A Justiça federal homologou um acordo sobre demarcação de terras entre a comunidade indígena Kurupi Santiago Kue, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e proprietários da Fazenda Tejuí, localizada às margens da BR-163, em trecho que liga as cidades de Juti e Naviraí. Pela proposta, os índios passarão a ocupar área de 39,83 hectares da propriedade.
O conflito teve início em 2014, quando famílias de Guarani e Kaiowá, cansadas de esperar por uma definição, ocuparam parte do território considerado sagrado. Desde então, os indígenas sofrem ameaças de “jagunços” e “pistoleiros”, com o risco de serem despejados.
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O acordo foi celebrado pelo juiz federal Rodrigo Vaslin Diniz, da 1ª Vara Federal de Naviraí, e pacifica o conflito fundiário iniciado há nove anos, com uma ação de reintegração de posse movida pelos fazendeiros.
Ao analisar o processo, o magistrado considerou o exercício da posse pelos fazendeiros e a existência de terra tradicional indígena.
“Calha afirmar que se está diante de um caso complexo, com dois direitos fundamentais em aparente conflito, exigindo uma solução ponderada, justa, efetiva e que exija a cooperação de ambas as partes”, explicou.
Em setembro de 2022, a vara federal havia deferido tutela provisória de urgência antecipada e determinado que enquanto o procedimento de demarcação não fosse concluído, as partes deveriam respeitar os limites do acordo firmado em 2014.
No entanto, em março deste ano, o proprietário ingressou com um pedido para que os indígenas cumprissem a decisão liminar.
O magistrado ressaltou que com a ocorrência de incidentes entre as partes no final de 2022 e início de 2023, a Funai, o Ministério da Justiça e o Ministério dos Povos Indígenas foram oficiados para que tivessem ciência da situação e adotassem diligências com o objetivo de acelerar os estudos demarcatórios.
Como saída paralela, em 12 de junho de 2023, foi designada inspeção judicial para conhecimento da área. O juiz federal Rodrigo Vaslin Diniz esteve na propriedade.
“Este juízo foi muito bem recebido por ambos os lados e pôde compreender mais de perto as agruras do conflito”, afirmou o magistrado.
No dia 29 de junho 2023, o proprietário da fazenda, a comunidade indígena, a Funai, o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) participaram de audiência de conciliação.
A comunidade indígena trouxe a proposta de explorarem, além da área ocupada, mais 75 hectares. Os proprietários não aceitaram e se dispuseram a ceder até mais 25 hectares.
Na sequência, o magistrado incentivou as partes a negociarem uma solução, ressaltando a importância do resultado para melhor qualidade de vida de todos os envolvidos. Após cinco horas de tratativas, foi firmado um acordo.
Com a proposta, 39,83 hectares da terra serão explorados pelos indígenas, após a colheita do feijão, estimada para julho de 2023. Além disso, o proprietário da fazenda, acompanhado de representante das partes, funcionário da Funai e da polícia, fará o traçado do mapa sobre os limites da área.
Os envolvidos deverão respeitar o acordo de forma pacífica. Em caso de descumprimento, haverá a apuração das responsabilidades e imposição de sanções legais.
Os indígenas permanecerão na área a título de comodato. Caso não sejam cumpridas as condições, retornarão para a área delimitada na decisão liminar.