Os ruralistas festejaram com bacalhau e vinho a aprovação do projeto que moderniza a legislação de agrotóxico no Brasil. Celebrada pela articulação, a deputada federal Tereza Cristina (DEM) incorporou o apelido “Musa do Veneno” e causou a ira de artistas regionais e nacionais, que se juntaram aos ambientalistas, a oposição e especialistas em saúde para criticar o “PL do Veneno”.
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Considerado retrocesso no País, que já teria um dos maiores índices de veneno em produtos agropecuários do mundo, a proposta foi aprovada na comissão especial e segue para votação no plenário da Câmara e no Senado.
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Repetindo a estratégia de Carlos Marun (MDB), Tereza não está preocupada com a repercussão do projeto na sociedade. O importante é o objetivo, no caso, aprovar novo marco regulatório na questão dos agrotóxicos.
A proposta não causou a ira apenas do músico Caeteno Veloso, que aderiu ao movimento contra a democrata sul-mato-grossense. “Musa do Veneno. Ela é nossa. É do MS. É pop”, postou o artista Vitor Hugo Samúdio.
“Vergonha MS! Depois do Marun, agora temos a Musa do Veneno”, lamentou o poeta Emmanuel Marinho. “Não. Não. Não. Chega de Veneno”, protestou a diretora de teatro Lu Bigatão.
A presidente em exercício da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação), Sueli Veiga, também recorreu à rede social para deixar o repúdio. “Combinou Musa do Veneno… do agrotóxico, do pesticida”, afirmou a sindicalista.
Caso a proposta seja aprovada, a denominação de agrotóxico passa a ser pesticida. A PL do Veneno cria rito sumário para aprovação de novos agrotóxicos e passa a função para o Ministério da Agricultura.
O projeto é suicida, digamos assim. Caso o Governo não aprove o novo veneno em dois anos, o Governo fica obrigado a conceder o registro provisório, independente das consequências que isso possa causar na população.
O Ministério Público Federal e técnicos da Anvisa (Agência Nacional da Vigilância Sanitária) condenam a mudança, porque acham que pode elevar o percentual de agrotóxico na alimentação.
Comandada por Tereza Cristina, a bancada ruralista considera a mudança fundamental para modernizar o setor, considerado defasado, e permitir a chegada de produtos mais modernos.
A festa ocorreu em um dos restaurantes mais tradicionais e caros de Brasília. O jornal Folha de São Paulo acompanhou a comemoração, regada a muito vinho e com bacalhau. Cerca de 40 pessoas participaram da festa e, no que foi considerado um deboche para muitos, aprovaram o apelido de Tereza: “Musa do Veneno”.
A deputada sul-mato-grossense está ciente de que a luta não está ganha. “Nós ganhamos a batalha, mas ainda temos uma guerra”, disse, segundo o jornal paulista.
Por meio da assessoria, o deputado carioca Chico Alencar (PSOL) protestou contra a celebração. “Em um restaurante chique à beira do lago Paranoá, os ruralistas comemoraram a aprovação do #PLdoVeneno com vinho, bacalhau e uma pitada de ironia. O deboche não tem limites. Que absurdo!”, postou o parlamentar, no Facebook.
Caetano Veloso criticou a estratégia da deputada sul-mato-grossense, presidente da comissão, que realizou sessão quase secreta após o protesto do Greenpeace. “Absurdo! De portas fechadas, comissão aprova PL do Veneno. O projeto segue para o plenário. A PRESSÃO CONTINUA”, postou no Instagram.
A polêmica com os ambientalistas, especialistas e pesquisadores não intimida nem os deputados em busca da reeleição. Geraldo Resende (PSDB) votou a favor do projeto e defendeu a mudança no marco regulatório dos agrotóxicos.
Assim como Tereza Cristina, ele já tinha virado às costas para o clamor público e votado a favor da reforma trabalhista e duas vezes para livrar o presidente Michel Temer (MDB) de ser julgado pelos crimes de corrupção, obstrução da Justiça e de chefiar organização criminosa.
Como foram eleitos e deverão disputar a reeleição em outubro, a sociedade terá a oportunidade de dizer, na urna, se essa turma lhe representa ou não?
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