O vídeo e as entrevistas de três empresários, inclusive de um presidente da associação do setor, divulgadas pelo Fantástico, reforçam a denúncia do empresário Wesley Batista, dono da JBS, de que há cobrança de propina para concessão de incentivos fiscais na gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB). A situação fica mais delicada com a reação do Governo ao caso.
Ao saber da gravação, um mês depois, os envolvidos registraram boletim de ocorrência para se precaver sobre eventual vazamento. No entanto, cabeça coroada acreditou no vídeo – que hoje tenta desacreditar – e exonerou o amigo de décadas. O governador demitiu Sérgio de Paula em março, que até então, era o mais poderoso e influente dos secretários.
E a situação pode ficar pior, porque há mais vídeos e envolvendo quem ainda não foi citado nem atingido pela crise de valores.
Inicialmente, o governador foi arrastado para o maior escândalo de corrupção do País, a Lava Jato. Em delação homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da operação no Supremo Tribunal Federal, três executivos da JBS, os irmãos Joesley e Wesley e Ricardo Saud, detalham o pagamento de propina de R$ 38,4 milhões diretamente ao governador do Estado, Reinaldo Azambuja.
Ele manteve o esquema dos antecessores, André Puccinelli (PMDB) e Zeca do PT, de só conceder incentivos mediante o pagamento de propina. Só que o tucano não delegou a função a ninguém, no caso da poderosa multinacional da carne, e executava pessoalmente a negociação da propina. Reinaldo, segundo os delatores, entregava as notas falsas (R$ 28,4 milhões) e recebia o dinheiro. E tudo era acertado na Governadoria.
Este caso será investigado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Na gravação, Wesley deu a deixa, de que a prática atingia todas as empresas do ramo de frigoríficos e curtumes, dos pequenos aos grandes.
O governador e aliados decidiram partir para o primeiro ataque, desqualificar os irmãos Batista, donos de frigoríficos e da Eldorado, maior fábrica de celulose do mundo, que seriam “bandidos”.
Após o Fantástico deste domingo, que fez o sul-mato-grossense acompanhar o programa da TV Globo como se tivesse em final da Copa do Mundo, descobrimos que há mais vítimas da extorsão. Ou seria mais bandidos?
Dono da empresa Braz Peli, que investiu R$ 4 milhões em 2014 no Indubrasil, em Campo Grande, para criar 150 empregos diretos, José Alberto Miri Berger, denunciou que só manteve os incentivos mediante o pagamento de R$ 500 mil, divididos em duas parcelas de R$ 250 mil.
O dinheiro foi pago após ele conversar diretamente com o governador, que o encaminhou ao secretário Sérgio de Paula. Com o pagamento feito, o secretário estadual de Fazenda, Márcio Monteiro, reativou o regime especial e manteve o incentivo.
Assim como a JBS contou, o grupo não ficou satisfeito e voltou a cobrar propina mensal de R$ 150 mil para manter o incentivo. O empresário se revoltou e decidiu gravar a entrega do dinheiro em 8 de dezembro do ano passado. Ele gravou o encontro com o corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, no qual paga a propina de R$ 30 mil, que teria sido entregue a Sérgio de Paula.
Na conversa, Polaco destaca que levaria o dinheiro para a Governadoria, mesmo local onde eram pagas as supostas propinas da JBS.
Com não aceitou pagar a propina mensal, a Braz Peli perdeu o incentivo em abril, conforme a resolução 2.823, assinada por Márcio Monteiro. Ele recorreu à Justiça e conseguiu liminar para voltar a ter direito ao benefício no dia 9 deste mês.
Além de o governador acusar o empresário de caloteiro e bandido, mesmo discurso usado contra os Batista, o Governo recorreu ao Garras (o grupo de elite da Polícia Civil) para desqualificar o caso. O delegado Edilson dos Santos teria ouvido Polaco em janeiro deste ano, mas como vítima do empresário.
Um amigo de Polaco, Zelito Alves Ribeiro, coordenador da Casa Civil para a região de Aquidauana, também prestou depoimento para acusar Berger de armação. Ambos negam que tenha sido solicitado contrapartida financeira, apesar da entrega do dinheiro e de Polaco ter dito que entregaria o dinheiro ao chefe da Casa Civil.
O estranho da história é que o boletim de ocorrência só vazou depois da divulgação do escândalo no Fantástico e, cinco meses depois, o delegado ainda não concluiu o inquérito sobre as gravações.
O Fantástico ainda apresentou o depoimento do segundo empresário, Benílson Tangerino, dono de frigorífico, que denunciou ter negociado diretamente com Sérgio de Paula o pagamento de R$ 300 mil em propina.
Tangerino diz ainda que o Governo exigiu o pagamento de R$ 150 mil por mês para manter os incentivos. Ou seja, é o terceiro dono de empresa a acusar a gestão Azambuja de cobrar vantagens indevidas em troca de benefícios fiscais.
O Fantástico ainda ouviu o presidente da Assocarnes, a associação dos frigoríficos no Estado, João Alberto Dias, que confirmou a negociação de vantagens indevidas em troca de incentivos. “Não tem cabimento a gente pagar propina para governo, não justifica”, lamentou o dirigente em entrevista ao programa global.
Os vídeos e os empresários vão reforçar a denúncia da JBS, que já é investigada pela Procuradoria Geral da República, em Brasília. E Reinaldo será investigado pelo STJ, onde possui foro privilegiado.
A gravação foi a causa da queda de Sérgio de Paula em março. Na época, o governador não desmentiu as denúncias de que houve cobrança de propina no Governo.
O ex-chefe da Casa Civil apareceu na semana passada e comandou, ao lado de Reinaldo Azambuja, a reunião para falar sobre a delação da JBS aos deputados estaduais. Foi neste encontro, que o tucano recolheu os celulares de todos os participantes do encontro.
Em nota divulgada pelo Fantástico, Sergio de Paula nega as irregularidades.
Só um fato curiosíssimo, porque o Governo não divulgou a história de que o Garras investiga o vídeo desde janeiro deste ano no Fantástico?
Como o MPE (Ministério Público Estadual) e o Tribunal de Contas já atestaram, antes de investigar, a absoluta certeza de que o governador é inocente, vamos aguardar as investigações de Brasília para saber quem são os bandidos desta história.
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