Nos últimos 16 anos, Campo Grande viveu uma verdadeira revolução silenciosa e oculta, que teve impacto direto na qualidade de vida da população, com o fim do mau cheiro em sete regiões e a queda brutal no número de internações de crianças com menos de quatro anos por diarreia.
O “up” no bem estar é reflexo na ampliação da rede de esgoto na cidade, que já contempla mais de 90% dos 954 mil habitantes. O impacto do investimento em saneamento básico pela Águas Guariroba reduz a contaminação do solo, garante a qualidade da água e contribui para a saúde, mas a revolução ocorre por meio dos dutos enterrados a vários metros abaixo do solo.
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Só que até o início deste século, moradores de vários bairros da Capital reclamavam com frequência do mau cheiro caudado pelas estações de tratamento Salgado Filho, com capacidade para tratar 400 litros de resíduos por segundo, Cabreúva (100 l/s), Aero Rancho (60 l/s), Mário Covas (20 l/s), São Conrado (20 l/s), Coophatrabalho (10 l/s) e Sayonara (3 l/s).
Entre 2008 e 2012, a concessionária colocou em prática a política de afastamento das estações das áreas povoadas. A primeira unidade a ser inaugurada foi a Estação de Tratamento Los Angeles, no Jardim Colorado, na saída para Sidrolândia. Com nove reatores, a unidade tem capacidade para tratar 1.080 litros de esgoto por segundo. Uma média de 87 milhões de litros por dia.
A ETE Imbirussu, na saída para Aquidauana, concluiu o projeto de desativar todas as unidades localizadas nos bairros. De acordo com o coordenador de Operações de Esgotamento Sanitário da Águas, Renato Vilela, o sistema de tratamento é o anaeróbio sem aeração.
A ETE Los Angeles fica numa área de 15 hectares, onde trabalham 11 operários, e funciona um viveiro com capacidade para produzir 80 mil mudas de árvores nativas do cerrado, que são distribuídas gratuitamente.
Preocupada com a redução da sensação de odor, a empresa tem investido sempre para melhorar o sistema de captação e tratamento de esgoto. Atualmente, o gás produzido no local é queimado por dois incineradores. A Águas está investindo no projeto para transformar o gás em energia elétrica, que será suficiente para atender a estação de tratamento.
Sobre o fim do mau cheiro, uma equipe da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) sempre mede o gás e verifica se não causa transtorno para a população do entorno. “O odor não pode ser perceptível fora da área”, explica Vilela.
Moradora do Jardim Colorado há mais de três décadas, a dona de casa Maria Jorge, 53 anos, mora a menos de 20 metros da ETE Los Angeles. Ela contou que os moradores da região conviveram por anos com o mau cheiro causado pelo lixão. Sobre a estação, ela acredita que não há problema de aroma.
A moradora só faz uma ressalva de que a situação não é totalmente confortável porque uma empresa de compostagem orgânica, que usa carcaças de animais, causa um fedor insuportável em alguns momentos, principalmente, quando há mormaço ou início de chuva. Os moradores até foram à Justiça contra a empresa, mas não conseguiram acabar com o transtorno.
Além de acabar com o mau cheiro, o investimento no tratamento de esgoto tem impacto expressivo na saúde. Conforme o professor Ariel Gomes, do curso de Engenharia Ambiental da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), houve queda de 91% nas internações de crianças com menos de quatro anos por doenças diarreicas agudas com o aumento no número de moradores contemplados com a rede de esgoto.
De acordo com Gomes, para cada pessoa adicionada à rede de esgoto, o poder público economia de R$ 6 a R$ 7 nos gastos com internações de crianças e idosos. A pesquisa foi realizada no curso de graduação pelo estudante Guilherme Ladislau Bezerra.
Geralmente, o processo de tratamento de esgoto leva oito horas, desde a entrada do resíduo na ETE até o despejo do efluente no Rio Anhanduí. A empresa monitora a qualidade do líquido despejado e assegura que a qualidade da água melhora após o despejo do material tratado.
Outra curiosidade é que o sistema capta 46 toneladas de lixo por mês – materiais que não deveriam ser jogados na rede de esgoto, como camisinha, papel, plástico, entre outros.