Período de eleição municipal vai e vem e segue um enrosco que nem candidatos nem eleitos conseguem extinguir, já há décadas: o esvaziamento do centro de Campo Grande. Planos eles têm no papel e no discurso, mas o tema parece ter fincado o pé na cidade e dali não quer sair. Concorrentes a ocupar a cadeira de prefeito ou prefeita acham que podem conter o esvaziamento com projetos ligados à arte, cultura, esporte, habitação. Até brigar por redução nos alugueis dos comerciantes que saíram do centro por não poder custear os reajustes.
O Jacaré provocou os oito candidatos que brigam pela administração da cidade para discutir o assunto. No entanto, dois deles – Luso Queiroz, do PSOL e Beto Figueiró, do Novo – não responderam à questão, enviada há uma semana pela reportagem.
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O esvaziamento do Centro se transformou em um problema gravíssimo, com o aumento de prédios desocupados e de moradores de rua, inclusive dependentes químicos. A principal desafio é atrair novos moradores e criar meios para o consumidor voltar ao coração do comércio campo-grandense.
Incentivar a cultura e criar vida noturna – Rose
Rose, se vencer a eleição, qual seria o projeto seu para afastar o esvaziamento do centro?
E ela disse:
“O Centro é coração de uma cidade. O nosso centro também guarda a memória do começo da nossa querida Campo Grande. Na pré-campanha, tivemos inúmeros encontros com os moradores e comerciantes da região que trouxeram para nós os desafios que enfrentam ali. Obras mal planejadas, pandemia, compras via internet, expansão do comércio nos bairros, a criminalidade e grande número de usuários de drogas são alguns dos problemas da região.
Junto com essa população e nossa equipe de especialistas, construímos o “Pra Frente Centro”, que engloba propostas para fazer aquela região reencontrar sua identidade. Vamos levar projetos itinerantes de arte, cultura, esporte, incentivar eventos de gastronomia e promover a movimentação noturna também, como acontece na Avenida Bom Pastor”.
Seguiu a candidata:
“Mas, primeiro, nossa ideia é reforçar a segurança, com mais câmeras de monitoramento e a presença de guardas, com o apoio da Polícia Militar para coibir furtos e para não deixar a região virar uma “Cracolândia”. Esse assunto é muito sério, uma questão, inclusive de saúde pública. Hoje, a saúde mental esta subdimensionada em Campo Grande. Precisamos olhar para esse problema, que é um dos grandes desafios deste século. É fundamental ampliar esse atendimento e dar dignidade a essas pessoas.
Temos ao nosso lado, como candidato a vice-prefeito, o empresário e diretor secretário da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande), Roberto Oshiro, que, com sua vasta experiência vai nos ajudar a reinventar e devolver vida ao Centro de Campo Grande. Juntos, prefeitura, moradores e comerciantes vamos recuperar a alma do Centro”.
Criar alternativas para ocupação comercial e residencial – Beto Pereira
“Sobre acender a história do Centro de Campo Grande, Beto Pereira aponta a necessidade de criar alternativas para a ocupação comercial e residencial da região central. Promover a ocupação consciente e planejada é uma forma de tornar o local vivo e seguro.
As ações passam por organizar melhor as vagas de estacionamento, por mais incentivos para comerciantes se estabelecerem no local, por criar alternativas culturais no centro e principalmente por garantir a segurança de comerciantes, consumidores e moradores da área central”.
Obra milionária esvazio o Centro – Jorge Batista
Jorge Batista, que é comerciante, do PCO, disse ter conversando com os moradores e comerciantes da parte central de Campo Grande. Ele afirmou que sabe ao certo um dos motivos do esvaziamento da região.
Uma das questões apontadas por Batista tem a ver com o programa Reviva Centro, que revitalizou a rua 14 de Julho.
A obra que consumiu milhões de reais da prefeitura, acredita o candidato, acabou tendo resultado invertido, ou seja, ao invés de atrair público, modernizar e aquecer o comércio, resultou no afastamento de comerciantes que há anos explorava atividades comerciais em vias centrais.
Batista disse que, em caso de vitória, sua equipe vai tentar junto aos donos dos imóveis em reduzir o valor dos alugueis, meio de recuperar os comerciantes que saíram dali depois da execução do projeto Reviva Centro.
“Antes, tudo que a gente precisava achava para comprar na parte central da cidade, hoje não é mais assim”, disse Jorge Batista.
Convencer ex-morador a voltar a morar no Centro – Adriane
Adriane Lopes, do PP, candidata à reeleição, por meio da assessoria de imprensa, disse que uma das medidas a tomar contra o esvaziamento é a de convencer os ex-moradores que de lá se mudaram a voltarem.
“Nosso desafio é incentivar as pessoas a voltarem a residir na área central. Para isso, estamos trabalhando em todas as frentes, investindo também na cultura. Essa união de forças é fundamental para que a cidade possa avançar, pois é muito válido quando somamos experiências para construir um projeto juntos”, disse.
Adriane afirmou, também, que no período de dois anos e meio como prefeita sua gestão “liderado um trabalho unificado e estratégico para o resgate e o fomento do progresso da região central de Campo Grande, integrando setores como Segurança, Habitação, Turismo e Desenvolvimento Econômico, e focando na qualificação de espaços verdes para dinamizar a economia local”.
Texto enviado pela assessoria indica ainda que “com uma visão de longo prazo, Adriane tem implementado medidas inovadoras que já mostram resultados promissores na recuperação do centro da cidade”.
De três décadas para cá, a região Central de Campo Grande perdeu ao menos 20 mil moradores.
Combater os vazios urbanos e melhorar mobilidade – Camila
A assessoria de imprensa de Camila Jara mandou a O Jacaré o programa de governo da petista. Num dos trechos do estudo, assim é tratado a questão de vazio urbano. A candidata optou por não se manifestar.
“A área urbana cresceu a partir de um planejamento clientelista, atendendo alguns setores da sociedade, que resultou em extensos vazios urbanos com muita especulação imobiliária, levando conjuntos habitacionais populares para regiões distantes, sem equipamentos sociais e infraestrutura adequada, formando bolsões de pobreza, com grande número de população excluída das benfeitorias da cidade.
O distanciamento dos bairros mais populosos em relação ao centro e aos locais de emprego forçam a utilização do carro como forma de locomoção e se torna desfavorável a uma política de mobilidade urbana sustentável, que deve incluir ônibus elétricos, mobilidade ativa por meio calçadas caminháveis e acessíveis, de ciclovias e ciclofaixas e de toda infraestrutura cicloviária.
A cidade deve investir em ações urbanísticas de melhoria dos bairros e regiões urbanas, incentivar a ocupação dos vazios urbanos para proporcionar novos espaços de trabalho, convivência e lazer, com novos padrões de socialização e identificação dos habitantes com sua cidade, valorizando a memória e as expressões públicas de diferentes identidades culturais”.
Revitalização da Praça Ary Coelho e industrialização – Ubirajara
Já UBIRAJARA MARTINS, do DC, foi bem sucinto na resposta ao ser questionado o que faria para pôr fim ao esvaziamento em caso de sua eleição?
Assim ele manifestou-se:
Ubirajara disse que vai focar em projetos ligados a “revitalização da praça Ary Coelho, industrialização para aquecer a economia da Capital, e criar mais espaço para estacionamento de veículos e também promover incentivos fiscais”.
Alugueis caríssimos
Reportagem de O Jacaré caminhou trechos da 14 de Julho e, em conversas reservadas, soube que os comerciantes que dali seguiram outros rumos, bairros distantes, alguns, notaram que não conseguiriam pagar os alugueis que teriam sofrido “exagerados aumentos”.
“Gente que pagava R$ 2 mil, R$ 3 mil foi forçada a assinar contratos de R$ 6 mil, R$ 8 mil, até R$ 10 mil mensais. Ou trabalhava só para pagar aluguel ou desistia”, disse um comerciante que hoje atua na região da UFMS, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, na saída para São Paulo.
Os sem propostas
As opiniões acerca do esvaziamento do centro de Luso Queiroz, candidato do PSOL e Beto Figueiró, do Novo, não apareceram neste material porque eles não responderam os pedidos da reportagem.