Adriane Lopes, a candidata do PP à prefeitura de Campo Grande impôs uma estratégia arriscada ontem à noite contra a adversária, Rose Modesto, do União Brasil, no debate promovido pela TV Morena. Ela engrandeceu seu apoiador, o ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL e, ao mesmo tempo, desprezou o atual presidente Lula.
E por que o descaso com o mandatário petista vira um aventuroso argumento num confronto por votos quase no dia da eleição, que ocorre amanhã? Resultado do pleito, no primeiro turno, talvez e que Lula já investiu na capital sul-mato-grossense.
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Note aqui: Camilla Jara, a candidata do PT, apoiada por Lula, que ficou na quarta colocação, obteve 9,43% dos votos válidos, ou 41,9 mil sufrágios.
De volta aos números: Adriane, a prefeita que quer a reeleição, saiu vitoriosa no primeiro turno ao conquistar 140,9 mil votos (31,67%). Já sua concorrente neste segundo turno, a Rose, ficou na cola dela com 131,5 mil votos (29,56%). Pouco mais de 10 mil votos de diferença.
Então, todo voto, inclusive dos petistas, seria bem-vindo na conta de Adriane em disputa que as pesquisas indicam praticamente um empate técnico.
Adriane, sem necessidade e com certa ingratidão, disse por vezes que Lula mandou “muito pouco” recurso para Campo Grande e deixou a entender que o presidente não é um “bom negócio” para Mato Grosso do Sul.
Ocorre que o governo de Lula injetou mais de R$ 100 milhões em obras tocadas em Campo Grande, cifra que supera em ao menos duas vezes o investido aqui até agora pelo atual governo estadual que, depois de apoiar primeiro o emedebista Beto Pereira, saltou para o palanque de Adriane.
A candidata do PP Insistiu em dizer que Rose Modesto foi indicada por Lula para assumir a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste, a Sudeco, meio de enganchar a ideia de que a concorrente tem ligação com o PT.
Na realidade, Lula apenas assina a nomeação, quem, de fato, indica o nome dos chefes da Sudeco são siglas partidárias e governadores do Centro-Oeste. Eduardo Riedel, governador de MS, que apoia Adriane, por exemplo, votou pela indicação de Rose Modesto.
Mais: Lula é presidente do Brasil até dezembro de 2026. Bolsonaro está inelegível até 2030.
Então, por que o ataque a Lula, que está por trás de 42 mil votos?
É certo considerar a potência eleitoral de Bolsonaro, afinal, na eleição de 2022, em Campo Grande, o ex-presidente conquistou 313,9 mil votos, ou 62,65% dos votos válidos. Já Lula obteve 187.109 votos, o que representou 37,35% dos votos válidos.
Mas, sem mandato, dificilmente um político mantém boa performance eleitoral. Além de Bolsonaro, apoiaram Beto Pereira, os ex-governadores André Puccinelli, do MDB e Reinaldo Azambuja, do PSDB, hoje longe de mandatos. E Beto nem sequer alcançou o segundo turno.
De lado o detalhe dos apoios, as duas candidatas se atacaram o tempo todo no debate.
Rose repisou na questão da folha secreta da prefeitura, por onde servidores municipais “escolhidos” teriam recebido quantias bem acima do normal. Uma novidade foi dita pela candidata do União Brasil, no debate: até Adriane estaria na lista como favorecida com o tal esquema.
Quem assistiu ao debate ficou sem saber se Rose falou a verdade ou se Adriane mentiu ao negar que recebeu salários pela folha secreta.
Segunda-feira, 28, já com o pleito definido, autoridades que fiscalizam os recursos públicos, Tribunal de Contas um deles devem buscar a tal verdade.
Seguiram os ataques ao ponto de Adriane conquistar um direito de resposta. Ela havia dito que Rose, enquanto deputada federal teria votado num projeto que prejudicou trabalhadores.
Irritada, Rose perdeu a esbelteza e chamou a adversária de mau caráter, ou seja, pessoa que não é considerada confiável e honesta.
Rose tentou ainda encurralar a adversária ao dizer que Adriane havia comprado uma área da prefeitura que deveria abrigar uma praça pública no bairro Carandá, onde mora.
Adriane defendeu-se dizendo que a área em questão era parte de um projeto aprovado pela Câmara Municipal de Campo Grande, o de desafetação de área pública. Ou seja, nada de ilegal.
Hoje, no local foi construída uma suntuosa mansão, onde Adriane mora com o marido, o deputado estadual Lídio Lopes e os dois filhos.
Adriane revidou o ataque e perguntou a Rose por que ela teria fundado uma empresa no estado de Rondônia e não em Campo Grande.
Candidata do União Brasil disse que tem uma empresa na cidade de Campo Grande, mas a questão de Rondônia ficou sem resposta.
Rose criticou também a atual prefeita por ter autorizado o pagamento de R$ 250 mil por cada sala de aula construída. Em torno de R$ 42 milhões foram pagos para erguer 166 salas. Pior: a construtora dona do serviço, disse Rose, seria suspeita e investigada pelo Ministério Público.
A questão ficou sem resposta. No entanto, Adriane disse que “tudo” que é feito pela prefeitura passa pelo crivo do Tribunal de Contas.
Assim foi o debate da TV Morena: as adversárias se atacaram o tempo todo, quando acuadas chamavam a outra de mentirosa e que difundiam as conhecidas fake news, notícias falsas.
No fim do debate, Adriane saudou a família e alguns simpatizantes. Agradeceu primeiro o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é do PL, a senadora Tereza Cristina, do PP e o governador Eduardo Riedel, do PSDB.
No primeiro turno, Bolsonaro e Riedel apoiaram o deputado federal Beto Pereira, do PSDB, que ficou em terceiro lugar. Logo depois do resultado, o ex-presidente e Riedel pularam para o palanque de Adriane.
Rose também agradeceu os apoiadores e pediu votos no final.
Agora, o eleitor tem a difícil missão de escolher amanhã, Rose ou Adriane, as que se acusam de mentirosas para chefiar a prefeitura de Campo Grande, a capital sul-mato-grossense de quase 1 milhão de habitantes, cuja receita anual beira à casa dos R$ 6,5 bilhões.