A presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges, deu o cheque de R$ 165 mil para comprar um carro do tenente-coronel Admilson Cristaldo Barbosa, preso na Operação Oiketicus. Ela confirmou que indicaria o militar, que conhece há mais de 12 anos, para integrar a equipe de segurança do Tribunal de Justiça.
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As informações foram divulgadas pela magistrada em entrevista ao Campo Grande News, na qual a futura presidente do TJMS se defendeu as acusações feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
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Tânia não é investigada na operação que investiga a ligação de 28 policiais militares com a Máfia do Cigarro. No entanto, ao cumprir mandados de busca e apreensão nos endereços do tenente-coronel, que foi preso na operação, os promotores encontram cheque de R$ 165 mil da magistrada ao oficial da PM.
Em depoimento ao Gaeco, Admilson contou que recebeu o cheque como sinal pela venda do Jeep Grand Cherokee. Só que o veículo continuava a venda em uma garagem, conforme as investigações.
A presidente do TRE confirmou a negociação para a compra do carro. “No mês de março, eu estava tratando da venda do meu carro para comprar um SUV, carro mais alto, mais seguro para viagens. Estava em negociação com o doutor Roberto Vieira, que dependia de receber um crédito para realizar o negócio comigo e pediu que eu aguardasse. Soube que o tenente-coronel Admilson estava vendendo justamente um veículo que atendia as minhas necessidades, um Jeep Grand Cherokee”, explicou.
Como ainda não tinha conseguindo vender o carro, ela não concretizou o negócio com o militar, que foi preso em meados de maio deste ano. O cheque não foi compensado.
A desembargadora, que deverá ser eleita em outubro deste ano nova presidente do Tribunal de Justiça, confirmou o teor das mensagens no celular apreendido pelo Gaeco. Conforme o órgão, ela planejava indicar Admilson para assumir a chefia da segurança do TJMS.
Ao Campo Grande News, Tânia Garcia confirmou que conhecia o tenente-coronel há 12 anos e o convidou para integrar a equipe do tribunal. No entanto, negou que tenha sigo para assumir a chefia.
“É prerrogativa de todo presidente escolher os cargos de direção do tribunal, escolher a equipe de segurança, que sempre composta por policiais militares e delegado. E toda a equipe tem que estar estruturada antes, para se estabelecer os planos de trabalhos, os projetos”, justificou.
Agora, com a prisão do tenente-coronel, ela anunciou que manterá o atual chefe da segurança, o coronel Jonildo Theodoro de Oliveira. Na versão apresentada ontem, Admilson Cristaldo seria o braço direito.
Sobre o interesse em indicar o policial preso na operação, a desembargadora recorreu ao passo do tenente-coronel, que tinha ficha limpa e acumulava condecorações.
“O tenente-coronel sempre foi pessoa que gozou de muito respeito dentro da PM, sempre se relacionou muito bem com todas as instituições: Poder Judiciário, Tribunal de Contas, Assembleia. Foi condecorado inúmeras vezes pelos serviços prestados, era comandante de um batalhão e um policial de alta patente. Não tinha absolutamente nada contra ele até àquela data da prisão. Nunca se soube de nada que pudesse implicá-lo em conduta desonrosa”, justificou-se.
A magistrada não quis falar sobre o filho, o empresário Breno Fernando Solon Borges, 38 anos, preso com 129 quilos de maconha, munições de fuzil 762 e uma pistola nove milímetros. Ele é réu em três ações por organização criminosa, porte ilegal de arma e tráfico de drogas.
A polêmica soltura de Breno, em julho do ano passado, ainda rendeu a abertura de procedimento contra a presidente do TRE pelo Conselho Nacional de Justiça e ação por improbidade administrativa na 2ª Vara dos Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos.
Tribunal de Justiça e AMAMSUL diulgam nota de apoio
O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Divoncir Schreiner Maran, e Associação dos Magistrados saíram em defesa da presidente do TRE, desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges.
Além de informar que adotou as medidas para apurar a denúncia, o TJ destaca que todo cidadão tem direito a ampla defesa e ao contraditório.
Confira a nota na íntegra:
“O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e a Associação dos Magistrados de Mato Grosso do Sul (AMAMSUL), sobre as notícias envolvendo o nome da Desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges, vêm a público apresentar a seguinte manifestação:
1) antes de qualquer julgamento, deve ser garantido a qualquer cidadão o direito à ampla defesa e ao contraditório;
2) nesse contexto, tão logo os fatos foram divulgados pela imprensa, a magistrada explicou, prontamente, os motivos que levaram a emissão do cheque apreendido, informando tratar de promessa de compra e venda de veículo;
3) o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, assim que tomou conhecimento dos fatos, imediatamente solicitou informações a magistrada e toda documentação será encaminhada ao órgão competente para a devida apuração;
4) o TJMS e a AMAMSUL confiam na lisura e na retidão da conduta da Desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges, magistrada que sempre se dedicou ao bom funcionamento do Poder Judiciário;
5) em um Estado Democrático de Direito, os fatos devem sempre ser apurados pelas autoridades competentes, assegurado a qualquer cidadão o devido processo legal.
Campo Grande, 21 de junho de 2018“