Um ano após a Justiça Federal aceitar a denúncia, a ação penal contra organização criminosa acusada de usar estabelecimentos comerciais de pequeno porte para lavar uma fortuna proveniente do tráfico internacional de drogas segue em sigilo absoluto. O negócio familiar movimentou R$ 80 milhões em quatro anos e envolve o líder do prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB), na Câmara Municipal, o vereador Allex Dellas (PDT).
A denúncia foi aceita pelo juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini, da 5ª Vara Federal de Campo Grande, e veio a público em dezembro de 2023, desde então nenhum outro detalhe do trâmite do processo teve publicidade. Apenas o número do registro dos despachos do juízo são publicados no Diário Oficial da Justiça Federal para que os advogados tomem ciência. Alguns deles famosos, como o juiz aposentado Odilon de Oliveira, seu filho Odilon de Oliveira Junior, e o vereador eleito Marquinhos Trad (PSD), ex-prefeito da Capital.
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O esquema criminoso foi desvendado na Operação Mamon, deflagrada pela Polícia Federal, e denunciado pelo Ministério Público Federal. O negócio familiar movimentou R$ 80 milhões em quatro anos, entre 2017 e 2021, na fronteira com a Bolívia, e uma das principais rotas do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul.
As investigações apontaram que a organização criminosa era composta por acusados pertencentes a duas famílias. A família Della é capitaneada por Ale Tahir Della, que empreendia seus dois filhos, Matheus Prado Della e o vereador Allex Prado Della (que usa no nome político o último sobrenome no plural), no esquema.
Conforme a denúncia do MPF, em um dos estabelecimentos investigados, cerca de 90% do faturamento decorreu de transações de apenas três cartões de crédito, sendo que dois deles pertencem a Allex Dellas, e o outro a Moisés Della, tio do vereador.
“Consta, inclusive, do Relatório de Análise de Polícia Judiciária […] , que analisou os dados telemáticos em nuvem de ALE DELLA e IONEIDE NOGUEIRA, que alguns atos ilícitos só foram praticados por ALE DELLA após a anuência de ALLEX DELLA, o qual possui formação em Direito”, diz trecho da denúncia.
Allex Dellas foi eleito em 2020 para seu primeiro mandato e, atualmente, é líder do prefeito Marcelo Iunes na Câmara Municipal. Quando a ação penal foi aceita pela Justiça Federal, o parlamentar disse que vai comprovar sua inocência.
Eleito pelo Republicanos, Allex não declarou nenhum bem à Justiça Eleitoral há quatro anos. Nas eleições deste ano, o parlamentar registrou possuir apenas um veículo de R$ 125 mil. No entanto, o Ministério Público Federal denunciou que o parlamentar movimentou R$ 1 milhão em um período de apenas seis meses. O vereador não conseguiu se reeleger.
O Ministério Público Federal denunciou os 10 acusados por fazerem parte de organização criminosa, com os agravantes de manter conexão com outros grupos criminosos independentes e ter operações internacionais, e lavagem de dinheiro.
“A gente vai ter todos os encaminhamentos dentro do processo para a gente se manifestar e com certeza provar a minha inocência. Recebo absolutamente tranquilo. Respeitando sempre as decisões judiciais e acompanhando todo o procedimento jurídico, esperando e com a certeza absoluta que virá a comprovação da minha inocência. Estou à disposição sempre, como costumo dizer, ninguém está acima da lei. Sempre à disposição da lei”, declarou Allex Dellas a O Jacaré, no dia 18 de dezembro de 2023.
O advogado de defesa da família Della, André Borges, reforça que os acusados provarão que não estão envolvidos com os crimes. “Todos sempre estiveram à disposição da justiça; aguardam as citações para se defenderem regularmente; confiam muito que no final tudo será esclarecido, com a absolvição”, disse.