A guerra que trucidou a população do Paraguai (1864-1870) no embate com a tríplice aliança, estruturada por Brasil, Uruguai e Argentina e as turbulências também motivadas por conflitos armados, num mesmo período, lá do outro lado do mundo, o Japão, desventuradamente cooperou com a fundação e a expansão econômica de Campo Grande, a Capital de Mato Grosso do Sul, que completa 125 anos nesta segunda-feira, dia 26 de agosto.
Na guerra com o Paraguai, passaram por aqui até avançar a faixa de fronteira um grande número de soldados dos quatro cantos do território brasileiro, a maioria de Minas Gerais. Para se ter ideia da desigual força que havia entre Paraguai e os países aliados, basta uma rápida espiada nos números de mortos no conflito.
Veja mais:
Enigma desde anos 60, esvaziamento do Centro vira problema sem solução à vista e gargalo
Candidatos a prefeito da Capital terão maratona de seis debates no primeiro turno
MS tem 82 candidatos a prefeito milionários e só três são da Capital; 11 superam R$ 10 mi
Dados estimados indicam que ao menos 600 mil guerreiros paraguaios morreram no embate. Daí, restaram 200 mil habitantes no país vizinho, entre os quais 15 mil identificados como do sexo masculino e, entre eles, a maioria crianças de até dez anos de idade. Um massacre.
Já do lado brasileiro, que pôs 123 mil homens no campo de batalha, em torno de 50 mil morreram.
Terminado o confronto, soldados brasileiros foram embora para as suas casas. Lá, espalharam a ideia de que aqui havia terras férteis e disseram que souberam da possibilidade de ocuparem, legalmente, uma inúmera quantidade de glebas, as chamadas terras devolutas, desabitadas, vazias.
O assunto interessou José Antônio Pereira, que mexia com a pecuária, lá pelas regiões das cidades mineiras de Barbacena, onde nasceu em março de 1825, e São João del Rei, lugar que também nasceu e o corpo foi enterrado, do famoso político brasileiro, Tancredo Neves, em abril de 1985.
Aos 47 anos de idade, em 1872, 152 atrás, José Antônio fez uma longa viagem, vindo de São João del Rei para a hoje Campo Grande, distância aproximada de 1.250 km.
Veio, gostou e plantou até roça. Ele retornou para Minas Gerais, e, em 1875, juntou uma comitiva de 65 pessoas, entre elas toda família, como mulher e filhos e vieram de vez. Aqui, na Cidade Morena,. já havia habitantes. No entanto, o lugar virou cidade em 1899 e, pela história narrada em revistas e livros, chama-se José Antônio Pereira seu fundador.
Anos depois, por volta de 1914, foi a vez dos japoneses. Espantados por períodos conflituosos, deixaram o país e para cá vieram. Os orientais ocuparem-se, primeiro, na construção da estrada ferroviária, que cruzava o hoje Mato Grosso do Sul até a fronteira com a Bolívia, em Corumbá. Ao mesmo tempo, outros japoneses assumiram atividades ligadas à produção de alimentos e hortifrutigranjeiros.
Ainda neste período, surgiram os libaneses, que deram início às atividades comerciais, como criação de lojas que vendiam roupas e outras mercadorias na Rua 14 de Julho, situada no coração da cidade.
À época, narram livros históricos que uma grande quantidade de paraguaios, ainda avexados pela guerra também vieram para Campo Grande, já conhecida como a Cidade Morena. Algo em torno de 30% da população, ou eram paraguaios, ou descendentes de habitantes do país vizinho.
Imigração
Já há cinco anos, o jornalista Edmir Conceição, deu início a uma obra literária que retrata o começo Campo Grande. Aqui um trecho do livro, ainda não publicado de Edmir:
“A imigração, que se desencadeou no início do século XX em razão das necessidades de mão-de-obra nos campos e nas cidades devido a abolição da escravidão, também teve papel fundamental na construção da cidade e na afirmação da nova identidade cultural de Campo Grande.
Uma afirmação tão forte que a Cidade Morena chegou a inspirar o morenismo, movimento que buscava realçar esse perfil nascido da miscigenação, mas não prosperou porque já estava delineada, com a junção das várias culturas, costumes e tradições de seus habitantes, a identidade mestiça da cidade.
Campo Grande juntou as culturas dos espanhóis, italianos, portugueses, japoneses, sírio-libaneses, armênios, paraguaios, bolivianos, negros e índios e a qualidade de vida acabou por atrair pessoas de vários outros estados do Brasil, especialmente dos vizinhos São Paulo, Paraná e Minas Gerais, além Rio Grande do Sul.
É de Terenos, a 23 quilômetros de Campo Grande, o primeiro registro da chegada de imigrantes. Nas primeiras décadas do século XX, os espanhóis chegaram a Campo Grande. Depois vieram os italianos e os japoneses.
Com o final da construção da antiga NOB (Ferrovia Noroeste do 21 Brasil) entre 1914 e 1915, muitos japoneses se fixaram em Campo Grande. Como havia deficiência na produção de hortifrutigranjeiros na região e os preços dos alimentos eram exorbitantes, um grupo de sete famílias formou um núcleo de colonização que se chamou Mata do Segredo, e foram estes pioneiros que impulsionaram o surgimento de outros núcleos de japoneses na região”.
Pequenas partes da história
No início de 1900, período que Campo Grande completava uma década de fundação, a população da cidade não alcançava 5 mil habitantes. Hoje, beira a casa de 1 milhão de moradores. A economia do município está centrada no setor terciário, serviços e comércio, e é tida como uma das mais fortes entre as capitais brasileira.
Bernardo Franco Baís foi o primeiro prefeito eleito de Campo Grande, em novembro de 1902. Ele nem assumiu por ser um imigrante italiano. No lugar dele assumiu Francisco Mestre, que era o vice.
De lá prá cá, a cidade foi administrada por 65 prefeitos, contando com a última, Adriane Lopes (PP).
Daqui dois meses, período da eleição, oito candidatos disputam a prefeitura que festeja nesta segunda (26) 125 anos de fundação.
Problemas pontuais ainda incomodam a população, como a saúde – Campo Grande, embora centenária, não tem um pronto-socorro administrado pela prefeitura da cidade.
Por regra, todo município tem seu pronto-socorro.
Há bairros carentes de estrutura, como a pavimentação asfáltica. Números estimados indicam que foram erguidas em torno de 40 favelas na cidade nos últimos anos.