As queixas dos usuários do transporte coletivo, de que é precário e caro, não são ouvidas por 19 dos 29 vereadores de Campo Grande. O grupo não assinou o requerimento para criar a CPI para investigar o Consórcio Guaicurus. Por meio do apoio velado, os parlamentares acabam blindando as quatro empresas de ônibus – Viação São Francisco, Cidade Morena, Jaguar e Campo Grande – controladas pela família Constantino.
Formado em 2012 para manter as empresas no controle de transporte coletivo de Campo Grande, o Consórcio Guaicurus ganhou uma licitação que teve fraude e concorrência simulada, segundo delação premiada feita no Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado) do Paraná.
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Apesar das evidências do crime, o caso nunca foi investigado e o consórcio segue impune na Capital. O promotor Marcos Alex Vera de Oliveria chegou a pedir a anulação do contrato de R$ 3,4 bilhões e a realização de nova licitação. No entanto, o juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, concluiu que não houve provas da maracutaia e rejeitou o pedido.
O Tribunal de Contas do Estado concluiu que o grupo não cumpre o contrato de concessão. No entanto, a corte fiscal não tomou nenhuma medida para exigir o cumprimento do acordo firmado na gestão de Nelsinho Trad (PSD).
Apesar de não exigir a melhoria no serviço, a prefeita Adriane Lopes (PP) passou a repassar R$ 22,8 milhões por ano em subsídio ao grupo. O Governo do Estado repassa mais R$ 13 milhões. E ainda assim, a tarifa do transporte coletivo subiu de R$ 4,75 para R$ 4,95 no mês passado.
De costas para o povo
Entre os vereadores que não apoiam a CPI estão políticos experientes, como o ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PDT), o ex-presidente da Câmara Municipal, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), o ex-secretário municipal de Saúde, Jamal Salem, o Dr. Jamal (MDB), o ex-líder da prefeita, Beto Avelar (PP), o ex-deputado estadual Herculano Borges (Republicanos), o veterano Otávio Trad (PSD) e Delei Pinheiro (PP).
Neófitos na política já estreiam no legislativo dando as costas para as queixas dos usuários do transporte coletivo, como Leinha e Wilson Lands, do Avante, e Neto Santos (Republicanos).
Outros parlamentares, que perderam a última eleição e voltaram, seguem na mesma linha de ignorar os clamores do povo, como Dr. Lívio Leite e Veterinário Francisco, do União Brasil. A lista ainda inclui o pastor Clodoilson Pires (Podemos), Dr. Victor Rocha, Professor Juari e Silvio Pitu, do PSDB.
O atual presidente da Câmara, Papy (PSDB), não assinou o requerimento e vem trabalhando para impedir a instalação da CPI. Em entrevista ao Correio do Estado, apesar da calmaria política, ele defendeu que a investigação só seja feita a partir do segundo semestre.