Mário Pinheiro, de Paris – É impossível meditar a história recente do Brasil sem considerar a covardia de uns e a coragem de outros. Quem teve coragem de se opor, de se manifestar, de gritar por direitos, de denunciar, ser acusado de pertencer a grupos radicais e de sofrer nos porões da ditadura com o pior tipo de tortura, sempre teve o ideal da democracia pela frente.
Os da covardia se escondiam sob o uniforme verde oliva, riam amarelo como se fossem donos do terreiro. Mas o pior, pior é que com o fim do período autoritário, tudo estava conchavado para não punir os malditos torturadores. Não há o que celebrar nesta data fúnebre e sombria, o 31 de março.
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Recentemente, no berço esplêndido do “punhal verde e amarelo” a tentativa era resgatar a vagabundagem de gente que jamais pensou em trabalhar pelo bem da nação, mas dar ordens, meter o coturno no traseiro dos oponentes e repetir o que fizeram a partir do golpe de 1964, prender, matar, enterrar clandestinamente, depois fazer papel de justo.
O mandato do ex-presidente não abriu escolas, não construiu pontes, não inaugurou estradas, não fez o que deveria pelo social, casas, conjuntos habitacionais, mas aumentou o tamanho dos cemitérios, dividiu famílias, fez sair do armário o racismo e a homofobia. Tudo se resumia na misoginia, em ataques imorais e o palavrório de baixo nível.
O salário não teve aumento, mas os militares conseguiram consideráveis presentes, ministros pastores queriam sua parte em ouro. A boiada pôde passar. Felizmente, as eleições presidenciais nos livraram deste peso e pesadelo.
Mas, pegando uma rabeira no texto bíblico, há um tempo pra plantar e outro pra colher; um tempo pra sorrir e outro pra chorar, e quem semeia vento colhe tempestade, diz o jargão. E se bandido bom é bandido morto, tem muitos deles vomitando veneno e se protegendo sob a imunidade parlamentar, outros fugindo aos Estados Unidos.
A tentativa de golpe de Estado, a viagem aos Estado Unidos, a venda das joias, a minuta do golpe revisado à espera de uma G.L.O. (garantia da lei e da ordem). Tudo planejado.
Mas o que está na leitura da PGR e do STF é o desmando enquanto chefe de nação e na orquestração do golpe contra o Estado democrático de direito. Não existe anistia pra traidores, traíras e golpistas.
A organização criminosa foi desmantelada. Esta falta de inteligência do elemento julgado é uma reincidência do passado mal julgado. Com base numa anistia aos exilados políticos, estendeu-se esta mesma anistia aos piores assassinos e torturadores da ditadura. Foi algo malfeito. Este malfeito permitiu que alguns permanecessem na berlinda, recebendo pensões vitalícias, isso não pode se repetir.
Os patriotários defendem a anistia. Eles banalizam a quebradeira, o caminhão bomba, o plano macabro de matar o presidente, o vice e o ministro Alexandre de Moraes. A intervenção militar era o pedido, o grito ensurdecido desse grupo que desconhecia a lei.