Buracos nas ruas e avenidas, obras paradas e o colapso na Santa Casa de Campo Grande, o maior hospital do Estado, marcaram os 100 dias do segundo mandato da prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP). A sensação do campo-grandense foi de viver um pesadelo desde a reeleição da progressista, a primeira mulher eleita na história da Cidade Morena.
A situação de caos levou 55% da população, de acordo com o Instituto Ranking Brasil Inteligência, classificar a atual gestão como ruim ou péssima. Apenas 24% avaliam como ótima/boa. No geral, 70% reprovam a atual gestão, enquanto 26% aprovam.
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Preocupada com o mau humor do eleitor, a prefeita iniciou ofensiva nesta semana com a força-tarefa com o objetivo de tapar de 1,5 mil a 2 mil buracos por dia. Também começou a retomar a limpeza e o corte de grama, o trabalho da zeladoria, que estavam suspensos, segundo a prefeitura, por causa das chuvas de verão.
A maior parte das obras de pavimentação, lançadas antes das eleições do ano passado, pararam no início do ano. No Bairro Nova Lima, o mais populoso da Capital, as empreiteiras ainda não retomaram o asfalto das vias.
As chuvas transformaram as ruas da Chácara dos Poderes em verdadeiro rally nos trechos trafegáveis. Crateras enormes exigem manobras de filme dos moradores para não ficarem atolados.
Caos na saúde
A falta de vagas nos hospitais e falta de remédios nos postos de saúde voltaram a atormentar o campo-grandense. O ápice da crise ocorreu com a suspensão das cirurgias na Santa Casa, que virou caso de polícia. Médicos registraram boletim de ocorrência para alertar de que 70 doentes internados corriam risco de morte ou de ficar com sequelas em decorrência da falta de insumos e medicamentos.
Sem crédito na praça, com déficit mensal de R$ 13 milhões, o hospital recorreu à Justiça para receber R$ 46 milhões da prefeitura. No entanto, a prefeita recorreu para não pagar e conseguiu liminar do desembargador Sérgio Fernandes Martins, do Tribunal de Justiça, para não pagar nem ter o dinheiro sequestrado pela Justiça.
De acordo com o Campo Grande News, levantamento do Conselho Regional de Odontologia mostrou que metade das unidades de saúde dotadas com consultórios de dentista não está funcionando porque os equipamentos estão parados por falta de manutenção.
Feminicídio
O feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte expôs de forma cruel a falha no atendimento da Casa da Mulher Brasileira, gerida pela prefeitura. Ela foi pedir socorro duas vezes, mas teve o pedido de escolta negado e, ao retirar o agressor de casa, foi brutalmente assassinada em fevereiro. A Patrulha Maria da Penha não foi nem acionada para acompanhar a jornalista.
Outro ponto negativo para Adriane foi o desmoronamento da pista de caminhada, ciclovia e parte da Avenida Filinto Muller no Lago do Amor. A obra da prefeitura, que custou R$ 2,8 milhões e foi realizada por uma empresa contratada sem licitação, não aguentou dois anos. Desabou após um ano e meio.
Faltou administração
Ex-prefeito da Capital e responsável por indicar Adriane para assumir a prefeitura, o vereador Marquinhos Trad (PDT) não economiza palavras para definir o início do segundo mandato. “Não foram cem dias, mas sem nenhum dia de administração. Tomaram posse e desapareceram da cidade. Só pode!”, lamentou o pedetista.
“Saúde em frangalhos, ruas furadas de descaso, nenhum planejamento, nenhuma ação efetiva, nenhuma coordenação de macro política estruturante, nada de estratégia de curto, médio e longo prazo. Uma lástima! Pior, impossível!”, fuzilou o vereador.
Por outro lado, o presidente da Câmara Municipal, Epaminondas Neto, o Papy (PSDB), afirmou que “não tem muito de excepcional” e “poucas coisas para se comemorar” nos 100 dias. No entanto, o tucano disse que reconhece o esforço da prefeita e da sua equipe, apesar dos problemas financeiros do município.
O vereador destacou ainda que a cidade sofreu muito com o clima e por causa das chuvas, que teriam demonstrado “os problemas de Campo Grande”. Ele citou ainda o “caos na saúde”. “Eu reconheço o esforço da prefeitura, mas entendo a população de Campo Grande, que neste início de ano, (a administração de Adriane) deixou um pouco a desejar”, pontuou.
Após 100 dias, prefeita dará metas
Empossada no dia 1º de janeiro deste ano, Adriane Lopes vai reunir o secretariado nesta sexta-feira (10) para fazer um balanço e apresentar uma outra realidade à população. “Esses 100 dias foram um momento mais interno da gestão, onde nós trabalhamos a administração e a gerência de tudo isso, tendo em vista que nós entramos o ano com uma reforma prioritária muito importante, uma reforma administrativa dos dois anos e oito meses que eu estive prefeita. Fiz uma anamnese da cidade e a gente conseguiu fazer o levantamento da necessidade da cidade”, pontuou Adriane.
Por meio da assessoria, a prefeita informou que a partir de hoje, três meses e dez dias depois da posse, vai tirar do papel a promessa de definir as metas de cada secretário. “É uma carta com o impacto que isso vai gerar para a cidade dentro do planejamento, seguindo o plano de governo, que é uma carta de intenções com a população que eu como prefeita me comprometi no TRE-MS e me comprometi com a população de Campo Grande”, prometeu.
“Com isso, os secretários também vão ter que se comprometer com a gestão e com o resultado que eles terão que dar a partir desses 100 dias executando todo o planejamento”, anunciou. A esperança do cidadão é de que realmente, a partir de hoje, a situação melhore e a Capital volte a viver dias melhores.