Denúncias apontam a participação da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, em situações de assédio moral e omissão diante de casos de racismo no ministério. De acordo com o site Alma Preta, 17 funcionárias e ex-funcionárias da pasta ouvidas sob condição de anonimato relataram que a única secretária negra foi demitida por priorizar a campanha eleitoral em vez de suas atribuições no órgão.
Há também acusações de racismo praticado pela secretária-executiva, Maria Helena Guarezi.e de omissão de Cida, que nada teria feito ao ser informada dos acontecimentos. De acordo com os relatos, Carmen Foro, que esteve à frente da Secretaria Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política (Senatp), e sua equipe foram uns dos alvos da ministra.
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O site afirma que a secretária teria sido exonerada em 8 de agosto deste ano, enquanto estava de atestado médico por transtornos adquiridos depois de começar a trabalhar no Ministério das Mulheres. Uma gravação feita durante uma reunião de Cida Gonçalves com as servidoras logo após a exoneração de Carmen Foro, no dia 12 de agosto.
Na reunião, que não teve a presença da já demitida Carmen Foro, a ministra acusou a ex-secretária de priorizar fazer campanha política no Pará visando as eleições de 2026 em vez do trabalho na pasta e chega a ameaçar o emprego das servidoras que eram da equipe de Foro.
Segundo as servidoras ouvidas pelo site Alma Preta, essa reunião foi o ponto alto de uma relação de trabalho marcada pelo assédio moral, perseguição, racismo e violência política por parte da ministra das Mulheres. Elas afirmaram que a pasta recebe o apelido nos corredores de “Ministério do Assédio”.
Ao todo, 59 pessoas saíram do Ministério das Mulheres desde o início da gestão, segundo dados disponibilizados no Diário Oficial da União. O levantamento não leva em consideração as saídas dos primeiros dias da pasta na transição da gestão de Jair Bolsonaro (PL) para a de Luiz Inácio Lula da Silva. (PT).
No dia 20 de setembro, Fátima Cleide Rodrigues da Silva (PT), ex-senadora de Rondônia, foi nomeada para a Senatp.
Em nota, o Ministério das Mulheres afirmou ser “contra todo tipo de discriminação e toma providências em relação a todas as denúncias que são formalizadas nos canais competentes do órgão”.
A primeira exoneração da ministra Cida Gonçalves ocorreu no dia 23 de maio de 2023, e a última no dia 19 de setembro de 2024.
A denúncia de racismo se direciona à secretária-executiva da pasta, Maria Helena Guarezi, quem assume a chefia do ministério na ausência de Cida Gonçalves.
Durante uma reunião da pasta na Escola Nacional de Administração Pública (Enap) no dia 24 de abril, Guarezi disse à ex-secretária para se sentar porque o cabelo de Carmen Foro estaria atrapalhando a visão do espaço. Foro tem cabelo crespo. A declaração foi confirmada ao site Alma Preta por cinco pessoas que estavam na reunião.
A ministra Cida Gonçalves não estava na reunião, mas foi informada dos fatos. Nenhuma ação foi tomada ou repreensão à Guarezi foi feita. Carmen Foro era a única negra entre as secretárias do Ministério das Mulheres.
Dados da Pesquisa Pública do SEI (Sistema Eletrônico de Informações) mostram que não há nenhuma ação registrada contra Cida e Guarezi. O sistema contém todos os processos administrativos de órgãos públicos, incluindo investigações de condutas irregulares de funcionários. Os casos de assédio podem estar sob sigilo.
Cida Gonçalves afirma que continuará trabalhando normalmente e que um eventual afastamento cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Disse que o ministério prepara também uma nota para se posicionar sobre as acusações, segundo o site Poder 360.
CGU investiga
A Controladoria-Geral da União (CGU) investiga denúncias de assédio moral e racismo no Ministério das Mulheres. Em nota, o órgão disse que solicitou, na segunda-feira (21), informações à pasta sobre as acusações contra a ministra Cida Gonçalves e a secretária-executiva Maria Helena Guarezi, divulgadas pelo site Alma Preta.
A CGU esclareceu que tomou conhecimento das denúncias envolvendo o Ministério das Mulheres por meio da imprensa. Diante disso, informou que solicitou informações oficiais à pasta para o devido acompanhamento e adoção de medidas cabíveis, conforme as competências legais da controladoria.
O órgão do governo federal é responsável pela defesa do patrimônio público e pelo incremento da transparência na gestão, por meio de ações de controle interno, auditoria pública, correição, ouvidoria e prevenção e combate à corrupção.