevista ao Correio do Estado, o advogado André Borges, antecipou que esta será uma das linhas da defesa. Como teriam sido obtidas de forma ilegal e sem autorização judicial ou do dono, no caso André Puccinelli Júnior, as provas não poderão ser usados pela PF.
As provas foram encontradas após denúncia anônima em 8 de dezembro do ano passado e reforçaram a prisão preventiva do ex-governador.
72 horas na prisão
O plantão desfavorável complicou a defesa do ex-governador André Puccinelli, preso junto com Giroto e Amorim na famosa cela 17 do Centro de Triagem. O filho abriu mão da prerrogativa de advogado , que lhe dava direito a cela especial no Presídio Militar, para ficar com o pai no presídio comum.
Pré-candidato a governador do Estado nas eleições deste ano, André já completa três dias preso. A defesa preferiu não arriscar o pedido de liberdade no fim de semana, porque o plantão era feito pela desembargadora Lúcia Ursaia, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
A expectativa é de que o pedido seja analisado pelo desembargador Paulo Fontes, que conseguiu ler milhares de páginas em 24 horas para liberar o emedebista no feriado de 15 de novembro do ano passado.