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    Indomável, a incrível história do negro pobre e abandonado que virou juiz e secretário

    Edivaldo BitencourtBy Edivaldo Bitencourt29/06/202510 Mins Read
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    Aos 88 anos e uma história incrível, Aleixo Paraguassu não se conforma com a desigualdade social: os políticos deveriam ter vergonha (Foto: O Jacaré)

    As adversidades da vida, o racismo, a pobreza, o abandono na infância, o pai brutal e a mãe distante até os 17 anos nunca foram empecilhos ao mineiro Aleixo Paraguassu Netto, 88 anos. Ao longo de quase nove décadas, apesar de ter sido um menino pacato, triste e quieto, ele sempre foi muito determinado em tudo que fez e construiu uma história incrível e inacreditável.

    Do 13º andar no apartamento no Jardim dos Estados, um dos bairros mais nobres da Capital, ele admite que teve grandes méritos para vencer na vida, como se tornar o primeiro juiz negro no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

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    Casado há 66 anos com Maria Paraguassu, o amor da sua vida, ele atribui parte das conquistas à esposa. “Ela foi o esteio da minha vida”, elogia. Entre namoro, noivado e casamento, o casal está junto há 68 anos.

    Dr. Aleixo ingressou na magistratura por meio de concurso público em 1973. Ele foi secretário estadual de Justiça e Segurança Pública na gestão de Wilson Barbosa Martins (MDB). Comandou a Secretaria Estadual de Educação em duas ocasiões, nas administrações de Marcelo Miranda (MDB) e de Wilson Martins (2º mandato).

    Da infância extremamente pobre em Belo Horizonte a um homem com história respeitada, Dr. Aleixo sabe que sua história pode servir de inspiração para outros. No entanto, ele faz uma ressalva ao citar o filósofo norte-americano Michael Sandel, autor do livro “A Tirania do Mérito – O que aconteceu com o bem comum?”. “Não se pode aferir o mérito de pessoas que partem de patamares diferentes”, reconhece.

    Um negro determinado

    Aleixo ficou com o pai após a separação do casal. No entanto, o patriarca era muito bruto e não tinha compaixão nem piedade dos filhos. Ele deu o Aleixo para uma mulher criar e sua irmã para outra. Aos 5 anos, o pai o tomou de volta e o internou em uma escola agrícola, onde permaneceu até os nove anos de idade.

    No colégio, onde trabalhava na lavoura, Aleixo teve o primeiro contato com um racista. O chefe do pavilhão, onde dormiam de 100 a 120 crianças, costumava bater nos estudantes rebeldes. Já os negros eram tratados com nojo. “Ele batia em alunos brutalmente e depois lavava as mãos com álcool na frente de todo mundo e deixava claro que isso era porque o estudante era negro”, relembra.

    O pai o tirou da escola e o levou para São Paulo. “Meu pai era muito bruto, tratava aos sopapos e pontapés”, relembra, destacando que sempre foi um menino triste e quieto. Aos 12 anos, ele deixou a casa, onde o pai morava com a madrasta, chegou a passar uma noite na rua até arrumar uma pensão, onde passou a morar e custeava com o primeiro emprego. Na época, crianças podiam trabalhar e com registro em carteira.

    Ele reencontrou a mãe aos 17 anos e começou a trabalhar com 12 anos (Foto: O Jacaré)

    Aos 17 anos, Aleixo decidiu voltar para Belo Horizonte e descobriu que a mãe estava viva. Ele achava que o deputado constituinte Aleixo Paraguassu era seu avô. Só foi seu padrinho. No entanto, não lhe passaram o endereço da mãe porque ela temia o encontro com o ex-marido.

    Pouco tempo depois, ela escreveu e revelou que estava morando no Rio de Janeiro. Casada novamente, ela acolheu o filho. “Meu padrasto era extremamente bom”, contou, lamentando que a convivência durou apenas dois anos, até a morte do novo esposo da mãe. Pouco depois, Aleixo conheceu Maria, com quem se casou aos 22 anos.

    Ele decidiu retomar os estudos e concluiu o ensino médio, chamado na época de ginásio. Durante 15 anos, Aleixo Paraguassu foi militar do Exército, onde fez carreira e chegou a 2º sargento.

    O vestibular

    Casado e trabalhando, ele decidiu entrar na universidade. Após percorrer 30 quilômetros, do Realengo, no Rio de Janeiro onde morava, até a Faculdade Nacional de Direito (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), ele chegou atrasado e os portões já estavam sendo fechados. O médico Hélio Gomes, referência na época, era o diretor da faculdade e xingou os atrasados. “Seus vagabundos, vocês estão atrasados, voltem”, teria dito.

    Biografia conta a história de Dr. Aleixo: livro foi lançado neste mês

    Aleixo não titubeou e enfrentou o diretor. “Sou casado, pai de dois filhos, cheguei atrasado porque o trem não tem horário certo e não sou vagabundo”, desafiou. “Gostei da sua atitude”, teria reagido o médico, que permitiu a entrada para fazer a prova. Ele foi aprovado e fez o curso de Direito.

    Formado, ele fez cinco concursos públicos e foi aprovado em quatro. O primeiro foi para delegado da Polícia Civil de Brasília, onde assumiu e trabalhou por quatro anos. Em 1973, ele fez o concurso para juiz em Cuiabá (MT). Na época, dos 300 inscritos, apenas cinco foram aprovados, inclusive Aleixo Paraguassu.

    Para o juiz aposentado, a sua trajetória é uma mistura de sorte e empenho. “Sempre fui muito determinado no que fiz”, frisa. “Era obsessivamente entregue ao que fazia”, gaba-se.

    O pistoleiro e a coragem

    Como juiz do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, ele assumiu a comarca de Rio Brilhante, a 150 quilômetros de Campo Grande. O primeiro desafio foi condenar um pistoleiro, que não gostou da sentença e prometeu matar a parte, o advogado e o juiz. Grávida de 8 meses, mulher foi assassinada junto com a testemunha, o namorado, em Campo Grande, em um sábado.

    Apesar das ameaças, Aleixo Paraguassu voltou para Rio Brilhante na segunda-feira seguinte. O pistoleiro montou campana na frente do hotel e depois do Fórum. No fim do expediente, o escrivão pegou o juiz e levou à Polícia Federal na Capital. A PF pediu permissão ao então ministro da Justiça, Armando Falcão, para prender o pistoleiro. No entanto, como a prisão não foi em flagrante, o criminoso foi solto em seguida.

    O pistoleiro teve uma outra oportunidade de matar o juiz. Quando Aleixo Paraguassu voltava para a Capital, o pneu do carro furou e ele foi obrigado a parar para trocar o pneu. O pistoleiro viu o momento oportuno para executar a ameaça. Só não matou o juiz porque os policiais federais deixaram claro que se o magistrado fosse assassinado, eles caçariam o pistoleiro e toda a sua família. A história foi revelada anos depois pelo advogado Plínio Rocha, que foi secretário da Casa Civil.

    Os casos de racismo enfrentado por Dr. Aleixo viraram até lenda em MS (Foto: O Jacaré)

    Crioulo metido a entender de lei

    Fundador do Grupo TEZ (Estudos e Trabalho Zumbi) em 1985, movimento negro pioneiro no combate às desigualdades, ele sentiu na pele o racismo. Há caso que até virou lenda no Estado e cada um conta de um jeito, quando ele foi parado por policiais na rodovia e teria sido chamado de “negão”. “Não foi bem assim”, avisa. Em seguida dá sua versão da história.

    Em julho de 1974, logo após assumir o cargo de magistrado, ele foi designado para atender em Maracaju. No caminho, a PM o parou e pediu o documento. Com a mão no coldre do revólver, o policial reparou nos códigos Penal e do Processo Civil levados para colocar no Fórum. “Tu é vendedor de livro?”, questionou o policial.

    Aleixo pegou a carteira de juiz e entregou ao PM. “Ele nem abriu e começou a me prestar continência. Falou porque não disse quem era. Eu contei que fui delegado em Brasília e lá eles tinham o hábito de falar ‘sabe com quem está falando’”, relembrou.

    Outro episódio ocorreu em Bataguassu, onde dormia em um hotel no posto de combustíveis. Policiais paranaenses o acordaram por chutar a porta do quarto 5h. Ele acordou, abriu a janela, exigiu respeito, falou que a lei do silêncio era até às 6h.

    No restaurante, durante o café, um dos policiais comentou com o garçom: “que o crioulo era metido a entender de lei”. “Ele entende de leis, é o juiz da cidade”, o garçom respondeu. Os policiais iriam despachar uma carta precatória com Dr. Aleixo e ficaram com medo da sua reação. A cartorária pegou o documento e o juiz assinou. “Deixe eles ficarem pensando que estou bravo”, comentou na ocasião.

    “Sempre tive o sonho de ser juiz, talvez por ter sido alvo de tantas injustiças. Ser juiz para fazer justiça”, conta.

    No Governo, entre êxitos e fracassos

    Como secretário de Segurança, ele diz que fez uma revolução, mas frustrou-se como titular da Educação (Foto: O Jacaré)

    Em 1982, na primeira eleição para governador durante a Ditadura Militar, Aleixo acabou sendo designado para ser juiz eleitoral no pleito. Na época, havia boatos de que Fahd Jamil, o famoso e lendário Rei da Fronteira, mandaria pistoleiros para melar a apuração. O pleito foi tranquilo, mas Dr. Aleixo acabou ganhando a oportunidade de virar secretário estadual de Segurança Pública.

    “Na segurança, eu consegui fazer verdadeira revolução”, gaba-se. Um dos feitos foi acabar com as indicações políticas e preencher as vagas de policiais civis por meio de concurso público. Antes, era comum policiais trabalharem com o próprio revólver.

    “Quando institucionalizei, o compromisso passou a ser com a lei”, lembra, e não com os padrinhos políticos. Também citou a transformação do Detran em autarquia, a estrutura que existe até hoje.

    Já na Secretaria Estadual de Educação, pasta que comandou nas gestões de Marcelo Miranda e Wilson Martins, Aleixo Paraguassu Netto admite que não teve um bom desempenho. “Na Educação, não fiz muito, confesso, frustrei-me muito por isso”, resigna-se.

    “A educação é prioridade nas eleições (na campanha eleitoral). Passado (a eleição), é relegada a desimportância”, lamenta.

    Extremamente inconformado com a injustiça social

    Apesar da história de um vencedor, Dr. Aleixo sempre se sensibiliza com a miséria e a pobreza no País. “Sou extremamente inconformado coma injustiça social no Brasil”, conta. “É vergonhoso, a classe política deveria ter vergonha”, prega.

    “Não me conformo em viver em um apartamento desse (sobre a sua casa, no 13º andar em um dos bairros mais nobres e caros da Capital) e olhar para o lado ver pessoas em barros miseráveis”, revolta-se. “Isso não é comunismo, é sentimento de visão humanitária”, reage, sobre a polarização política no Brasil em que nem sempre ajudar os pobres ou fazer justiça social é bem aceito por parte da sociedade.

    Para Dr. Aleixo, apesar dos avanços, o racismo ainda é latente na sociedade brasileira. Defensor da política de cotas nas universidades e no serviço público, ele disse que há muito ainda a ser feito.

    “Em algumas atividades, a economia é fechada para o negro”, avalia. Cita profissões mais nobres, como médico e engenheiro, que não possuem negros. “Não conheço até hoje um fazendeiro negro”, critica.

    No início do mês, Helen Suzuki e Rachel Anderson lançaram a biolgrafia do juiz aposentado: “Vontade Indomável – a história de Aleixo Paraguassu”.

    Sempre fui determinado em tudo que fiz, gaba-se o primeiro juiz negro em MS (Foto: O Jacaré)

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