Com capital social de apenas R$ 30 mil, a empresa DMJ Serviços Logísticos e Gestão Imobiliária, de Diego Moya Jeronymo, despertou a atenção do COAF (Comissão de Controle de Atividades Financeiras) ao realizar aplicação de R$ 25,6 milhões em fundos de investimentos em apenas 41 dias em 2022. Os dados da movimentação financeira do sobrinho do conselheiro Osmar Domingues Jeronymo, do Tribunal de Contas do Estado, constam do relatório da Polícia Federal da Operação Última Ratio.
O corregedor-geral do TCE e os dois sobrinhos, o outro é Danillo Moya Jeronymo, funcionário do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, tiveram os sigilos bancários e fiscal quebrados na Operação Mineração de Ouro, deflagrada em 21 de junho de 2021. Na época, mais outros dois conselheiros, Ronaldo Chadid e Waldir Neves Barbosa, entraram na mira da PF.
Veja mais:
Com salário de R$ 15,5 mil no TJMS, sobrinho de conselheiro sacou R$ 1,2 milhão em espécie
Analista do TJ que expôs ser “notório” corrupção depositou dinheiro vivo para desembargador
Salário médio de desembargadores suspeitos de venda de sentença chega a R$ 145 mil/mês
De férias na Europa, desembargador viu PF pegar R$ 2,7 mi e suspeita de lavagem em mansões
Os irmãos Diego e Danillo foram sócios da DMJ, empresa constituída em 11 de dezembro de 2007 com capital social de R$ 30 mil e com unidades na rodovia entre Sidrolândia e Maracaju e no Jardim dos Estados, em Campo Grande. Quebra dos sigilos mostra que os Moya tinham o hábito de sacar grandes quantias de dinheiro em espécie, uma forma de envolvidos com o crime adotam para não revelar os destinatários.
De acordo com a PF, Diego Moya Jeronymo, que continua como administrador da DMJ, depositou R$ 100 mil em espécie em sua conta no dia 10 de agosto de 2017. Quatro dias depois, ele foi até a agência do Bradesco do Shopping Campo Grande e efetuou o saque de R$ 300 mil em notas. No dia 28 de agosto de 2019, ele pegou R$ 100 mi em dinheiro vivo na mesma unidade bancária.
A conta da DMJ Logística também foi usada para saques em dinheiro vivo. De acordo com análise de peritos federais, entre 20 de março de 2012 e 5 de maio de 2021, foram 354 operações de saque que totalizaram R$ 733.034,45. Foram 348 saques de valores abaixo de R$ 2 mil para evitar o rastreamento pelo xerife do sistema financeira.
Ao ser questionado pelo gerente do banco, em uma determinada data não especificada no relatório, Diego ficou irritado e causou confusão na agência bancária para não responder o destino do dinheiro sacado. De acordo com a PF, ele se limitou a informar que o dinheiro era destinado para o pagamento de peões.
O milagre do investimento
A quebra do sigilo fiscal mostrou que a DMJ teve faturamento anual médio de R$ 233 mil entre 2015 e 2019 e fechou esse quinquênio com prejuízo de R$ 222,1 mil. Em 2022, Danillo Jeronymo deixou a sociedade e Diego passou a ser o único sócio da companhia, conforme dados da Junta Comercial.
O COAF suspeitou das aplicações feitas pela empresa entre 14 de abril e 25 de maio de 2022 no fundo de investimento Max DI, que totalizaram R$ 25.645.836,20 – 854 vezes superior ao capital social da empresa. No relatório, o faturamento já era de R$ 816,6 mil por mês.
“Além dos informes supracitados, não podemos desconsiderar que o cliente realizou aplicações em fundo de investimento em valores incompatíveis com sua capacidade financeira”, anotou o COAF, no relatório encaminhado para a PF.
No texto, o xerife do mercado financeiro cita matéria –
Advogado perde R$ 7,7 milhões ao não explorar mina comprada de sobrinho de conselheiro
– de O Jacaré sobre a Operação Mineração de Ouro, na qual o sobrinho do conselheiro Osmar Jeronymo vendeu uma mina para o advogado Félix Jayme Nunes da Cunha, outro investigado nas operações da PF.
Uma fortuna no lixo
Conforme descobertas feitas pela PF na Operação Mineração de Ouro, Diego Moya Jeronymo vendeu uma mina de cobre para o advogado em 2017 por R$ 7,7 milhões. Félix Jayme deixou o alvará vencer e nunca explorou a mina, que custou uma fortuna.
Nessa história entra um apartamento da Plaenge. Um empresário comprou o imóvel por R$ 850 mil em 2 de junho de 2016. No ano seguinte, em 15 de agosto de 2017, ele o vendeu para o advogado por R$ 1,366 milhão. Félix Jayme Nunes da Cunha o repassou para Diego Jeronymo como parte do pagamento pela mina de cobre, que acabou não sendo explorada.
A PF chegou a pedir a prisão de Danillo e do tio, Osmar Jeronymo. NO entanto, o ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça, negou o pedido e determinou o monitoramento eletrônico do conselheiro do TCE.