A quebra de sigilo dos dados telemáticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) revela a guerra fraticida e na linha de “Deus por todos e cada um por si” na extrema direita em Mato Grosso do Sul. Bombardeado pelas lideranças do PL e perseguido pela senadora Tereza Cristina (PP), Aparecido Andrade Portela, o Tenente Portela (PL), cogitou renunciar à vaga de primeiro suplente e deixar a política.
A crise ocorreu no primeiro semestre de 2023 quando os caciques brigavam para assumir o comando do diretório regional do PL em Mato Grosso do Sul. Portela desejava assumir o comando, mas enfrentou oposição dos deputados federais Marcos Pollon e Rodolfo Nogueira e dos deputados estaduais Coronel David e Neno Razuk.
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Até a Tereza Cristina, que era dirigente do Progressistas, passou a perseguir o seu suplente no Senado menos de um ano após a eleição. De acordo com Portela na mensagem enviada a Bolsonaro, “a Tereza persegue mesmo” e teria sido responsável pela demissão de sua filha, Ana Cláudia Pereira Portela de um cargo em comissão na administração.
“Não pode ficar inventando coisa que eu não fiz. Eu to desempregado, to, mas to trabalhando na minha chácara”, queixa-se Portela. No relato feito a Bolsonaro, que é seu amigo desde os anos 70 quando serviram o Exército em Nioaque, ele lamenta os ataques, ameaça se desfiliar do PL e renunciar ao cargo de suplente de senador.
O ex-presidente o desestimulou a ficar com os pensamentos negativos e mandou pescar. “Nunca fale em renunciar ao cargo de suplente. Deixe um pouco a política de lado. Vá pescar”, aconselhou Bolsonaro.
Desabafo expõe racha no PL
Ao longo das 884 páginas do inquérito sobre a tentativa de golpe, a Polícia Federal cita o diálogo entre Portela e Bolsonaro para mostrar a proximidade entre os dois. O Tenente Portela teria arrecadado dinheiro para financiar a tentativa de golpe de estado. Como o plano não deu certo, ele cobrava o tenente-coronel Mauro Cid do “churrasco”, que não aconteceu, e porque seria obrigado a devolver o dinheiro de quem contribuiu com a “carne”.
Na conversa pelo WhatsApp no dia 28 de abril de 2023, Portela se queixa para Bolsonaro dos ataques sofrido pelos colegas de partido. “Eu estou apanhando da Tereza, apanhando do PL, por causa do que eu fui colocado como suplente”, queixa-se o militar.
“Apanho, apanho de um, apanho de outro, apanho do Rodolfo, apanho do Coronel David, apanho do Neno Razuk, apanho do Pollon, apanho do grupo da Tereza Cristina. Mas tem hora que não dá , porque partem para humilhação”, reclama em uma longa mensagem a Bolsonaro.
“Que eu tenha ido lá até a na prefeita a troco de serviço. Eu fico no, no cabo de Guatambu”, afirmou. O termo significa desprezado e caipira. Em outro trecho, Portela diz que pode renunciar a vaga de suplente de senador.
Após Bolsonaro mandar ele esquecer a renúncia, o militar pede descupas pelo desabafo e justifica que também é ser humano. “Me perdoa Pr. Obrigado”, encerra.
Desfecho
Na época, Pollon acabou assumindo a presidência do diretório regional do PL. Em junho deste ano, após Bolsonaro anunciar apoio ao PSDB, o deputado federal foi destituído do comando do partido, que acabou nas mãos de Tenente Portella após Rodolfo Nogueira declinar o convite para presidir a sigla em Mato Grosso do Sul.