Após a queda em 2023 e estabilidade nos primeiros dez meses de 2024, o preço da carne bovina subiu 31% no final do ano e encareceu o churrasco do sul-mato-grossense. Com a falta de boi para abate e o aumento de 31% no preço da arroba, o quilo da picanha chega a custar R$ 116 em açougues de Campo Grande.
O valor da picanha nas alturas atinge o principal mote da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista repetiu a exaustão no horário eleitoral que o brasileiro voltaria a ter a chance de comer picanha no churrasco, numa alusão a era de Jair Bolsonaro (PL), quando filas de consumidores em busca de pé de galinha e osso ganharam as manchetes.
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Entre dezembro de 2021 e 2023, o preço da arroba do boi gordo teve queda de 23%, passando de R$ 299 para R$ 229. No entanto, o impacto para o consumidor foi de apenas 12,65%, com o valor médio do quilo da carne de primeiro caindo apenas 12,65%, de R$ 39,59 para R$ 34,58, conforme levantamento realizado pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos).
O preço da arroba voltou a subir e já supera R$ 300, com aumento de 31% em relação a dezembro do ano passado. Se a queda não foi repassada ao consumidor final, a alta foi instantânea. Nos últimos dois meses, o valor da carne ao consumidor subiu 23,45% – quase cinco vezes a inflação acumulada em 12 meses. O valor saltou de R$ 34,58, em novembro do ano passado, para R$ 42,69 no mesmo período de 2024.
O preço da picanha, símbolo da campanha de Lula, custa entre R$ 75,90, no Supermercado Nunes, e R$ 115,98 no Big Beef. O filé mignon tem variação semelhante, custando entre R$ 79,90 e R$ 115,98 nos mesmos locais. A picanha chegou a ser vendida a R$ 100 na Rede Comper, mas estava sendo comercializada a R$ 89,98 nesta segunda-feira (30).
O principal prato do churrasco, a costela, estava custando R$ 15,98 no Comper, mas poderia ser encontrada a R$ 26,90 no Meat Stop. O coxão mole custa entre R$ 41,98, no Meat Stop, e R$ 54,90 na Casa da Linguiça.
As causas do aumento
Para os economistas ouvidos pelo G1, as causas do aumento são o ciclo pecuário – dois anos de muitos abates e a queda na oferta do boi no campo; o clima com seca e queimadas comprometeu a formação de pastagem; o Brasil continua batendo recorde de exportações de carne bovina; e a queda no desemprego e na valorização do salário mínimo impactaram na compra da carne.
Para a economista Andréia Ferreira, do DIEESE em Mato Grosso do Sul, além das questões comuns ao processo produtivo, houve encarecimento dos insumos agropecuárias, tanto nacional como importado.
Ela também atribui a política do Banco Central, comandada por Campos Netto, que mantém a taxa de juros elevadas e não vinha intervendo para reduzir a cotação do dólar. “Os grandes produtores estão mais interessados em ganhar tanto no processo produtivo quanto na variação cambial”, alertou.
O certo é que a carne mais cara pode impactar na popularidade de Lula. E a picanha a R$ 116 vai dar razão aos críticos do presidente, de que ele não cumpriu a promessa de garantir a carne mais nobre aos mais pobres.