Mário Pinheiro, de Paris – Os manifestantes, além de cantar o hino nacional ao pneu, pediam um milagre longe da realidade de ver o novo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, subir a rampa do Planalto após tomar posse. A cerimônia estava jurada de resistência, protestos e o asco azedo de “patridiotas” vestidos da camisa da seleção brasileira, babando ódio. Mas eles se sentiam protegidos pelo Exército porque estavam acampados às portas dos quartéis.
Após a fuga do líder Bolsonaro, os raivosos tinham certeza que o messias voltaria glorioso, não gastaria os R$ 800 mil enviados aos “esteites”, se abasteceria da venda das joias, depois os salvaria da miséria, estabeleceria o Estado de Sítio e pronto. Mas, em 8 de janeiro, cansados de esperar a voz da esperança, invadiram a praça dos Três Poderes, quebraram quase tudo e ainda filmaram as ações pelo orgulho de estar queimando e evacuando no STF, sem falar do sujeito com o caminhão bomba em frente ao aeroporto.
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Os “patridiotas” foram identificados, convidados ao banco dos réus, depois condenados. Como se não adiantasse ter os gabinetes da bala e do ódio, eles continuam vociferando pelas ventas o complô para derrubar o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Os políticos do partido liberal atuam de forma conjunta pra fazer aprovar a PL da anistia. Não se oferece anistia a quem luta contra o Estado. Anistiar os militares foi o maior erro que a política brasileira cometeu, pois os piores torturadores e assassinos ficaram livres para atuar como quisessem.
O terrorista que explodiu as bombas em Brasília, Francisco Wanderlei Luiz, é bolsonarista, ex-candidato a vereador derrotado nas urnas de Rio do Sul, Santa Catarina, e seu objetivo era executar o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
O Brasil está cheio de pessoas que perderam a empatia, o contato com os livros e a verdadeira informação. A falta de noção do tempo e do espaço abrange uma grande leva de pessoas que hoje preferem o desprezível, o supérfluo, o vazio, a notícia sem nexo e inverídica, se mordem de paixão ao defender com unhas e dentes “o mito”. Primeiramente, mito é algo que não existe. É preciso, às vezes, voltar no tempo e explicar coisas simples para evitar a repetição de erros do passado.
Em 1981, houve um mega atentado com um puma no centro do Rio de Janeiro. Os dois meliantes que carregavam a bomba não eram de esquerda, eles faziam parte do alto escalão do Exército, membros diretos do Doi-Codi.
O Doi-Codi é a invenção da brutalidade que matou em sessões de tortura todos aqueles que se diziam oposição ao governo militar. No carro puma, o sargento Guilherme do Rosário, que segurava o artefato, morreu com o estrondo. O outro, o coronel Wilson Dias Machado teve ferimentos graves, mas não veio a óbito.
O objetivo era anular a anistia aos exilados políticos, e, sobretudo, matar um monte de gente da esquerda concentrada para celebrar o Dia do Trabalho. A PEC da anistia deve conhecer sua derrota nos próximos dias.
O período em questão quebrou e eliminou a liberdade de tudo, de ir e vir, de se expressar, de criticar. Para sobreviver foi necessário inventar a resistência, mas a própria resistência foi posta na prisão, torturada, assassinada nos porões do Dops de São Paulo, e também pelo torturador Carlos Ustra. Os corpos de mais de 1.049 pessoas, de forma covarde e na calada da noite, foram enterrados como indigentes no cemitério clandestino de Perus.