A onda de calor com temperaturas recordes e o incêndio sem controle no País, o tombamento do Parque dos Poderes entrou na agenda dos candidatos a prefeito de Campo Grande como um dos pontos fundamentais para a preservação do meio ambiente. “Quando a gente discute a preservação do complexo do parque, estamos discutindo a preservação da vida”, alerta Jesus Alfredo Ruiz Sulzer, coordenador do Movimento de Preservação da Natureza.
O grupo vai se reunir com os candidatos a prefeito de Campo Grande para defender o tombamento do complexo formado pelos parques dos Poderes, do Prosa e das Nações Indígenas. A medida é apontada como estratégica para evitar o desmatamento defendido pelas autoridades responsáveis pelos órgãos instalados na região.
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“É notável a importância da preservação desse Complexo Ambiental para manter o meio ambiente equilibrado não só por uma exigência atual, como também como legado às gerações futuras. Como planejar e construir cidades inteligentes e ambientalmente equilibradas, em época de profundas mudanças climáticas, sem conservar o patrimônio ambiental existente?”, alerta o movimento, em carta à sociedade campo-grandense.
A mudança de mentalidade é urgentíssima, principalmente, diante dos cenários apocalípticos, como fogo fora de controle no campo e na cidade, rios secando e temperaturas batendo recordes sucessivos.
“Do jeito que as coisas estão indo, o clima maluco e as consequências disso, falta de chuvas, muito calor, nas lavouras, vai ter um custo na vida das pessoas”, alerta Sulzer. “Preservar o Complexo do Parques dos Poderes, com certeza faz parte de um projeto de cidade sustentável e inteligente. Temos quase 1 milhão de habitantes e ainda conseguimos manter a nossa Capital Morena boa de morar. A cidade das araras? A cidade das árvores? A cidade dos ipês? A capital da observação de pássaros? A cidade onde encontramos transitando pelas ruas, capivaras, antas, tamanduás, cobras…”, questiona.
“Tudo isso nos faz privilegiados, orgulhosos quando falamos de Campo Grande. Qual capital em nosso país pode mostrar isso? Essa realidade não existe por mero acidente da natureza, é resultado de uma vocação preservacionista da nossa população. Derrubar a vegetação existente para construir palácios inúteis e estacionamentos, contraria a nossa índole de amor à natureza”, lamenta, sobre a proposta do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Sérgio Martins, de construir o Palácio da Justiça.
“Colocamos no documento a necessidade do tombamento devido ao comportamento irresponsável do Tribunal de Justiça e do Governo do MS que não respeitam a Lei Estadual n°5327/18. Ela identifica as áreas que devem ser preservadas. Ou seja, não adianta uma Lei preservacionista se as autoridades que deveriam dar exemplo a desrespeitam. Nenhum dos candidatos se comprometeu com o tombamento”, afirma Sulzer.
O grupo já se reuniu com a ex-superintendente regional da Sudeco, Rose Modesto (União Brasil), e com o deputado federal Beto Pereira (PSDB). A intenção é apresentar a demanda e tentar sensibilizar os demais candidatos ainda antes do primeiro turno.
A advogada Giselle Marques, que liderou outro grupo contra o desmatamento do Parque dos Poderes, também defende a preservação do local. “O Complexo do Parque dos Poderes vem sendo constantemente ameaçado pelo desmatamento e pelo retrocesso ambiental do Plano Diretor de Campo Grande. A vegetação nativa do Parque garante uma ilha de frescor para a cidade, que vai ser negativamente atingida pelas edificações do entorno”, alerta.
A preservação do Parque, uma área de 285 hectares, pode evitar o agravamento dos problemas climáticos em Campo Grande, como o calor recorde, os alagamentos e as inundações. Estudos divulgados por ambientalistas alertam que o desmatamento do local não vai apenas acabar com habitat natural dos animais, como vai ter consequências gravíssimas para o meio ambiente.
“O tombamento é o caminho mais seguro para manter preservado e em equilíbrio ambiental o Complexo do Parque dos Poderes. Por isso, esperamos que, como candidato à Prefeitura de nossa Capital, seja incorporado aos compromissos de seu eventual Governo a preservação e o respeito à Lei estadual em vigor, com o compromisso explícito de tombamento da área desse Complexo, seja com a iniciativa de projeto próprio, seja emprestando decidido e explícito apoio aos projetos de tombamento em curso, em qualquer caso, após amplo debate com a sociedade”, propõe o Movimento Popular – Preservação da Natureza.
A esperança é de que a próxima prefeita ou prefeito da Capital tenha a visão de futuro e grandeza, como Pedro Pedrossian, político responsável pela criação do Parque dos Poderes. Que entrem para a história como visionários da construção de uma cidade com qualidade de vida e não como seguidores da besta do Apocalipse.