Um milionário norte-americano é acusado de matar a socos e chutes um homem portador de necessidades especiais durante as férias em uma fazenda em Mato Grosso do Sul. Os irmãos da vítima cobram indenização de R$ 3,2 milhões na Justiça do acusado e dos donos de uma empresa de mineração de São Paulo.
Conforme o inquérito aberto pela Polícia Civil, Travis A. Yunis é morador dos Estados Unidos e veio passar férias na fazenda da família da esposa em Anastácio. No dia 2 de julho de 2023, ele agrediu a socos, chutes e tentou asfixiar Roberto Gomes da Silva, 56 anos, durante um ataque de fúria. O homem foi socorrido ao hospital de Dois Irmãos do Buriti e encaminhado em vaga zero para a Santa Casa de Campo Grande.
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Silva não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 8 de julho daquele ano. Inicialmente, o hospital registrou o caso como se ele tivesse caído de um caminhão parado na Fazenda Cachoeirinha
No entanto, de acordo com o boletim de ocorrência, Roberto era portador de necessidades especiais. Em depoimento na delegacia, o norte-americano admitiu a agressão, mas justificou que foi uma reação em decorrência do homem ter abusado da filha menor de idade.
“Ao ser interrogado (f. 53-54), o autor TRAVIS A YUNIS, acompanhado de sua advogada BÁRBARA SIQUEIRA FURTADO, afirmou que estava de férias na fazenda de propriedade da família de sua esposa. Alegou que sua filha saiu para brincar com uma amiguinha e passado algum tempo voltou chorando, tremendo e pedindo para ir embora da fazenda, pois um homem havia (abusado dela)”, aponta trecho do inquérito.
“O interrogado afirmou que ficou nervoso, deu um soco na vítima e caiu por cima dele. Depois do ocorrido, percebeu que não tinha mais clima para continuarem na fazenda, então deslocou-se para Campo grande/MS juntamente com sua esposa e filha para casa de parentes (da esposa)”, comentou.
A Polícia Civil chegou a concluir o inquérito, mas o Ministério Público Estadual determinou a reabertura da investigação para incluir o depoimento de outra testemunha. O pedido foi aceito pela Vara da Justiça em Anastácio em dezembro do ano passado.
Indenização milionária
Os irmãos da vítima entraram com ação na 2ª Vara Cível de Sidrolândia cobrando indenização de R$ 3,2 milhões de Yunes e dos donos da fazenda, Clarice Barbosa Iudice, e do filho, José Roberto Iudice. O advogado Itamar Souza alegou que os donos da propriedade ajudaram o norte-americano a deixar Mato Grosso do Sul para não responder pelo crime.
Além de serem donos de fazendas em Anastácio e Corumbá, onde estariam 13 mil cabeças de gado, a família Iudice ainda é dono da Riuma Mineração, em São Paulo, uma empresa com mais de seis décadas de existência.
“A vítima do assassinato é relatada pelos familiares como uma pessoa calma e não reativa, bem como jamais teve comportamento agressivo com ninguém, ademais, adultos com CID F71 têm idade mental de 6 a menos de 9 anos, sem possibilidade de seguir a própria vida sem acompanhamento de um curador de acordo com pesquisas científicas relacionadas à doença mental”, apontou o defensor.
“A fuga, foi acobertado pelos proprietários da fazenda, seguindo ordens do senhor José Roberto Iudice, conforme será demonstrado por meio das provas testemunhais e pelo depoimento pessoal dos autores”, acusou Souza.
“Os familiares de Roberto Gomes, pessoas simples, aguardaram os réus, acreditando que viriam para esclarecer tudo e contribuir para fazer justiça e prender o agressor, porém, ao contrário disso, usaram da simplicidade dos familiares, ganharam tempo suficiente para o assassino fugir”, relatou na ação judicial protocolada em dezembro de 2023.
Os irmãos Antônio Cândido da Silva, Cláudio Gomes da Silva, Rosemaria de Oliveira Pires da Silva, Maria de Lourdes Cândida da Silva, Edvaldo Cândido da Silva, Iraci Cândida da Silva, Maria Aparecida da Silva, Raymundo Gomes da Silva e Edson Gome da Silva, pedem indenização de R$ 3,2 milhões.
Na petição, o advogado pediu indenização por danos morais individuais e danos psicológicos de R$ 2 milhões, danos materiais de R$ 200 mil e danos coletivos de R$ 1 milhão. O processo tramita na 2ª Vara Cível de Sidrolândia.
No dia 9 de dezembro do ano passado, o juiz Fernando Moreira Freitas da Silva, determinou a notificação do norte-americano por edital para se defender na ação judicial. Ele e os empresários terão 15 dias para contestar o pedido dos irmãos de Roberto Gomes da Silva.
Poderia econômico
O advogado ainda acusa os donos da fazenda de tentar enganar os irmãos da vítima e ganhar tempo para ajudar Travies Yunis a sair do Brasil. “Conforme pode se verificar acima, no informativo do prontuário medico, no hospital Santa Casa de Campo Grande MS, foi dado falso depoimento sobre o que ocorreu na fazendo referente aos hematomas que possuía a vítima Roberto Gomes, no desespero da fuga imediata do americano, o familiar da vítima, funcionário da fazenda, mentiu naquele momento, pois certamente estava orientado pelos proprietário Sra Clarice Barbosa Iudice representada por José Roberto Iudice, administrador e filho, tentado acobertar o crime enquanto Travis A Yunis fugir do Brasil”, acusou.
A versão inicial era de que foi uma queda de um caminhão parado. Em depoimento na polícia, os irmãos e funcionários confirmaram que o milionário agrediu Roberto com socos e chutes e ainda tentou asfixia-lo. A esposa do americano disse que a vítima pode ter batido a cabeça ao ser empurrado pelo marido.
“Veja excelência o caso em questão é extremamente grave, uma família com poderio econômico entre os maiores do Brasil, ainda que fixe o valor maior que a jurisprudência citada acima, talvez nem sintam a punição pedagógica, pois são detentores de capital elevadíssimo”, alertou Itamar Souza, conforme o processo, que tem acesso público.