Ataques, mentiras, fila da saúde, falta de remédios nos postos, “sala de lata” de R$ 250 mil, asfalto que “acaba” com chuva de 30 minutos, folha secreta, censura judicial e ataques mútuos marcaram o primeiro debate entre as candidatas a prefeita da Capital, Adriane Lopes (PP) e Rose Modesto (União Brasil).
A candidata de oposição conseguiu o primeiro feito contra a atual prefeita ao responsabiliza-la pela proliferação de moradores de rua e usuários de drogas pelos bairros da cidade. Rose responsabilizou Adriane pelo problema, já que mesmo como vice-prefeita, ela foi responsável pela indicação do titular da Secretaria Municipal de Ação Social e acompanhou de perto o problema. “O número de moradores de rua só cresceu e a Cracolândia se espalhou pelos bairros da Capital. Começou na (antiga Estação) Rodoviária e se espalhou”, criticou a candidata.
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Adriane admitiu que indicou o secretário municipal de Ação Social e teve liberdade para realizar o trabalho na área. Inicialmente, ela minimizou o problema ao aponta-lo como um problema nacional e não restrito a Campo Grande. “O morador de rua é um problema das grandes cidades”, minimizou.
Outro ponto foi o gasto de R$ 42 milhões com a construção das 162 salas de aulas modulares. Rose criticou o gasto de R$ 250 mil por cada sala. “É possível construir cinco casas populares”, comparou. Ela ainda disse que a atual gestão usou uma ata para contratar uma empresa de Minas Gerais investigada pelo Ministério Público para executar a obra.
Adriane não contestou o valor nem contestou a insinuação de que o valor era superfaturado. Como estratégia, ela ressaltou que abriu mais de 6 mil vagas para crianças que estavam sem vaga na rede municipal de ensino. Também destacou que reformou as 205 escolas municipais em um ano.
A candidata do União Brasil questionou a qualidade do asfalto e do recapeamento. Rose citou que a chuva de 30 minutos levou parte da obra de pavimentação. Ela disse que laudo de equipe de engenharia do laboratório da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) para contestar a qualidade do asfalto. A ex-deputada federal disse que R$ 170 milhões foram gastos com a pavimentação, mas lamentou que “parte foi embora” com a chuva de 30 minutos.
Repetindo uma tática de defesa, Adriane acuou a adversária de “falar inverdades” e enumerou as obras de pavimentação em execução, como nos bairros Nova Lima, Ramez Tebet (que ainda via começar, segundo ela), entre outros bairros. Ela disse que conta com usina de asfalto e vai fazer 400 quilômetros.
Folha secreta e censura
Rose questionou o pagamento de altos salários para alguns funcionários e a “folha secreta”, que é alvo de investigação pelo Tribunal de Contas do Estado. “A folha secreta não é ataque, porque existe”, afirmou a candidata de oposição.
Adriane começou festejando uma decisão judicial que, segundo ela, censurou a adversária ao proibi-la de falar sobre o assunto. “Você não pode falar mais de folha secreta. Se alguém cometeu, foi o Marquinhos (Trad, que lhe indicou como vice por dois mandatos)”, acusou.
Em seguida, Adriane partiu para o ataque pessoal contra a adversária. “Você é a rainha do fake news. Eu respondo pelos meus atos, eu assinei o TAG (Termo de Ajustamento de Gestão)”, afirmou sobre o acordo firmado com o TCE, que não é cumprido. Segundo um conselheiro do TCE, a prefeita continua sendo investigada por manter a folha secreta e o pagamento de gratificações para secretários sem publicar os valores no Portal da Transparência. Adriane ameaçou processar criminalmente quem abordar o assunto.
Rose insistiu no tema e ressalto que não vai deixar de falar da folha secreta, do gasto de R$ 386 milhões, que seria suficiente para construir o Hospital Municipal sem empréstimo de R$ 268 milhões e concluir as obras das sete escolas municipais de educação infantil que estão paradas há 12 anos.
Falta de remédios e fila da dor
Rose voltou a lamentar a falta de remédios nas unidades de saúde, inclusive até dipirona no início do ano, coletor de urina, entre outros. Ela ainda destacou a fila de espera por exames, consultas com especialistas e cirurgias, que contam com mais de 70 mil pacientes. A ex-superintendente da Sudeco lamento que muitos morreram ou perderam alguém da família “enquanto esperavam a ligação da Sisreg”, sobre o sistema de regulação.
Sobre a prefeita alegar que não teve tempo de resolver o problema por ter “apenas dois anos”, Rose, que passou o debate afirmando serem quase três anos, alertou que para quem está na fila do SUS é muito tempo. “Dois anos é muito tempo para quem está morrendo ou vendo alguém querido morrer”, criticou. “É uma falta de respeito e amor com o próximo”, lamentou.
Adriane afirmou que a falta de remédio nos postos de saúde ocorreu porque foi sabotada por um funcionário da Secretaria Municipal de Saúde. No entanto, ela não falou o nome e nunca divulgou sobre quem estaria sabotando a cidade. Sobre a falta de remédios, ela disse que já conseguiu repor 91% dos medicamentos previstos na lista do SUS.
Rose emendou que a prefeita deveria tomar providência. “Você ainda continua sendo sabotada, porque continua faltando remédios”, afirmou. Adriane não respondeu.
As duas trocaram farpas sobre o Hospital Municipal, que deve ser construído pela Health Brasil Inteligência em Saúde, empresa ré por corrupção e pelo desvio de R$ 48 milhões na saúde estadual e municipal. Rose defendeu um outro lugar porque não há linhas de ônibus para a população mais carente chegar ao novo hospital. Adriane rebateu que a adversária estava sendo preconceituosa porque pobre não poderia ir em um bairro nobre.
Empresas de Rose
Adriane conseguiu emparedar a adversária ao falar que ela possuir duas empresas, uma na Capital e outra em Rondônia. Ela disse que a candidata, que foi professora, não teria declarado a empresa.
A candidata do União Brasil afirmou que as empresas são familiares. Na Capital, o empreendimento seria de pequenos reparos. “Nunca trabalhou nem recebeu nada do poder público”, gabou-se Rose. “Está tudo declarado lá no meu imposto de renda”, afirmou.
Adriane acusou a opositora de não ter declarado a empresa da Capital à Justiça Eleitoral. “Está mentindo de novo, fala mansa, simpática, soltando mentiras”, reagiu a candidata. “Além de não valorizar o professor, a senhora é contra os professores terem uma pequena empresa? Que preconceito, dona Adriane”, indignou-se Rose.
No contra-ataque, Rose citou a contratação de uma empresa de Curitiba para fazer a manutenção da frota da Guarda Municipal por R$ 500 mil, mas que já teria recebido mais de R$ 27 milhões da prefeitura terceirizando o serviço e sem participar de novas licitações.
Contra servidor público
As duas candidatas acusaram-se mutuamente para ver quem era contra o servidor público, de olho nos 27 mil funcionários municipais. Adriane atacou Rose ao acusa-la de ter votado a favor de um suposto projeto de lei que proibiria reajuste nos salários dos professores e policiais militares por 15 anos e ainda não pagaria por serviços no finais de semana.
“Não tem informação, eu nunca votei contra servidor público”, exaltou-se a candidata do União Brasil. “É o lobo em pele de ovelha, fala mentira, foram tantas mentiras, a fé que a senhora tem”, reagiu Rose. Adriane mandou a equipe subir nas redes sociais para provar a acusação, enquanto a adversária também disse que a sua equipe subiria para rebater a denúncia.
Em seguida, Rose citou o fato de guardas municipais e trabalhadores da enfermagem terem protestado contra a prefeita porque não receberam adicionais de periculosidade e insalubridade.
As duas candidatas se acusaram de propagar fake news contra a outra. As duas destacaram que vão manter o diálogo com o governador Eduardo Riedel (PSDB), Enquanto Rose prometeu buscar recursos com o Governo federal e os ministérios em Brasília, Adriane focou na senadora de oposição, Tereza Cristina (PP).
O próximo embate será na sexta-feira (25) na TV Morena e encerrará a campanha eleitoral do 2º turno.