O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, tornou públicos na última semana os vídeos da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O tenente-coronel confirmou que setores do agronegócio que financiaram acampamentos em frente a quartéis depois das eleições de 2022 exigiam uma tentativa de golpe.
Um dos representantes do setor que pressionou Cid foi Aparecido Andrade Portela, o Tenente Portela, suplente da senadora Tereza Cristina e pai da vereadora de Campo Grande Ana Portela (PL). Durante a delação, Moraes questionou o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro sobre a mensagem que recebeu do presidente do PL de Mato Grosso do Sul perguntando “se vai ser feito mesmo o churrasco”.
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Na mensagem enviada em 26 de dezembro de 2022, Tenente Portela diz que “o pessoal que colaborou com a carne; estão me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco”. Ao responder o ministro do STF, Cid afirma que confirmou que carne era dinheiro para financiar o churrasco, que era o golpe.
Confira o diálogo – Alexandre de Moares, ministro do STF: Obviamente, quem é o pessoal, e carne é dinheiro. Quem estava financiando o golpe está cobrando se vai ter o golpe.
Mauro Cid: Isso, isso.
Alexandre Moraes: O senhor responde: “Vai sim. Ponto de honra. Nada está acabado ainda da nossa parte”. Quero saber o seguinte: quem é o pessoal que colaborou? E estavam colaborando para o quê, para o dia 8 de janeiro?
Mauro Cid: Ministro, eu acho que estavam colaborando para manter o pessoal lá, para manter o pessoal lá. Eles estavam nessa angústia de esperar que fosse dado o golpe, esperar que o presidente assinasse um decreto, e as Forças Armadas fossem fazer alguma coisa. E o presidente, de certa forma, sempre, vou dizer, usar a palavra, que ele dava esperança que fosse acontecer alguma coisa que pudesse convencer as Forças Armadas a fazer alguma coisa. Então esse era o ponto.
Alexandre de Moraes: A pergunta dele, todos nós aqui concordamos que ele está cobrando porque colaboraram com a carne, com dinheiro, com infraestrutura, com gente. Mas ele pergunta vai ser mesmo churrasco que seria o golpe. O que eu quero entender melhor é a sua resposta. O senhor não disse: “Não sei vamos ver”. O senhor disse: “Vai sim, ponto de honra”. O que que o senhor quis dizer com isso?
Mauro Cid: Ministro, eu acho que o contexto foi o que eu falei, era o que presidente ainda mantinha a chama acesa que pudesse acontecer alguma coisa.
URGENTE: Moraes divulga vídeo da delação de Mauro Cid. Neste registro, o ministro do STF lê mensagem enviada pelo suplente da senadora Tereza Cristina, Aparecido Portela: “O pessoal que colaborou com a carne está cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco”. Em resposta, Cid diz… pic.twitter.com/qPC5haaiZO
— GloboNews (@GloboNews) February 20, 2025
Cid deu o 1º depoimento no processo de delação premiada à Polícia Federal em agosto de 2023.
O diálogo aparece nas 884 páginas do relatório final da PF, que indiciou Bolsonaro, o ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Neto, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e mais 34 pelos crimes de tentativa de golpe de estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Tenente Portela também foi indiciado pela PF no inquérito do golpe, mas ficou de fora da denúncia da Procuradoria Geral da República, assim como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e outras oito pessoas. No entanto, como houve o fatiamento da acusação por núcleo de atuação dos investigados, ainda é possível que o presidente do PL-MS possa ser denunciado.
De acordo com a investigação, Aparecido Portela atuou como intermediário entre o governo de Jair Bolsonaro e os financiadores de manifestações antidemocráticas em MS, no final de 2022.
Quando houve o indiciamento do suplente de Tereza Cristina, a defesa de Portela afirmou que o militar da reserva “não coaduna a quaisquer práticas ilícitas e antidemocráticas” e está disposto a cooperar para esclarecer os fatos. Seu advogado afirma que solicitou acesso à íntegra do inquérito e, por isso, o presidente regional do PL permaneceu em silêncio em seus depoimentos à Polícia Federal.