A 13 dias do primeiro turno das eleições, o parquinho pegou fogo, literalmente, no penúltimo debate entre os candidatos a prefeito de Campo Grande. Ficha suja, incompetência, cargos para apadrinhados, folha secreta, supersalários, papagaio, voto contra velhinhos foram usados para atacar os candidatos, principalmente, a prefeita Adriane Lopes (PP), que disputa a reeleição, o deputado federal Beto Pereira (PSDB) e, pela primeira vez, a líder na corrida, Rose Modesto (União Brasil).
Apesar de ter o apoio disputado pelos candidatos, Jair Bolsonaro (PL), foi solenemente ignorado no debate. Ao ser questionado pelo Beto Figueiró (Novo), o xará tucano ignorou o ex-presidente da República e se apegou ao governador Eduardo Riedel (PSDB). Ele se limitou a destacar que tinha um grande arco de alianças com partidos interessados em mudar a gestão de Campo Grande, sanear as contas e promover mudanças estruturais.
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Em outro ponto, Camila Jara (PT) afirmou que Adriane Lopes não conseguiu os recursos necessários para concluir as obras porque optou por ficar “correndo atrás de micareta”, em alusão as viagens feitas pela prefeita para participar das manifestações convocadas por Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal em São Paulo e no Rio de Janeiro, ao invés de ir a Brasília buscar recursos federais com o Governo Lula (PT).
A gestão de Adriane foi a mais atacada pelos candidatos, principalmente, por estar no município há oito anos, sendo seis como vice-prefeita de Marquinhos Trad (PDT). Ela se defendeu dizendo que assumiu a prefeitura há apenas dois anos e vice não manda nada. A progressista passou o debate repetindo o mantra de que está há dois anos no cargo.
Ficha suja
Em ascensão nas pesquisas, o candidato do PSDB foi o 2º mais atacado na noite, principalmente, pelas contas reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado. No ataque mais incisivo contra o tucano, Rose ressaltou que Beto teve três processos reprovados pelo TCE como prefeito de Terenos. “Você é ficha suja, sim”, acusou a ex-superintendente da Sudeco.
Beto reagiu destacando que teve a candidatura aprovada por um juiz singular e por seis integrantes do TRE, com o aval do Ministério Público Estadual e do Ministério Público Federal. “Esse é factoide”, reagiu o tucano, acusando ser vítima de “uma quadrilha”, de “sites picaretas” e do presidente do TCE, conselheiro Jerson Domingos, que chamou de ex-presidiário.
O conselheiro ficou um dia no Garras. Beto esqueceu que tem o apoio do ex-governador André Puccinelli (MDB), que ficou cinco meses preso acusado pela Polícia Federal e pelo MPF pelo desvio de milhões na Operação Lama Asfáltica. O emedebista não foi lembrado pela adversária.
Rose retrucou o tucano ao detalhar porque as contas foram reprovadas, como aquisição de passagens sem licitação e pagamento por serviços não prestados. “Você teve suas contas reprovadas por três amigos seus, indicados pelo PSDB (para o TCE), os conselheiros Márcio Monteiro, Waldir Neves e Flávio Kayatt”, respondeu a candidata a prefeita.
Ubirajara Martins (DC) aproveitou para elevar o ataque ao dizer que a candidatura de Beto segue sob Júdice. Ele disse que seu partido recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral contra o registro da candidatura do ex-prefeito de Terenos.
Em outro momento, Adriane reforçou o ataque ao destacar que o tucano foi prefeito de Terenos por oito anos e teve três contas reprovadas pelo TCE. Ela ainda acusou o deputado de responder por indícios de desvios de recursos públicos. “É isso que você quer fazer por Campo Grande?”, questionou.
O cientista político Luso Queiroz (PSOL) fez dobradinha com Ubirajara para atacar Beto. O psolista questionou como o tucano vai acomodar os aliados, que “cobram caríssimos”, como André Puccinelli, a senadora Soraya Thronicke (Podemos), o senador Nelsinho Trad (PSD) e o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Ele disse que o presidente regional do PSDB age como se fosse o “Napoleão Bonaparte do Pantanal”.
“Quem conhece o Nelsinho, sabe que ele contrata a família e se tiver a chance, vai por até o cachorro dele na prefeitura”, afirmou. Ubirajara concordou e ainda destacou o uso de recursos públicos pelo tucano, que conta com R$ 10 milhões na campanha, praticamente tudo do Fundo Especial Eleitora, o fundão.
“Claro que as duas candidaturas estão a serviço de alguém e isso é um desrespeito com o eleitor”, afirmou. “Falar, papagaio fala”, ironizou, sobre as críticas. “Não estamos com promessas mirabolantes”, ressaltou.
Confronto de mulheres
Abandonada por Bolsonaro, Adriane tentou usar o cargo de superintendente da Sudeco para ligar Rose ao presidente Lula e ainda a função para acusa-la de não ter feito nada por Campo Grande.
Sobre a nomeação pelo presidente da República, Rose disse que foi indicada pelo União Brasil e teve o apoio dos quatro governadores do Centro-Oeste. Ela admitiu que fez campanha para Bolsonaro em 2022. “o Lula me nomeou pela minha competência, diferente da senhora, que em dois anos, não resolveu o problema de 70 mil (pacientes) na fila da dor”, retrucou.
Adriane citou números da Sudeco, afirmando que a candidata do União Brasil só conseguiu liberar, de concreto, pouco mais de R$ 1 milhão para Campo Grande. Rose rebateu dizendo que não pensa em ideologia, insinuando que Adriane priorizou a ideologia da extrema direita no comando da Capital. Ela disse que em dois anos seria um orgulho para as mulheres.
Em outro ponto, Beto Figueiró tentou usar Marquinhos, que é candidato a vereador pelo PDT, para atacar a ex-superintendente da Sudeco. Rose reagiu dizendo que fez aliança com partido e não com candidato a vereador e ainda lembrou que apoio Figueiró quando ele foi candidato a vice-governador na chapa de Capitão Contar em 2022.
Administração de Adriane virou saco de pancadas
A gestão de Adriane Lopes foi o principal saco de pancadas da noite. Ubirajara Martins atacou o investimento de R$ 300 milhões no hospital municipal, que ainda vai custar R$ 5 milhões por mês ao município, enquanto os postos de saúde seguem sem médicos e remédios. “Não tem um simples remédio de pressão”, cutucou Camila Jara.
Rose e Luso lamentaram o aumento no número de favelas em Campo Grande. Eles citaram a existência de 70 conglomerados irregulares. “Vou acabar com as 75 favelas, resultado da incompetência da prefeitura e do Governo do Estado”, acusou o cientista político.
Beto Pereira criticou a manutenção dos corredores do transporte coletivo por Adriane. “A senhora está há oito anos na prefeitura e deu continuidade aos pontos de ônibus no meio da rua”, lamentou o tucano. Ele promete tirar os terminais inacabados nas avenidas Marechal Deodoro e Gunter Hans a marretadas. “É um verdadeiro caos para os comerciantes. Quebraram os comerciantes, como fizeram com a Rua 14 de Julho”, endossou Figueiró.
Adriane defendeu a conclusão dos corredores do transporte coletivo, porque o recurso é federal e o projeto deve ser executado até o final. Ela disse que tem responsabilidade, vai concluir os corredores projetados pelo antecessor, Marquinhos Trad, e só após avaliar o impacto do projeto, poderá revê-lo. “Se não houver eficiência e eficácia”, ponderou, sobre a hipótese de retirar os corredores. Ou seja, só após gastar os R$ 120 milhões, ela admite acabar com os corredores do transporte coletivo.
Rose afirmou que Adriane poderia concluir as obras inacabadas se acabasse com a folha secreta e os supersalários. Ela ainda disse que a prefeita não soube aproveitar o acréscimo de R$ 300 milhões na receita do Fundeb para zerar as vagas nas escolas municipais de educação infantil e concluir as obras inacabadas.
Em um ponto do debate, Adriane reagiu ao dizer que a “folha secreta” foi invenção de André Puccinelli e que teria acabado com a ilegalidade. Beto Pereira reafirmou que a prefeita não só manteve a folha secreta, como incluiu a cunhada entre os beneficiários com supersalários. O tucano enfatizou em mais de uma ocasião que vai acabar com a folha secreta.
Adriane foi ironizada após enumerar as realizações em dois anos na Capital. “Não é isso que a gente ouve dos servidores. Fico tentando encontrar essa cidade que não existe”, ironizou. “Maravilhoso não sei para quem”, reforçou Ubirajara.
O debate permitiu confronto direto entre os candidatos. Dos embates realizados até o momento foi o menos engessado e mais combativo.