As supostas “vítimas” do roubo na BR-262, praticado pela quadrilha contratada para recuperar propina de R$ 270 mil paga por integrantes do Governo ao corretor de gado José Ricardo Guitti uímaro, o Polaco, sumiram. Nesta sexta-feira, o MPE (Ministério Público Estadual) recorreu à Polícia Federal para localizá-las e conduzi-las, coercitivamente, para prestarem depoimento sobre a história rocambolesca envolvendo o advogado Rodrigo Azambuja, filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
A PF não divulgou detalhes, mas confirmou que cumpriu três mandados de condução coercitiva a pedido do promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção). Fontes do MPE também confirmaram os depoimentos.
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Entre os atingidos pela operação realizada nesta sexta-feira estão o comerciante Ademir José Catafesta, 62, e o filho dele, o piloto de avião Lucas Medeiros Catafesta, 22. A terceira pessoa não teve o nome divulgado.
Desde a madrugada do dia 7 deste mês, quando o Batalhão de Choque prendeu e encaminhou o grupo para ser ouvido pelo promotor Marcos Alex, as vítimas do assalto não eram localizadas pela Polícia Civil.
Ademir teria recebido a propina de R$ 270 mil no estacionamento do Supermercado Comper, da Rua Joaquim Murtinho, e foi roubado às 15h30 do dia 27 de novembro passado, quando levava o dinheiro para Polaco. Conforme a denúncia, o dinheiro teria sido repassado por um representante de Rodrigo. O assalto ocorreu próximo da Vila Jamic, colônia japonesa, entre Terenos e Aquidauana.
Contudo, o comerciante só registrou o boletim de ocorrência no dia seguinte, às 12h59, e contou que os bandidos levaram o Ford Fiesta e R$ 9 mil em dinheiro.
O Batalhão de Choque localizou o Fiesta do comerciante no Jardim Seminário no dia 6 e prendeu o grupo acusado pelo roubo: o aposentado Luiz Carlos Vareiro, 61, o lavador de carros Fábio Augusto de Andrade Monteiro, 23, o cantor Josué Rodrigues das Neves, 41, o representador autônomo Vinicius dos Santos Kreff, 24, e Jefferson Braga de Souza, 24.
Os quatro confirmaram a mesma história: Vareiro foi contratado por Rodrigo, filho do governador, para recuperar a propina paga a Polaco. Eles teriam dividido R$ 70 mil e devolvido R$ 200 mil. Inicialmente, os cinco esperavam encontrar R$ 100 mil.
Com o dinheiro do assalto, eles compraram duas motos e um veículo Peugeot 206, que foram apreendidos pela polícia.
Marcos Alex apreendeu ainda o telefone celular de Vareiro, que teria sido usado para falar com Rodrigo Azambuja.
Desde então, o promotor vem promovendo diligências para desvendar o caso e verificar se procede a denúncia de que houve a contratação da quadrilha para recuperar a propina destinada a Polaco.
No entanto, ele não conseguiu encontrar os Catafesta, que, literalmente, tinham sumido do mapa.
O promotor recorreu à Justiça, que determinou a condução coercitiva de três pessoas nesta sexta-feira. Outro mistério nesta história é por que Marcos Alex recorreu à Polícia Federal para cumprir os mandados? Ele informou que não irá se manifestar até a conclusão das investigações.
Por meio da assessoria de imprensa, a PF confirmou que cumpriu três mandados de condução coercitiva, mas que mais detalhes só seriam revelados pelo MPE, segundo nota publicada pelo site Top Mídia News.
O Governo nega que o filho do governador articulou o “roubo da propina” e classifica a história como “estranha”.
História supera ficção e reascende escândalo de corrupção do Fantástico
Desde a semana passada, o Governo trabalha para abafar o caso, porque ressuscita o escândalo da propina denunciado em 28 de maio deste ano pelo Fantástico, da TV Globo. Na ocasião, o ponto alto foi exibição do vídeo em que o empresário José Alberto Berger, dono do curtume Braz Peli, paga propina de R$ 30 mil a Polaco.
O dinheiro era destinado ao poderosíssimo Sérgio de Paula, que perdeu prestígio e acabou demitido em março após surgir o boato da existência do vídeo. Ou seja, a divulgação só ocorreu dois meses depois.
Polaco estaria cobrando propina em nome de integrantes do Governo. Na entrevista, Berger contou que só pagou propina de R$ 300 mil, porque o governador lhe orientou a procurar o secretário para reativar o incentivo fiscal.
Outros dois empresários confirmaram a denúncia, a de que frigoríficos e curtumes só obtinham isenção fiscal mediante pagamento de propina.
Reinaldo foi citado, pela primeira vez, na delação da JBS, que o acusou de receber R$ 38,4 milhões em propinas para conceder incentivo fiscal de aproximadamente R$ 1 bilhão.
Os dois casos são investigados no STJ (Superior Tribunal de Justiça), porque o tucano tem foro privilegiado. O processo tramita em sigilo.
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