O Ministério Público Estadual deve convocar Rodrigo Azambuja, filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), para prestar depoimento sobre a suposta encomenda de assalto para recuperar a propina de R$ 270 mil destinadas ao corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco. Ele já entregou um telefone celular para perícia e negou envolvimento com a quadrilha presa pelo Batalhão de Choque no dia 6 de dezembro deste ano.
A história rocambolesca ocorreu no dia 27 de novembro, quando um grupo roubou o veículo Ford Fiesta e “R$ 9 mil” do comerciante Ademir José Catafesta, 61 anos, na BR-262, quando se deslocava da Capital para Aquidauana.
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No dia 6, policiais do Batalhão de Choque, o grupo de elite da Polícia Militar, receberam a denúncia de que o veículo usado no roubo estava abandonado no Jardim Seminário e prenderam todos os cinco envolvidos no roubo.
O chefe do grupo, Luiz Carlos Vareiro, o Véio, 61, confessou o crime, mas apresentou outra versão. Ele exigiu a presença do promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, famoso xerife do MPE, e integrante do Grupo Especial de Combate à Corrupção.
Em depoimento gravado, Véio contou que o filho do governador lhe contou que Ademir receberia propina de R$ 270 mil para entregar a Polaco e pagaria R$ 30 mil para ele recuperar o dinheiro. A entrega ocorreu no estacionamento do Supermercado Comper da Rua Joaquim Murtinho e o grupo seguiu o comerciante a partir do aeroporto.
Só que os criminosos não esperavam encontrar tanto dinheiro. Vareiro relatou que foram encontrados R$ 270 mil. Os suspeitos compraram um carro e duas motos com parte do dinheiro. O restante teria sido devolvido.
Para confirmar a história, o MPE fez buscas por Ademir e pelo filho, o piloto Lucas Catafesta, 22, que não foram localizados. O promotor recorreu à Justiça e conseguiu três mandados de condução coercitiva, que foram cumpridos pela Polícia Federal.
Contudo, só Lucas foi localizado pelos policiais e foi ouvido pelo promotor Marcos Alex. Ao tomar conhecimento de que era alvo de caçada pela PF pelo Blog do Nélio e pelo site O Jacaré, únicos que estão divulgando a história, o empresário compareceu na segunda-feira seguinte à operação para prestar depoimento a Marcos Alex.
O terceiro mandado não foi cumprido. Os policiais não conseguiram localizar o despachante David Cloky Hoffamam Chita, acusado de integrar uma quadrilha que roubava carros novos da Fiat Enzo em 2014. O nome foi revelado pelo Blog do Nélio, mas não houve a divulgação de qual o seu envolvimento com o grupo preso pelo roubo da propina destinada a Polaco.
As investigações vão ser retomadas em janeiro. A previsão é de que Rodrigo Azambuja, acusado de encomendar o roubo para recuperar a propina, seja o último a prestar depoimento no caso.
O Governo do Estado nega qualquer ligação com a história, que classifica como “estranha”.
No entanto, os policiais envolvidos na operação estariam sendo pressionados a abafar a história.
Polaco ganhou fama nacional ao aparecer no Fantástico, programa dominical da TV Globo, em 28 de maio deste ano. Ele foi gravado pelo empresário José Alberto Berger recebendo R$ 30 mil em propina para o ex-chefe da Casa Civil e principal coordenador político do PSDB, Sérgio de Paula.
Conforme a reportagem, o empresário só conseguiu reativar a isenção fiscal após pagar propina. O empresário se revoltou e gravou o pagamento após o grupo exigir o pagamento mensal de R$ 150 mil em propinas.
Este caso chegou a ser investigado pela Dedfaz, delegacia especializada em crimes fazendários, que chegou a promover devassa nas empresas de Berger. Contudo, ao provar que estava sendo vítima de retaliação, o empresário conseguiu que o juiz Carlos Alberto Garcete, encaminhasse todo processo para o Superior Tribunal de Justiça, porque o governador foi citado como um dos beneficiários do esquema e tem foro privilegiado.
Reinaldo Azambuja começa o ano com dois inquéritos abertos no STJ. O outro envolve o suposto pagamento de R$ 38,4 milhões em propinas pela JBS.
Ele se diz inocente e vítima de bandidos, no caso, cinco empresários. O problema é que 2018 é ano eleitoral e, se não tiver nenhum envolvimento como alega, o tucano pode sofrer injusto desgaste por falsas suspeitas.