O empresário Mauro Mayer da Silva, da Zellitec Comércio e Serviços, pagou propina de R$ 8 mil a R$ 15 mil para ganhar a licitação da merenda escolar em Água Clara. O dinheiro era distribuído entre as funcionárias envolvidas no certame e a secretária municipal de Finanças, Denise Rodrigues Medis, conforme a investigação do Ministério Público Estadual.
Com base na denúncia, o juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, decretou a prisão de Mauro Mayer, de Denise e das funcionárias municipais de Água Clara, Ana Carla Benette e Jânia Alfaro Socorro. Elas foram presos na Operação Malebolge, deflagrada pelo GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) no dia 18 deste mês.
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O desembargador Fernando Paes de Campos, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, revogou a prisão preventiva dos acusados de integrar a organização criminosa que vinha desviando recursos das prefeituras de Água Clara e Rochedo.
Sob o comando da prefeita Gerolina Alves (PSDB), o grupo fraudou várias licitações, como da merenda, de compra de cestas básicas e fraldas. O esquema de desvio começou a desvendado com a Operação Turn Off, que investigou desvios nas secretarias estaduais de Educação e de Saúde.
A negociação em Água Clara
A Zellitec venceu a licitação para fornecer merenda para Água Clara. Após liberar o pagamento de uma nota fiscal no valor de R$ 200 mil, Ana Carla, conforme o despacho do magistrado, pede que o empresário pague R$ 15 mil de vantagem indevida.
Em outra conversa interceptada, a funcionária orienta ao empresário a entregar menos para a prefeitura para compensar o pagamento por outro. “Só manda 50 caixas de sulfite, diminui 50 caixas aí”, orienta Ana Carla.
Em outra conversa, ela pede R$ 8 mil que iria repassar para a responsável pelo cofre do município. “Com a documentação acostada aos autos, a servidora Ana Carla demonstra ter uma ‘posição chave’ entre o empresário Mauro e demais servidores, inclusive com a secretária de Finanças Denise Rodrigues, pois os diálogos entre eles apontam para uma suposta distribuição das vantagens ilícitas”, pontuou Ferreira Filho.
“Ana Carla teria solicitado ao empresário Mauro a quantia de R$ 8.000,00 (oito mil reais) para repassar para Denise e ele, às fls. 80 e seguintes, teria confirmado o repasse”, destacou o magistrado, no despacho que decretou a prisão das mulheres.
Em outra conversa, Ana Carla deixa claro que é a responsável por liberar o dinheiro para o empresário. “Ontem ela (Denise) tava louca procurando a dotação para as suas notas da merenda que eu fiz 200 mil. Me perguntou porque aumentou”, disse a funcionária.
“Enquadrou ela. Aí sim”, elogiou o dono da Zellitec. “Denise vai pagar suas notas mandei um recado pra ela agora. Ela tem que pagar não tem saída. Só se acalma”, comentou. “Relaxa quanto as notas tô de boa. Só achei estranho ela não ter pago logo. Mas que ótimo que vc colocou ela no lugar dela”, respondeu o empresário.
Após orientar Mayer a enviar o relatório das notas direto para o celular da secretária, Ana Carla pressente o temor da chefe. “Ela está com medo, eu senti. De tipo, o povo perceber que ela manda paga suas notas direto. E a empresa não cobra entendeu”, afirmou.
“Ah entendi. Que bom que ela tá com rabo preso agora”, gabou-se o empresário.
Conforme a investigação, os contratos investigados em Água Clara e Rochedo superam R$ 10 milhões.