O primeiro debate na corrida pela Prefeitura de Campo Grande trouxe candidatos repetindo velhas promessas contra as mazelas da Educação, tema centra do encontro; postulante da Direita causando furor ao classificar a merenda da rede municipal de ensino como lavagem; uma plateia indisciplinada, que fez lembrar sala de aula onde muitos atuam; e se houve uma unanimidade foi o tribunal da internet: do cabelo à juventude dos concorrentes, a claque virtual não poupou ninguém.
O encontro entre seis dos oito candidatos aconteceu na ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública), com transmissão pelas redes sociais. De um lado da tela, os candidatos trazendo velhas promessas, do outro, os comentários em ebulição, com pico de 269 pessoas assistindo por meio do Instagram.
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Ali, se criticou o corte de cabelo, se questionou se os postulantes mais jovens tinham “fugido do parquinho”, se chamou gente de ficha limpa e de ficha suja e houve até mesmo menção a prática de aborto. Do lamaçal, veio o puxão orelha coerente: cadê a transmissão em Libras?
O debate teve formato em quatro blocos e como apenas o segundo foi de confronto direto, não foram tantas as opções para que os candidatos duelassem. Também se nota o esforço para não ser um modelo muito engessado e arrastado, daqueles debates que logo dão sono no público.
Os momentos de maior reação da plateia presente e virtual foram sobre as declarações de Beto Figueiró, que comparou a merenda à lavagem, restos servidos aos porcos.
Ele disse que quer matricular a filha de oito anos na escola pública e não pode concordar que seja servida “carne mal-cheirosa e de má qualidade”. Então, contou que pretende adotar em Campo Grande “projeto que Moisés fez com o povo hebreu”, unindo alimentação e educação. No fim do debate, ele se recusou a assinar um termo que reunia as reivindicações da categoria. “Não vou assinar a lista porque é tímida, acanhada, uma lista miserável”, disparou, garantindo mais um momento ruidoso da plateia.
Atual prefeita, Adriane Lopes (PP) defendeu sua gestão com números e ganhou aplausos ao mencionar a convocação de mais 487 professores aprovados em concurso. Ela também citou a construção de 150 salas de aulas e prometeu concursos para merendeira e monitor de aluno. Curiosamente, não defendeu a merenda servida nas escolas. “Falo de metas, e não no infinitivo, mas no presente, realizamos, concretizamos”.
O papel coube ao candidato Luso Queiroz (Psol), que, salvo a defesa das merendeiras, criticou geral. O candidato se apresentou como único concorrente que poderia ser largado na rua e saberia pegar o ônibus até em casa, disse que nunca teve contas reprovadas e nem envolvimento em Coffee Break, “diretas” para Beto Pereira (PSDB) e Rose Modesto (União Brasil).
Ex-prefeito de Terenos, Beto Pereira destacou sua experiência como gestor e as medidas na Educação: criação de escola em tempo integral, fim do déficit para vagas em creche e o projeto em que cada aluno tinha seu computador. Para Campo Grande, prometeu acabar com as obras paradas, inclusive de quase uma dezena de escolas, “que são hoje alojamentos de drogados”.
Rose Modesto lembrou que foram anos em sala de aula, atuando como professora e disse que adotará essa visão de mundo para administrar a cidade. “Vou acabar com a dor de mais de 70 mil pessoas na fila do SUS, são mais de mil quilômetros de asfalto que não chegou, ônibus que não funciona como deveria funcionar. Gestão sob o olhar e a visão de uma professora”.
Camila Jara (PT) disse que a indignação com as condições de ensino lhe levou para a política. Na universidade, pretendia ter acesso à pesquisa, mas os alunos precisavam lutar pelo básico do básico: papel higiênico. “Esse foi o projeto Bolsonaro para a Educação. Não existe defender a educação pública e apoiar ex-presidente que penalizou tanto a Educação”. O ex-presidente Bolsonaro (PL) apoia Beto Pereira e foi cobiçado por Adriane Lopes.
Apesar das muitas tentativas do mediador do debate, o jornalista Marcos Anelo, os candidatos acabavam fugindo do tema das perguntas. Mas, quando se falou sobre a pauta principal, a sensação é de que há décadas o ensino em Campo Grande não sai do lugar, com pedidos para climatizar sala de aulas, pagar integralmente o piso salarial dos professores e zerar a fila de espera por vaga na educação infantil, onde aguardam oito mil crianças campo-grandenses. Enquanto os pequeninos dormem, os políticos debatem.