Até dias antes das convenções partidárias, coisa de duas semanas atrás, uma regra política que define quem é parceiro de quem na disputa das eleições municipais, aqui em Campo Grande, ao menos três dos oito candidatos a comandar a prefeitura, deflagraram uma “briga de foice” com a certeza de que o campeão ou campeã do duelo seria escolhido para preencher o arco de aliança com o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).
Venceu a batalha o que parecia menos favorito, o deputado federal Beto Pereira (PSDB). Candidata à reeleição, Adriane Lopes (PP) e Beto Figueiró (Novo), ficaram rosnando, incrédulos com o resultado.
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Passado o conflito, o trio ficou frente a frente, no debate promovido pela ACP (Associação Campo-grandense dos Professores), na noite de segunda-feira (19). Bolsonaro, por algumas vezes virou alvo de ataques dos concorrentes à prefeitura. Ficou evidente algo inesperado: ninguém que quis e nem quis antes a parceria do ex-presidente o defendeu. Ninguém.
Nem Beto Figueiró que, antes do início da campanha, jurava fidelidade ao ex-mandatário, ser o único candidato “de direita” foi capaz de contrapor as ofensivas dirigidas a Bolsonaro.
Camila Jara, também deputada federal, candidata à prefeitura pelo PT, disse num trecho em alto e bom tom do debate que “não tinha como defender a educação e apoiar o Bolsonaro”,
A parlamentar seguiu afrontando: disse que o ex-presidente havia cortado recursos da educação e protestado contra as reivindicações dos estudantes. Camila arrematou o raciocínio dizendo que “é preciso ter lado, lado de quem investe na educação”.
Nem Adriane nem Beto Pereira nem Rose Modesto, do União Brasil, sigla partidária surgida por meio da fusão do DEM e PSL, partidos de direita, então alinhados a Bolsonaro, sequer outro participante do debate comentou o protesto da petista contra Bolsonaro. Camila chegou a dizer que no período do ex-mandatário não havia nem papel higiênico em instituições de ensino.
Fugindo do prometido, o de fiel defensor da direita, de Bolsonaro, Beto Figueiró saiu com esta: “o meu herói morreu na cruz e o dela [Camila] foi condenado em todas as instâncias”, uma referência a prisão e condenação que depois foi anulada do presidente Lula.
Por duas ou três vezes, Figueiró elogiou Camila por ela assumir a condição de candidata da esquerda, tanto que foi ao debate vestida de vermelho.
Enganou-se quem achou que o elogio do candidato do Novo era revestido de legitimidade. Na verdade, Figueiró queria, de fato, dar recado ao xará, o Beto Pereira.
Por seguidas vezes, o candidato quis atacar o concorrente do PSDB, o que conquistou a aliança com o partido de Bolsonaro.
Figueiró disse que Beto Pereira teria “uma queda” pelo partido comunista e isso seria um desacato à ideologia pregada pelos bolsonaristas.
Ou seja, este aqui é o real significado do elogio disparado à Camila: a candidata petista seria verdadeira ao vestir vermelho e falar mal de Bolsonaro. Já Beto Pereira seria um embusteiro ao disputar a eleição ao lado da sigla do ex-mandatário, mesmo sendo “comunista”.
O debate foi marcado, ainda, por vaias destinadas a Figueiró, que chamou de lavagem a merenda dos alunos de escolas tocadas pela prefeita de Campo Grande. Adriane não contestou o colega de direita.
Para espanto e surpresa geral, a defesa da merenda servida nas escolas municipais foi feita pelo cientista social Luso Queiroz (PSOL), que defendeu a qualidade da alimentação servida por causa das merendeiras e diretores das escolas.
Ele ironizou o pecuarista que prometeu servir a comida oferecida por Moisés no deserto. O esquerdista questionou se Figueiró serviria “maná” às crianças e o chamou de louco, causando a fúria do candidato da direita, que criticou todo mundo, mas não aguentou um puxão de orelhas e ameaçou partir para cima do psolista dizendo “ser homem e não moleque”.