Duas denúncias ressuscitaram dois escândalos envolvendo o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o ex-governador André Puccinelli (PMDB) na semana passada, mas são tão surreais que parecem armação de adversários. O filho do tucano, Rodrigo Azambuja, teria contratado uma quadrilha para recuperar propina de R$ 270 mil paga ao corretor de gado José Ricardo Guitti, o Polaco. Policiais federais encontraram materiais do peemedebista em quitinete alugada pelo peemedebista.
O episódio envolvendo Polaco ressuscita o escândalo de corrupção denunciado pelo dono do curtume Braz Peli, José Alberto Miri Berger, que foi ao ar no Fantástico, da TV Globo, em 28 de maio deste ano. Ele gravou o pagamento de R$ 30 mil em propina a Polaco, que representava o poderosíssimo e ex-chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula.
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Conforme a denúncia, que está sendo investigada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), o Governo tucano é acusado de cobrar propina de até R$ 500 mil para manter os incentivos fiscais para indústrias. O caso subiu para Brasília porque o governador foi citado e tem foro privilegiado.
Na quarta-feira, o Batalhão de Choque prendeu uma quadrilha acusada de roubar um veículo e R$ 9 mil na BR-262, quando o comerciante Ademir Medeiros Catafesta, 61, ia para Aquidauana. Ele foi roubado às 15h30 do dia 27 de novembro, mas só registrou o assalto às 12h59 do dia seguinte.
O chefe do grupo preso, o mestre de obras Luiz Carlos Vareiro, o Véio, 61, exigiu a presença do Ministério Público Estadual para contar a suposta trama. O promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, do Grupo Especial de Combate à Corrupção, ouviu os integrantes da quadrilha e apreendeu os telefones celulares para confirmar a ligação com Rodrigo, filho de Reinaldo.
Luiz contou que Rodrigo lhe procurou para recuperar a propina paga a Polaco. Ele receberia R$ 30 mil pelo serviço. Outros integrantes do grupo contaram que dividiram R$ 70 mil e devolveram os R$ 200 mil restantes para o arquiteto do roubo.
O caso mobiliza policiais civis, militares e promotores e não tinha sido publicado por nenhum jornal de Campo Grande.
Já a história envolvendo Puccinelli foi publicado por praticamente todos os meios de comunicação.
Conforme da denúncia, a Polícia Federal recebeu por meio de denúncia anônima da existência de arquivos e documentos do ex-governador em uma quitinete alugada no Indubrasil, na saída para Aquidauana, e a 15 quilômetros do Centro.
No local, há 15 casas para alugar, mas apenas uma conta com morador. A suposta quitinete usada por André não tinha qualquer tipo de segurança, estrutura para guardar documentos valiosíssimos envolvendo um dos maiores escândalos de corrupção da história do Estado, a Operação Lama Asfáltica, que apura desvio de R$ 300 milhões.
Os policiais encontraram a maquete do Aquário do Pantanal, a obra faraônica que custou R$ 234 milhões e também é investigada por desvio de recursos públicos. A descoberta ocorreu na sexta-feira, véspera do “elefante branco” ser destaque no Jornal Hoje, telejornal matutino da TV Globo.
As duas histórias parecem surreais. O governador e o filho negam qualquer ligação com o suposto roubo na BR-262 e classificam a história como “estranha”.
Puccinelli também negou ser o responsável pela locação do espaço no Indubrasil, segundo o Top Mídia News. O locatário, que poderia esclarecer, disse, em entrevista ao Campo Grande News, que não se lembrava do nome de quem alugou, mas frisou não conhecer o ex-governador.
Resumindo e sendo claro, Reinaldo e André insinuam que são vítimas de armações.
Se for considerar que o tucano é monitorado pela Polícia Federal, considerando-se a investigação sigilosa que tramita no STJ relativo ao suposto pagamento de R$ 38,4 milhões em propinas pela JBS, seria muita ousadia manter suposto esquema de corrupção.
O mesmo ocorre com Puccinelli,que é alvo de megainvestigação desde 2015, e se arriscaria em deixar documentos importantíssimos em uma quitinete sem qualquer vigilância e estrutura. Se quisesse esconder documentos, o ideal seria atear fogo ou picá-los, como reza a lenda de que muitos fazem na política sul-mato-grossense.
Fatos como malas com R$ 51 milhões
As investigações de corrupção no Brasil estão desvendando coisas que nem o mais criativo entre os escritores de ficção conseguem imaginar:
- nove malas e caixas com R$ 51 milhões em dinheiro vivo no bunker do ex-ministro Geddel Vieira Lima;
- o assessor do deputado José Guimarães (PT) foi preso com dinheiro na cueca em 2005
- o senador Aécio Neves (PSDB) registrou telefones celulares em nome de laranjas para fazer ligações clandestinas
- governador do Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), é investigado por montar central para grampear adversários e aliados. Cerca de 70 mil interceptações foram feitas