Empresa de Andreson de Oliveira Gonçalves, conhecido como “lobista dos tribunais” e suspeito de operar em venda de decisão no STJ (Superior Tribunal de Justiça), transferiu R$ 1,1 milhão para o advogado Félix Jayme Nunes da Cunha, autor da frase célebre da operação da PF (Polícia Federal), que investiga venda de sentenças no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul): “pqp leilão danado kkkk”.
Conforme relatório da operação Ultima Ratio, os dados do afastamento bancário de Felix demonstram que a empresa Florais Transportes, de propriedade de Andreson e sediada em Cuiabá (Mato Grosso), fez três transferência naquele ano: R$ 30 mil no mês de abril, R$ 700 mil em junho e R$ 400 mil no mês de julho.
Veja mais:
Investigado, juiz comprou apartamento de luxo, avião e fazenda de R$ 30 milhões, diz PF
Escritório de Camila deu R$ 213 mil à empresa onde desembargador administra conta corrente
Escritório de ex-vice da OAB/MS repassou R$ 650 mil para presidente da Assembleia Legislativa
“Ocorre que, no mesmo período, imediatamente após o recebimento das transferências oriundas da FLORAIS, FELIX JAYME realizou a retirada em espécie de quase todo o montante recebido, totalizando R$ 1.090.250,00”.
Segundo a Polícia Federal, não foi possível criar uma hipótese plausível que justificasse a transferência de elevados montantes de recursos financeiros de Florais Transportes para Félix Jayme.
“Ademais, verificou-se na análise dos dados bancários que grande parte dos recursos transferidos para FÉLIX foram sacados em espécie, alguns saques com valor de R$ 98.000.00, abaixo dos limites de alerta dos órgãos de controle financeiro. Houve também cheques descontados para pessoas não identificadas”.
“Marcão tem de tudo”
O relatório da Ultima Ratio ainda mostra troca de mensagens entre Andreson e o desembargador Marcos José de Brito Rodrigues. Em 2 de maio de 2023, o empresário envia duas telas (prints) de extratos de processo no site do TJ ao desembargador. Brito responde: “Beleza. Chegando em SP”.
Oito dias depois, em 10 de maio de 2023, o desembargador repassa as imagens a seu principal assessor no TJMS e pede para ele imprimir os votos desse acórdão.
Em consulta ao site do Tribunal de Justiça, verificou-se as ações fazem parte de um conjunto de processos com valor da causa de mais de R$ 64 milhões.
Especificamente nos processos relativos aos prints, enviados em 2023 por Andreson a Marcos Brito, a PF constatou que foram julgados por outros desembargadores. “Contudo encontramos a atuação de MARCOS BRITO, em um julgamento em 2020, em um dos processos relacionados, o qual envolve as mesmas partes e mesmos advogados”. A decisão envolvia fazenda em Dourados.
“Considerando que ANDRESON envia os extratos dos processos a MARCOS BRITO e que ele proferiu decisão em pelo menos um processo relacionado a eles, somado à proximidade entre eles e demais elementos que serão expostos, além das altas movimentações do primeiro com FELIX JAYME, entendemos haver fortes indícios de que tal desembargador estivesse recebendo propina de ANDRESON”.
A investigação aponta que entre 25 de abril e 10 de maio de 2024, foram várias mensagens e chamadas de whatsapp entre o empresário e o desembargador.
Inclusive, Andreson foi incluído ao grupo denominado “MARCÃO TEM DE TUDO”, o qual aparentemente foi criado por Marcos Brito para repassar mensagens a seus amigos, pois quase todas as mensagens são enviadas por ele.
O desembargador, o advogado e o lobista foram alvos da operação da Polícia Federal.