A Polícia Federal abriu uma investigação sobre supostos pedidos de propina feitos por um lobista a empresários do setor de apostas esportivas online que estão na mira da CPI das Bets, no Senado. A apuração ocorre após a relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito, Soraya Thronicke (Podemos), divulgar que sofre “ameaças e tentativa de intimidação por parte de alguns colegas senadores”.
Soraya também acusou que o “genro de um senador” seria dono de um site de apostas em um paraíso fiscal. De acordo com a sul-mato-grossense, que foi autora do pedido para instalar a CPI e comanda as investigações, as denúncias foram encaminhadas diretamente ao diretor-geral da Polícia Federal, delegado Andrei Rodrigues.
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A declaração da senadora foi uma reação à reportagem da revista Veja, de que o lobista Silvio Barbosa de Assis estaria exigindo dinheiro, R$ 40 milhões, de empresários para livrá-los de prestar depoimento na CPI das Bets. Já o senador Ciro Nogueira (PP), que bateu boca com a parlamentar na comissão, insinuou que Soraya pode estar por trás das ameaças.
O jornal Folha de S.Paulo divulgou, na última semana, que a PF abriu investigação sobre o suposto pedido de propina. Uma das vítimas é ligada ao cantor Gusttavo Lima, segundo a reportagem.
Uma das vítimas da tentativa de extorsão disse à Folha, pedindo para não ser identificada, que foi procurada por Silvio no fim de novembro. O encontro ocorreu no escritório do lobista, em Brasília.
Segundo a versão desta vítima, Silvio teria dito que tem influência sobre senadores que participam da CPI das Bets e pediu R$ 50 milhões para evitar a convocação e o futuro indiciamento do empresário.
Silvio negou à Folha que tenha pedido propina. “Eu estou fazendo um documentário, que já está bem adiantado, e vou fazer proposta para a Netflix, Prime Video e Globoplay. Estou ouvindo algumas bets, entendeu? Quanto a isso de ‘ah, fez extorsão’, deve ser o meu documentário. Como é que eu vou extorquir se não sou senador ou membro de CPI?”
Genro e irmã de lobista são lotados no gabinete de Soraya
A irmã e o genro do empresário Silvio Assis, lobista acusado de extorquir empresários do setor de apostas online, são funcionários comissionados de Soraya Thronicke, relatora da CPI das Bets. Lotados no gabinete da senadora sul-mato-grossense, eles tiveram salário de R$ 14 mil no mês de novembro deste ano, conforme o Portal da Transparência do Senado.
A irmã, Sandra Barbosa de Assis, foi nomeada no dia 9 de novembro do ano passado para atuar como assistente parlamentar sênior da senadora sul-mato-grossense. No mês passado, ela teve salário de R$ 14.274,75 e mais auxílio refeição de R$ 1.373,11.
O genro de Silvio Assis, David Vinícius Oruê de Oliveira, foi nomeado para trabalhar como auxiliar parlamentar sênior de Soraya em abril deste ano, conforme o Portal da Transparência do Senado. Ele teve salário de R$ 14.077,32 em novembro deste ano, mais o auxílio refeição no mesmo valor, R$ 1.373,11.
Em resposta à Folha, a senadora afirmou que “dizer que meu nome tem sido usado por alguém para pedir propina a empresários é uma acusação muito séria e grave. Quem afirma isso tem o dever de apresentar provas”.
Soraya disse que soube que “há várias pessoas poderosas, inclusive políticos, envolvidas em crimes de lavagem de dinheiro por meio de bets” que estariam “gastando milhões na mídia para tentar abalar a minha credibilidade, o que não vão conseguir”.
“O que fiz a respeito foi procurar imediatamente o diretor-geral da Polícia Federal, doutor Andrei Rodrigues, e me colocar inteiramente à disposição, autorizando, desde já, a quebra dos meus sigilos fiscais, bancários e telemáticos. Pedi também a realização de uma acareação entre os citados, pois precisamos provar quem realmente tem a verdade”, disse.
Sobre os familiares de Silvio em seu gabinete, a senadora disse que os contratou pelo “perfil técnico e profissional de ambos”. Disse ainda que conheceu o lobista “por intermédio de vários senadores”.
Silvio Assis disse que “no Senado, conheço todo mundo” e relatou relação de amizade com congressistas que integram a CPI das Bets. Afirmou ainda suspeitar que as denúncias sejam feitas em perseguição à senadora Soraya Thronicke.
“Não sei se é uma perseguição contra a senadora, entendeu? Se é um problema com ela, se estão querendo fazer essa narrativa de denúncia. Contra ela não vão achar nada; contra mim, não tem. Pode investigar”, afirmou.
Os rumores de pedido de propina foram levados ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por ao menos quatro senadores. Segundo um dos parlamentares, Pacheco conversou com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e pediu agilidade nas apurações.