Apesar de o número de doses não ser suficiente para contemplar os integrantes do grupo de risco, como profissionais de saúde, idosos, índios e portadores de comorbidades, o prefeito Valdir Couto de Souza Júnior (PSDB), de Nioaque, tomou a vacina contra a covid-19. Com 37 anos de idade, ele é o primeiro a ser investigado pelo Ministério Público Estadual por ter furado a fila em Mato Grosso do Sul.
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Em nota à imprensa, divulgada na tarde desta quinta-feira (21), o tucano admitiu que foi imunizado contra o coronavírus, que já infectou 484 pessoas e matou 10 no município de 13,8 mil habitantes. Ele alegou que tomou a vacina a pedido dos caciques da Aldeia Brejão e técnicos da Secretaria Especial de Saúde Indígena para incentivar a imunização no povoado.
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Júnior explicou que os moradores estavam resistentes à campanha nacional de vacinação. O objetivo era mostrar que a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a Sinovac, não oferece riscos à saúde. No mesmo dia, outros 69 índios foram imunizados.
Após receber a denúncia, o MPE instaurou procedimento para apurar a notícia de fato. Nesta sexta-feira, sete pessoas foram intimadas para prestar depoimento sobre a denúncia contra o prefeito.
Valdir Júnior é odontólogo e foi empossado para o segundo mandato no dia 1º de janeiro deste ano. Além de não atuar em nenhum hospital do município, ele não faz parte do grupo de risco.
Em nota publicada ontem, o Ministério Público Federal alertou que a vacinação deve priorizar os trabalhadores em saúde mais vulneráveis à covid-19, como: idosos, transplantados, portadores de comorbidades ou doenças crônicas (hipertensão de difícil controle, diabetes mellitus, doença pulmonar crônica, doença renal, doenças cardiovasculares, câncer, anemia falciforme, obesidade grave) e mais expostos à infecção do novo vírus. (veja a nota)
“O desvio de vacinas, por qualquer agente público, para finalidade não previstas pelas autoridades sanitárias pode configurar crime de peculato (apropriação, por funcionário públcio, de dinheiro, valor ou qualquer outro bem imóvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio)”, alertou a Procuradoria-Geral da República. A pena pode chegar a 12 anos de prisão.
Já houve abertura de inquérito para apurar a má distribuição da vacina no Amazonas, em estado de calamidade com a falta de oxigênio, e no Distrito Federal. Em Manaus, gêmeas milionárias teriam sido nomeadas para trabalhar em unidades de saúde só para receberem a Coronavac.
Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, Nioaque recebeu 872 doses para imunizar 392 pessoas. Nesta fase, o público alvo é formado por 972 pessoas. Ou seja, as doses entregues nesta semana só vão cobrir 42% do público alvo.
A Secretaria Estadual de Saúde e o MPE vão iniciar campanha para a população denunciar quem furar a fila da vacina. Cada dose aplicada exige controle rigoroso do Ministério da Saúde “Ponto importantíssimo repassado aos municípios foi quanto a questão do registro das vacinas nos sistemas de informação do Ministério da Saúde, que adotou medidas rígidas para o controle e estoques”, alertou a pasta.
“Assim, no Sistema de Informação – RV, os municípios deverão fazer o registro da dose aplicada da vacina nominal/individualizado. O reconhecimento do cidadão vacinado será feito pelo CPF ou CNS. Os registros das doses aplicadas deverão ser feitos no Novo SI-PNI – online ou em um sistema próprio que interopere com ele”, alertou.
Há boatos de que a fila não teria sido furada apenas pelo prefeito de Nioaque. Profissionais de outras categorias, que não fazem integram o público alvo na primeira fase, também teriam sido contemplados na Capital e no interior.
O prefeito furou a fila no momento em que a pandemia da covid-19 faz vítimas entre políticos. O ex-prefeito de Dourados e ex-deputado estadual Humberto Teixeira morreu aos 82 anos na madrugada de ontem. O vice-governador Murilo Zauith (DEM) testou positivo, mas não apresenta sintomas.
O deputado estadual Onevan de Matos (PSDB) morreu durante a campanha para a prefeito de Naviraí. O prefeito de Ivinhema, Juliano Ferro (DEM) perdeu o pai e foi internado nesta semana.
As denúncias podem ser feitas no site do Ministério Público ou pelo telefone da Ouvidoria 127.
Tucano acabou virando símbolo para incentivar vacinação em aldeia
Em nota, o prefeito de Nioaque, Valdir Júnior, explicou porque tomou a vacina. Enquanto autoridades buscaram personagens para incentivar a vacinação, o tucano decidiu tomar a vacina para incentivar a vacinação na aldeia indígena do município.
Ele ainda afirmou que é “profissional da área de saúde” e “atua na linha de frente da pandemia. Confira a nota na íntegra:
“Nota à imprensa
O prefeito de Nioaque, Valdir Júnior, vem a público informar que tomou a vacina contra a Covid-19 no último dia 19 de janeiro, na Aldeia Brejão, a pedido dos caciques da comunidade indígena e de técnicos da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) com objetivo de incentivar a vacinação no povoado, que estava resistente à imunização, e mostrar que a vacina não oferece riscos de saúde. No mesmo dia em que o prefeito foi vacinado, apenas 69 indígenas aceitaram receber o antivírus.
Valdir Júnior reforça que é profissional da área da Saúde, atua na linha de frente da pandemia e, ainda, é membro da Coordenação de Vigilância Sanitária do município de Nioaque, conforme mostra o Decreto 006/PROCJUR/2020 publicado em Diário Oficial.
Nioaque, 21 de janeiro de 2021”