A JBS mantinha “conta corrente” para controlar a propina paga aos governadores de Mato Grosso do Sul, que oscilou entre 20% e 30% do valor dos incentivos fiscais. A revelação consta do depoimento prestado em dezembro passado à Policia Federal pelo empresário Wesley Batista no inquérito que investiga o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
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O escândalo, que envolve dezenas de políticos, inclusive o presidente da República, Michel Temer (MDB), completou um ano nesta quinta-feira. Em Mato Grosso do Sul, apesar de ter citado dezenas de políticos, a colaboração premiada já levou a abertura de inquérito apenas contra Reinaldo e o ex-governadores Zeca do PT, no Supremo Tribunal Federal, e André Puccinelli (MDB), que responde no STJ junto com o sucessor.
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O depoimento ocorreu no âmbito do inquérito 1.190, que tramita em sigilo no STJ sob o comando do ministro Félix Fischer. O Jacaré teve acesso porque a defesa de Wesley Mendonça Batista anexou parte da oitiva no Supremo Tribunal Federal, onde o empresário procura manter os benefícios da delação premiada.
Wesley foi ouvido pela delegada Cynthia Pereira Fonseca, da Polícia Federal em Brasília, no dia 15 de dezembro de 2017. Na ocasião, ele confirmou a acusação de que a empresa pagava propina para os ocupantes da Governadoria.
O suposto esquema começou em 2003, na gestão de Zeca do PT, que supostamente recebia 20%. O percentual subiu para 30% no mandato de Puccinelli e foi mantido por Azambuja.
Desde então, a JBS criou uma “conta corrente” para controlar as doações de campanha e o pagamento de propina aos políticos sul-mato-grossenses. O esquema era semelhante ao adotado pela Odebrecht, mas que criou o departamento da propina, como chegou a ser chamado o setor de operações estruturadas da empreiteira.
Na campanha eleitoral de 2014, conforme Wesley, que presidia a companhia na época, ele foi procurado pelos candidatos a governador Reinaldo e Delcídio do Amaral, então no PT. Eles se mostraram ciente do suposto pagamento de propina em troca de incentivos fiscais e concordaram em manter o esquema o esquema criminoso, conforme o depoimento do empresário.
O delator conta que foi acertado o repasse de doações não oficiais para a campanha eleitoral de ambos como antecipação da propina. O vencedor assumiu o compromisso de honrar a doação feita ao derrotado.
Graças a esta “conta corrente”, que incluiu a correção dos valores antecipados, a JBS chegou a conclusão de que tinha antecipado R$ 27 milhões na campanha eleitoral. De acordo com o depoimento, o tucano não concordou com o valor e houve um impasse. No entanto, houve acordo de que o governador poderia descontar R$ 17 milhões, a título de vantagem indevida paga antecipadamente.
Em depoimento à PF, o dono da JBS revelou que ocorreram dez reuniões entre o governador e os irmãos Batista. Os encontros teriam ocorrido no gabinete do governador, na Governadoria, e no escritório da JBS, em São Paulo.
Os encontros eram agendados pelas secretárias e o empresário entregou os números da sua para que a PF faça a checagem das ligações.
No entanto, um ponto a favor do governador, ele admite que não dispõe de imagens sobre as reuniões realizadas em São Paulo.
Wesley contou que as ligações ocorreram entre 2014 e maio do ano passado. No entanto, desde abril de 2017, quando já tinha fechado o acordo de delação premiada, ele não recebeu mais o governador para discutir o suposto pagamento de propina.
Para reforçar o depoimento, o empresário entregou a planilha com os valores pagos, as notas fiscais frias, as guias de transporte animal (GTAs) e documentos contábeis. Wesley garante que o gado nunca foi abatido. “As notas não correspondem a nenhum negócio efetivamente realizado”, assegurou.
A propina teria sido paga por meio de notas emitidas pelas empresas e pecuaristas indicados pelo governador, segundo o delator.
No ano passado, quando foram divulgados os depoimentos dos delatores, a informação era de que houve pagamento de R 38,4 milhões em propinas ao governador do Estado.
Além dos documentos e pen drive, a defesa de Wesley entregou à PF cinco números de telefone celular, sendo que quatro já foram cancelados, e um fixo que podem comprovar as informações prestadas no depoimento.
Desde que explodiu o escândalo da propina, o governador tentou trancar a investigação no STJ e até anular a delação premiada no STF. No entanto, a colaboração foi considerada válida pelo plenário do Supremo em agosto do ano passado.
Reinaldo nega qualquer irregularidade e garante que é vítima de “chefes de facção criminosa”, no caso, os irmãos Batista, Joesley e Wesley Batista.
O Jacaré encaminhou e-mail para a assessoria do governador na manhã de ontem para pedir o retorno sobre as revelações da JBS, mas não houve manifestação até o momento.
Zeca e André também negam qualquer irregularidade e garantem que vão provar a inocência. Os três são candidatos nas eleições deste ano. André e Reinaldo estão em pré-campanha par ao governo, enquanto o petista deve tentar uma vaga de senador.
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