O relatório da PF (Polícia Federal) que desencadeou a operação Ultima Ratio, maior escândalo do Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul, mostra que imóvel na Avenida Hiroshima, em Campo Grande, não se projeta apenas pelo alto padrão, mas era o endereço preferido para sediar escritórios de filhos de desembargadores do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). O local ainda abriga uma teia de empresas do advogado Rodrigo Pimentel, cujo pai é o presidente eleito do Tribunal de Justiça, Sideni Soncini Pimentel, que foi afastado do cargo.
O documento enviado do STJ (Superior Tribuna de Justiça) destaca que o imóvel é a sede do escritório “Pimentel, Mochi & Bento” e também do escritório “Machado Abreu Advogados Associados”. A empresa é dos advogados Marcus Vinicius Machado Abreu da Silva e Ana Carolina Machado Abreu da Silva. Os irmãos são sócios e filhos do desembargador Vladimir Abreu da Silva, outro magistrado afastado do cargo por ordem do Superior Tribunal de Justiça.
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O escritório “Machado Abreu” foi constituído em 8 de outubro de 2015, com capital social de R$ 20 mil. Conforme a PF, atenção merece o endereço do escritório de Marcus Vinícius e sua irmã Ana Carolina.
“Chama a atenção que o escritório dos filhos de VLADIMIR tenha o mesmo endereço do escritório de RODRIGO PIMENTEL, o PIMENTEL, MOCHI & BENTO ADVOGADOS ASSOCIADOS. Apesar de não haver uma sociedade formal entre os filhos dos desembargadores VLADIMIR e SIDENI, o fato de utilizarem o mesmo endereço para seus escritórios de advocacia aponta para a existência de um forte vínculo entre tais famílias”, ressalta a Polícia Federal.
Levantamento mostrou que Sideni já julgou processo em que os filhos de Vladimir atuam como advogados.
“O inverso também foi pesquisado, ou seja, a existência de processo no qual a decisão foi proferida por VLADIMIR ABREU e que tivesse como advogado de uma das partes os filhos de SIDENI PIMENTEL: RODRIGO ou RENATA PIMENTEL”. São citados seis processos.
“Portanto, a partir do momento em que filhos de VLADIMIR possuem seu escritório de advocacia no mesmo endereço do de um dos filhos de SIDENI PIMENTEL, está demonstrado, a nosso ver, um forte vínculo entre tais famílias, e, diante da existência de decisões de tais desembargadores em processos nos quais atuou(aram) filho(s) do outro, entendemos haver indícios da existência de associação criminosa entre as citadas pessoas, no sentido de que as decisões dos referidos desembargadores beneficiem a atuação profissional de seus filhos advogados, possivelmente de forma cruzada entre as famílias, apontando que estes sejam seus operadores na venda de decisões”.
Teia de empresas – O belo imóvel na Avenida Hiroshima, no Carandá Bosque, ainda é sede de sete empresas que tem Rodrigo Pimentel como sócio. Uma delas é a B&B REPRESENTAÇÃO, SOLUÇÕES MÉDICAS E DIAGNOSTICAS LTDA, da qual também é sócio o deputado estadual Junior Mochi, pai de Lucas Mochi, que integra o quadro societário do escritório de advocacia.
“Nesse sentido, além dessa empresa de soluções médicas e de seu escritório de advocacia, funciona neste mesmo endereço as empresas RP & SHP HOLDING LTDA, RP AGROPECUÁRIA, RP IMÓVEIS E NEGÓCIOS, RGP & SHORP HOLDING E ADMINISTRAÇÃO LTDA, PMB HOLDING E PARTICIPAÇÕES LTDA. Chama atenção a quantidade de empresas no mesmo endereço, pois atuam em diversos ramos de negócios diferentes”.
A PF identificou transações em que Rodrigo Pimentel envia o mesmo valor ou valores próximos de uma conta de pessoa jurídica para outra, antes de enviar o dinheiro para determinada pessoa. Essa prática é comumente utilizada com recursos de origem ilícita com o objetivo de dissimular seu próprio patrimônio ou o repasse de recursos financeiros para terceiros, além de dificultar a fiscalização e controle do sistema financeiro.
O escândalo
A Operação Ultima Ratio levou ao afastamento de cinco desembargadores do TJMS – Sérgio Martins, Alexandre Bastos, Sideni Pimentel, Vladimir Abreu da Silva e Marcos José de Brito Rodrigues – e investiga outros dois aposentados, Júlio Roberto Siqueira Cardoso e Divoncir Schreiner Maran, e o juiz Paulo Afonso de Oliveira, da 2ª Vara Cível.