O juiz da 6ª Vara Criminal de Campo Grande, Márcio Alexandre Wust, marcou para maio e junho as audiências de instrução e julgamento de processo de peculato, com suspeita de esquema de desvio de dinheiro em família. A denúncia envolve pai, esposa, duas ex, quatro filhos e genro. As audiências vão de 12 de maio a 2 de junho deste ano.
De acordo com o MPE (Ministério Público do Estado), inquérito da Dedfaz (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários) identificou que Jorge Wagner Velasco, que comandava a Sociedade Assistencial Meimei, localizada no Bairro Alto São Francisco, se apropriou de dinheiro público, destinado à instituição, e transferiu para contas particulares de sua propriedade e de seus familiares.
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A denúncia foi protocolada em 2022, mas os crimes foram entre 2010 e 2014. Segundo o Ministério Público, Jorge promoveu, constituiu, financiou e integrou, pessoalmente, organização criminosa.
A situação foi identificada após notícia apócrifa que Jorge e Adriana Silva estariam desviando as verbas públicas oriundas da prefeitura, governo e União.
“Importante salientar que ADRIANA SILVA, mencionada na denúncia anônima exerceu função de Coordenadora Administrativa na SOCIEDADE ASSISTENCIAL MEIMEI, no período de 2008 a 2017, época em que JORGE e ADRIANA mantiveram relacionamento amoroso”. Ela também foi denunciada pelo MPE.
“Com o afã de esclarecer a ramificação da organização criminosa, é indispensável verificar que JORGE VELASCO apresentou 3 (três) relacionamentos durante o período em que foi presidente”.
O primeiro foi com Fátima Marques da Cunha Velasco, com quem teve quatro filhos. Nesse núcleo familiar, todos foram denunciados. Os filhos são Aulus Augustus, Saulo Henrique, Lívia Juliana e Flávia Augusta. O MPE aponta recebimento em proveito próprio de produto de crime, dissimular a origem do dinheiro e integrar organização criminosa. O segundo relacionamento foi com Elaine Regina Ferreira de Souza Velasco, também denunciada.
“Justamente pela quantidade de filhos, ex-esposas, JORGE encontrou um mecanismo fácil de retirar dinheiro da instituição e distribuir entre sua prole e afins. Observa-se pelo relatório do Laboratório da Lavagem de Dinheiro que além de transferências bancárias nas contas correntes dos filhos, JORGE ainda adquiriu imóveis em nome deles, na tentativa de ocultar a origem ilícita do dinheiro”.
A presidência, tesouraria e secretaria da instituição eram exercidas por pessoas da família Velasco. Jorge foi substituído na presidência por Rafael de Oliveira Gemio, que na ocasião era seu genro. Ele também foi denunciado pela promotoria.
Jorge tinha imóveis registrado em nome dos filhos, mas que só poderiam vender os bens mediante autorização do pai. O patriarca ainda era responsável por 16 contas bancárias, com movimentação de R$ 10 milhões a crédito.
De 2001 a 2014, ele recebeu R$ 490.157,00 (quatrocentos e noventa mil, cento e cinquenta e sete reais), na condição de sócio gerente da entidade, apesar do estatuto estabelecer que a atividade era gratuita.
Em 13 anos ((2000 a 2013), Jorge teve evolução patrimonial de 754,72%, passando de R$ 63.771,92 para R$ 544.556,00.
“Infere-se que em todas as contas investigadas, movimentou-se do período de 2000 a 2015, quantia de R$ 23.670.754,10 (vinte e três milhões, seiscentos e setenta mil, setecentos e cinquenta e quatro reais e dez centavos) a crédito, e R$ 23.632.700,01 (vinte e três milhões, seiscentos e trinto e dois mil, setecentos reais e um centavo) a débito. Valores estes que não tiveram sua origem esclarecida”.
O MPE também destacou que R$ 4.197.989,90 foram movimentadas das contas da Meimei por meio de 1.498 cheques não identificados, no período de 2 de abril de 2001 a 15 de dezembro de 2014, época em que Jorge foi presidente e tesoureiro da instituição.
“Vale ressaltar que os valores retirados da MEIMEI também foram, em parte, transferidos para o GRUPO ESPÍRITA a CAMINHO DA LUZ também dirigido por JORGE e seus familiares”.
Por fim, Nilton Braz Giraldelli foi denunciado por receber cheques que totalizaram o valor de R$ 83.174,62, provenientes de valores pertencentes a administração pública. Ele foi conselheiro fiscal da creche. Nilton alegou que os valores recebidos da entidade foram pagos a título de reembolso pelos auxílios prestados quando os repasses de verbas oriundos da prefeitura atrasavam.
No dia 3 de março deste ano, o magistrado absolveu todos os réus do crime de receptação, que prescreveu. O juiz suspendeu o processo em relação a Lívia Juliana. Na sequência, marcou as audiências no Fórum de Campo Grande.