O fim de semana ficou marcado pelo embate entre a deputada federal Camila Jara (PT) e policiais militares no Centro de Campo Grande. A ex-candidata a prefeita disse que teve uma arma apontada contra si durante uma abordagem em bares da região na madrugada de domingo (22). A situação só mudou quando ela se identificou como parlamentar.
Em nota, a Polícia Militar nega utilização de armamento no caso e informou que busca “coibir a contravenção de perturbação do sossego e trabalho alheio e o crime de poluição sonora, mantendo a ordem e a tranquilidade dos moradores das regiões próximas a bares e restaurantes”. A PM afirma que aumentou o número de denúncias, via 190, de perturbação do sossego e poluição sonora, “bem como constatou aumento no número de crimes contra o patrimônio em regiões próximas a esse tipo de estabelecimento”.
Veja mais:
Enigma desde anos 60, esvaziamento do Centro vira problema sem solução à vista e gargalo
Candidatos prometem “reinventar” e até brigar por “redução” de aluguéis no Centro da Capital
Novos tempos agravam crise no comércio do Centro e quase 200 lojas fecham as portas
Nesta segunda-feira (23), a Associação dos Praças da Polícia Militar e Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul (ASPRA-MS) divulgou uma nota de repúdio afirmando que Camila “mais uma vez, demonstrou desrespeito e oposição à atuação legítima e constitucional da Polícia Militar”.
A Associação relata que a deputada “interferiu e instigou pessoas a se oporem ao trabalho de fiscalização realizado pela Polícia Militar, que averiguava denúncias de perturbação do sossego público e uso de entorpecentes”.
“Reiteramos que a Polícia Militar atua em conformidade com a lei, visando garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade da população. Atitudes como as da Deputada enfraquecem o trabalho da corporação e promovem um discurso irresponsável, que vai na contramão do respeito às instituições e à cidadania”, defende a ASPRA-MS.
Camila Jara rebateu a nota da associação e disse que sua preocupação é com a defesa dos direitos dos empreendedores donos dos bares e do lazer da população.
“O episódio do fim de semana é apenas um episódio e estão tentando fazer parecer que seja um confronto individual entre a parlamentar Camila e a PM. Isso não existe. O que a gente está brigando é pelo direito de as pessoas empreenderem, gerarem renda, pelo direito do lazer da população”, argumentou a deputada.
A parlamentar afirma que os bares fiscalizados possuíam alvarás válidos e estavam encerrando as atividades quando houve a abordagem policial. Para Camila, o tratamento da polícia é diferente nas fiscalizações em áreas nobres.
“Temos dados que mostram que esses procedimentos ocorrem apenas em determinadas áreas. Se a PM pudesse nos fornecer informações sobre as fiscalizações em bares da elite da cidade, o Bolicho e Bada Bar, enfim, seria interessante”, provocou.
A deputada federal informou que se reuniu com o governador Eduardo Riedel (PSDB), o comando da PM, donos de bares e empresários para tratar das atividades do comércio e a manutenção da ordem pública, mas disse que o diálogo “não tem funcionado” e há pedidos para interferir para evitar abusos.
O Centro de Campo Grande ganhou destaque na vida boêmia da Capital principalmente após a interdição da rua 14 de julho, uma das vias mais tradicionais e antigas da cidade, que foi revitalizada na gestão Marquinhos Trad (PSD), aos finais de semana. Porém, a iniciativa foi um teste e posteriormente revogada a pedido dos próprios donos de bares.
O reflexo da interdição se mostrou efetivo pela quantidade de pessoas que enchia os dois quadriláteros disponíveis para a população. Durante as noites de sexta e sábado, a “veia arterial” da Capital era tomada de rodas de samba, pagode, DJ’s e artistas regionais que ofereciam música e curtição.
Na 14 de Julho, os bares começaram a se instalar ativamente no fim de 2023. No Carnaval deste ano, outros empreendimentos apostaram na rua como possibilidade de negócio. Apesar do fim da interdição aos fins de semana, a região continuou recebendo o público e agora o desafio é manter o momento de descontração em harmonia com a paz dos moradores.