Felipe Ricci confessa que está em um momento de euforia por ter desembarcado em Lisboa, capital portuguesa, há poucos meses. Pelas ruas de uma das principais cidades da Península Ibérica, o vendedor de 30 anos ainda está embriagado com o ar cosmopolita, histórico e, ao mesmo tempo, tradicional lisboeta. Em meio às novidades que o invadem todos os dias, sente ainda a força de algo que somente Campo Grande, a cidade natal dele, poderia oferecer: família. “ Eu nasci em Campo Grande, eu sou campo-grandense. É lá que estão minha mãe, meu irmão, meu pai, meus avós”.
Família e passeios são a lembrança que a Morena deixou em Felipe
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O nó apertado dos laços familiares é o que mantém Felipe em sintonia com a cidade Morena, que ele optou por deixar e, por enquanto, não pretende retornar. A decisão integra o processo de descoberta sobre uma nova forma de vivenciar a cidadania em um local onde a cultura como bem público de acesso universal à população é prioridade. O rapaz também quer aproveitar para mergulhar um pouco mais fundo na Europa e se imiscuir pelo Velho Continente.
Enquanto planeja viagens e a vida acadêmica, Felipe confessa que, além dos familiares, sobram lembranças dos passeios pelas ruas campo-grandenses e do equipamento cultural que, na avaliação dele, ainda é pequeno, apesar de rico. Para o rapaz, uma pitada do modo português de gestão cultural faria bem aos habitantes de Campo Grande. Essas lacunas ajudam a justificar a escolha por migrar.
“Eu sou caseiro, e não me encaixava na cultura local que prioriza o barzinho. Havia poucas opções culturais e isso, aos poucos, me deixou inquieto. O barzinho e a festa, de alguma forma, não faziam os meus olhos brilharem. Eu não tinha aptidão para aquilo”.
Na crescente inquietude típica de quem ainda é muito jovem, Felipe olhou para a própria vida, para Campo Grande, para um emprego estável e decidiu partir. “Pensei: Opa! O que estou fazendo da minha vida além de trabalhar e estar em casa, né? Foi quando pensei em migrar para Portugal”.
Pesou na decisão o fator idioma, porque o rapaz admite ainda não ter um nível de inglês afiado, mas, para ficar, a descoberta da cultura universal tem sido a fiel na balança no desejo dele de não retornar a morar em Campo Grande.
De um universo de 50 museus, também existem em Lisboa casas de cultura, conservatórios de música e a disponibilidade de passeios históricos que ajudam o morador ou visitante a mergulhar no passado lisboeta. Por outro lado, o governo luso tem aplicado nos últimos anos, um conjunto de políticas voltadas a atrair empresas, investidores e turistas de diversos países, o que resulta em uma babel de Norte a Sul de Portugal. Somente em 2023, aportaram em Portugal 3,5 milhões de visitantes.
É esse sabor de passado misturado ao futuro que instiga Felipe a querer, um dia, colaborar com o crescimento da cidade Morena. “Quero contribuir com Campo Grande. Penso em me graduar aqui, levar conhecimento e experiência para lá, ajudar no fomento, e ajudar a reduzir a essa disparidade na qualidade de vida que hoje é muito grande”.