Para não repassar aos passageiros do transporte coletivo a provável queda no preço do óleo diesel, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), recorreu ao valor praticado há mais de dois anos e meio. Ele destacou que o preço do diesel era de “R$ 3,13” em novembro do ano passado, conforme a ANP (Agência Nacional do Petróleo), quando houve o cálculo para definir os R$ 3,70.
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Só que este preço médio não é praticado em Campo Grande desde janeiro de 2016, quando o prefeito ainda era Alcides Bernal (PP). De acordo com a ANP, em novembro de 2017, o diesel custava R$ 3,522 na Capital, ou seja, 39 centavos mais caro do que o valor propagado pelo prefeito.
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Marquinhos citou o mesmo valor divulgado pelo Consórcio Guaicurus, em nota, de que não compensa reduzir o valor da tarifa porque o preço do diesel utilizado no cálculo era da ANP. A mesma versão foi apresentada pelo presidente da Agência Municipal de Regulação, Vinícius Campos Leite.
O valor foi repetido a exaustão para justificar o pleito dos empresários, que pretendem elevar a tarifa do transporte coletivo para R$ 3,80 em dezembro deste ano. Na prática, os centavos vão garantir um ganho extra de R$ 390 mil, considerando-se os R$ 3,9 milhões de passageiros pagantes contados pelo consórcio.
A expectativa é de que o preço do diesel tenha redução de R$ 0,60 nos próximos dias, com a redução de R$ 0,46 prometida pelo presidente Michel Temer (MDB) e da alíquota de 17% para 12% no ICMS sobre o combustível, já sancionada pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Esta redução poderá causar redução de 12% no preço do litro do diesel na Capital, dos atuais R$ 3,689 para R$ 3,08. Esta conta é pessimista, porque não considera o aumento praticado pelos donos de postos durante a greve dos caminhoneiros.
Vereador defende redução para R$ 3,55
Único parlamentar a fazer oposição na Câmara Municipal, Vinícius Siqueira (DEM) faz campanha pelo repasse da queda no preço do diesel para a tarifa do transporte coletivo.
Ele calcula queda de R$ 0,60 no preço do combustível. Como o diesel tem peso de 25% no cálculo da tarifa, ele defende a redução no valor de R$ 3,70 para R$ 3,55, ou seja, o mesmo valor praticado até dezembro do ano passado.
Reinaldo defendeu o repasse da queda no preço do diesel aos usuários do transporte coletivo. O tucano manifestou-se sensato e justo. Afinal de contas, ele cumpriu a sua promessa de campanha, feita há quatro anos – demorou, mas a concretizou.
Só para relembrar, na campanha, Marquinhos até simulou andar de ônibus para apresentar as propostas para a população, como tarifa justa e barata, transporte de qualidade e lutar pelo direito dos passageiros.
Nesta semana, até o momento, Trad ignorou as promessas de campanha.
De acordo com Marquinhos, a redução do diesel não será repassada para os 3,9 milhões de passageiros pagantes do transporte coletivo por ano. Ele deu uma notícia ainda pior para a população, que o passe de ônibus poderá ficar 2,7% mais caro em dezembro deste ano, de R$ 3,70 para R$ 3,80.
Para justificar a manutenção do valor e até o aumento, o prefeito destacou que o cálculo da tarifa usou o preço do diesel de R$ 3,13, divulgado pela ANP, que é mais baixo que o valor médio aplicado pelo Governo para calcular a pauta fiscal.
O Jacaré foi conferir o preço divulgado pela Agência Nacional do Petróleo e constatou que o preço médio do diesel na Capital era de R$ 3,522 em novembro do ano passado. Ou seja, R$ 0,39 mais caro do que o mencionado pelo prefeito.
O valor mais próximo de R$ 3,13 foi praticado pela última vez na Capital em janeiro de 2016, quando o óleo diesel custava R$ 3,147, conforme a ANP.
Em janeiro do ano passado, quando Marquinhos assumiu o comando do município, o combustível custava R$ 3,345. Em julho do ano passado, o preço estava em R$ 3,15, mas a redução não foi repassada aos usuários.
Não é a primeira vez que Marquinhos não repassa um benefício dado às empresas para os usuários do transporte coletivo. No ano passado, ele deu isenção fiscal de R$ 35 milhões para o Consórcio Guaicurus até 2020, mas, mesmo assim, autorizou o reajuste de 4,7% na tarifa, de R$ 3,55 para R$ 3,70.
Agora pode dar aval a outra medida, que deve piorar o sistema, a extinção dos ônibus executivos, conhecidos como fresquinhos. De acordo com o Campo Grande News, a experiência adotada durante a greve dos caminhoneiros pode se tornar definitiva.
Desde o início do mandato de Marquinhos, a situação não tem ficado mais fácil para quem anda de ônibus urbano em Campo Grande. Isso porque já não era boa antes dele assumir.
O Jacaré procurou o Consórcio Guaicurus, que orientou a cobrar explicações da Agência de Regulação.
O presidente da Agereg, Vinícius Leite, informou que a matemática não é tão simples e descartou erro no cálculo divulgado. “No cálculo tarifário para o exercício de 2018 foi considerado para o cálculo da variação do combustível a utilização dos dois combustíveis utilizados pela Frota do Consórcio Gauicurus, sendo que a utilização do Diesel S-500 que é mais barato foi de 56,46% e a utilização do Diesel S-10 que é mais caro foi de 43,54%, afirmou.
Confira os valores médios do óleo diesel na Capital
- Janeiro de 2017 – R$ 3,345
- Fevereiro de 2017 – R$ 3,352
- Março de 2017 – R$ 3,372
- Abril de 2017 – R$ 3,338
- Maio de 2017 – R$ 3,288
- Junho de 2017 – R$ 3,288
- Julho de 2017 – R$ 3,15
- Agosto de 2017 – R$ 3,294
- Setembro de 2017 – R$ 3,36
- Outubro de 2017 – R$ 3,388
- Novembro de 2017 – R$ 3,522 (usado para calcular a tarifa)
- Dezembro de 2017 – R$ 3,653
- Janeiro de 2016 – R$ 3,147
- Dezembro de 2016 – R$ 3,263
- Maio de 2018 – R$ 3,689
Fonte: ANP