O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), preso e condenado a 14 anos por corrupção, mantinha uma bancada própria de parlamentares mediante o pagamento de propina e mesada. No entanto, o seu principal defensor no legislativo, Carlos Marun (PMDB), só lhe foi fiel porque ganhou um “estofo”, gíria para agrado ou gorjeta simbólica , para ser um deputado mais atuante.
Esta informação consta da delação do economista Lúcio Bolonha Funaro, operador do PMDB e preso no presídio da Papuda, em Brasília. No acordo de colaboração premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal, ele revela como agia a suposta organização criminosa comandada pela cúpula do PMDB, que era integrada por Cunha, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e o presidente da República, Michel Temer (PMDB). Com exceção do presidente, os demais estão presos.
Desde 2003, quando se desligou do grupo do ex-governador do Rio de Janeiro, Antony Garotinho, Cunha passou a ter uma bancada de deputados de vários partidos, como PMDB, PP, PT, DEM e PR.
Para manter a fidelidade do grupo, ele dividia a propina obtida por meio dos vários esquemas de corrupção, segundo Funaro.
Em depoimento no dia 23 de agosto de 2017 à Força-Tarefa da Greenfield, do Ministério Público Federal, ele revelou que Cunha arrecadou de R$ 80 milhões a R$ 90 milhões em 2014 para financiar a campanha eleitoral dos aliados em vários estados brasileiros.
Ele contou que a JBS abriu uma linha de crédito de R$ 30 milhões para patrocinar as campanhas dos candidatos aliados de Cunha nos Estados. Deste montante, Funaro teria emitido R$ 10 milhões em notas, enquanto o restante foi repassado em dinheiro diretamente a Cunha.
O ex-presidente da Câmara mantinha a fidelidade dos deputados por meio de mesadas pontuais ou de relatorias.
Conforme o operador do PMDB, o grupo transformou o Congresso em um verdadeiro mercado persa. Eles aproveitavam a relatoria para incluir mudanças que beneficiam quem pagava propina.
O dono da Gol, Henrique Constantino, por exemplo, contou com o apoio do grupo para reduzir o ICMS sobre o querosene de aviação de 25% para 15%.
Por outro lado, Lúcio Funaro não incluiu o pit bull de Cunha entre os beneficiados pelo propinoduto do ex-deputado.
Cunha recebeu ajuda de Marun quando ele era secretário estadual de Habitação, na gestão de André Puccinelli (PMDB), e lhe apoiou para assumir a liderança do PMDB na Câmara. O sul-mato-grossense teria buscado apoio na bancada do Estado.
“Ele deu ‘estofo’ para o Carlos Marun ser um deputado pro ativo”, contou o delator, sem especificar quais eram os agrados feitos por Cunha para conquistar a fidelidade canina do gaúcho.
Para sacramentar o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Cunha obteve R$ 1 milhão de Funaro. Só o deputado Anibal Gomes, do grupo do senador Renan Calheiros, recebeu R$ 200 mil para votar pela cassação da petista, mas faltou à sessão e irritou o ex-deputado.
Marun ficou famoso ao defender Eduardo Cunha até a sua cassação e prisão. Aliás, ele protagonizou outra polêmica, ao usar a verba do gabinete para visitar o amigo, preso em Curitiba, na véspera do Natal do ano passado.
Agora, com a delação premiada de Lúcio Funaro, se for verdade, explica-se porque Marun acreditou na inocência de Cunha até o fim: o peemedebista comprou e ofereceu propina para todo mundo, menos para o sul-mato-grossense.
No momento, o deputado é o principal defensor de Michel Temer, acusado de chefiar uma organização criminosa, obstrução da Justiça e de corrupção passiva.
No entanto, o montante de emendas federais liberadas neste ano pelo presidente para os deputados de oposição, como Vander Loubet (PT) e Dagoberto Nogueira (PDT), é superior ao disponibilizado para Marun.
O deputado peemedebista parece que é o único que age por amor no Congresso Nacional. Agora, será que tem o mesmo amor pelo povo que o elegeu?
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