A gestão de Adriane Lopes (PP) foi o principal alvo de ataques no primeiro debate dos candidatos a prefeito de Campo Grande, realizado na noite desta segunda-feira (19) pela ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública). A prefeita reagiu atacando o PSDB para atingir os dois principais concorrentes, o deputado federal Beto Pereira (PSDB) e a ex-superintendente da Sudeco, Rose Modesto (União Brasil).
O pecuarista e empresário Beto Figueiró (Novo) enfrentou a vaia dos professores ao “incorporar” o espírito de candidato antissistema e tentar conquistar os bolsonaristas ao se apresentar como o único candidato contra o comunismo. Ele quase perdeu o controle ao ser chamado de “louco” pelo cientista social Luso Queiroz (PSOL), que debochou de Figueiró por ter defendido como merenda nas escolas o mesmo alimento dado por Moisés aos hebreus.
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Esse foi o primeiro confronto entre os seis candidatos a prefeito da Capital. Excluído do evento, por não ter representação no Congresso Nacional, o advogado Ubirajara Martins (DC), protestou na porta da ACP por ter sido excluído do debate entre os professores.
Dividido em quatro blocos, o debate foi marcado por alfinetadas e ataques entre os candidatos. A folha secreta, as salas de aulas modulares, o fim dos laboratórios de ciências, as medidas na educação especial e a crise financeira foram usados pelos adversários para atacar a gestão de Adriane.
A prefeita atacou, principalmente, o PSDB, que comandou a Secretaria Municipal da Educação nas gestões de Nelsinho Trad e André Puccinelli para responsabilizar os tucanos pelos problemas da educação, como estratégia para atingir Rose, que foi filiado ao PSDB até 2022, e Beto Pereira.
Camila Jara (PT) aproveitou para cutucar Adriane por ser bolsonarista. Conforme a petista, a prefeita não pode fazer muito pela educação sendo aliada de Jair Bolsonaro (PL), que teve a gestão marcada por cortes na educação. Ela ainda atribuiu ao ex-presidente a reforma da previdência, que elevou a alíquota de 11% para 14% dos aposentados e pensionistas.
Duelo de mulheres
O primeiro confronto ocorreu entre Adriane e Rose. A ex-deputada federal criticou a prefeita por não cumprir a Lei do Piso de 20 horas do magistério, que apesar de estar previsto em lei desde 2012, ainda não foi totalmente cumprido. Ela explicou que os docentes já poderiam estar recebendo 100% do piso nacional para jornada de 20h porque houve aumento no repasse do Fundeb para Campo Grande.
Também disse que irá fortalecer a educação especial, que teria sido desmontada na atual gestão. Ele ainda promete implementar o piso nacional para os administrativos da educação.
Na defensiva, Adriane atacou o PSDB, que comandou a educação do município e lembrou que Rose fez parte do partido. “O PSDB esteve a frente da educação por anos, nas gestões do André, do Nelsinho, e não cumpriu”, acusou, apesar dos tucanos terem deixado o comando da Semed em 2015.
Rose retrucou dizendo que nunca foi secretária de educação nem prefeita da Capital. “O PSDB responde pelo PSDB”, rebateu a candidata a prefeita pelo União Brasil. Ela atacou Adriane por falta de gestão e por não ter cumprido a Lei do Piso do Magistério em dois anos. “Eu vou resolver no primeiro ano”, prometeu.
A qualidade da merenda e Moisés
No confronto com Adriane e Rose, Figueiró se apresentou como candidato de direita e contra o sistema político profissional. Ele chegou a mirar no concorrente homônimo ao destacar que o PSDB está coligado com o Cidadania, partido que já foi chamado de Partido Comunista Brasileiro no passado.
No entanto, o ponto alto foi o candidato do novo questionar a merenda servida nas escolas municipais. Ele classificou a alimentação servida às crianças como “lavagem” – comida servida aos porcos.
Vaiado pelos trabalhadores em educação, Figueiró reagiu e chamou o grupo de “esquerda maldita”. Revoltado com a falta de tempo e após brigar com a organização do debate por um minuto, o candidato do Novo se contentou com 40 segundos, tempo mais que suficiente para soltar a proposta mais inusitada da noite: levar para as escolas a mesma alimentação fornecida por Moisés ao povo hebreu durante a saga até a terra prometida.
Conforme a Bíblia, durante a jornada, o povo de Deus recebeu “maná”, que era o orvalho transformado em pão de manhã, e codornizes à tarde para alimentar o povo. No confronto com Beto Pereira, Luso Queiroz chamou o candidato a prefeito do Novo de louco por querer implantar na Reme a alimentação da época de Moisés.
Em seguida, o candidato do PSOL defendeu a qualidade da merenda servida na rede municipal. Ele afirmou que o alimento conta recursos federais. Luso enfatizou que o produto é de boa qualidade, apesar de ainda não ser do nível da Suíça ou Noruega. O deboche irritou Figueiró, que foi tirar satisfações do psolista e quase foi retirado do evento pelos seguranças do debate.
Ataques a prefeita
Ao ser questionado por Luso, Beto Pereira atacou a qualidade da reforma nas escolas municipais e das novas salas de aulas construídas por Adriane. Ele ainda atacou a prefeita por manter mais de 70 obras paradas, inclusive mais de dez escolas municipais inacabadas. O tucano disse que os locais viraram abrigo de drogados e prometeu implementar o programa obra inacabada zero.
O tucano acabou sendo atacado sutilmente por Camila Jara. A petista disse que não se pode dar melhores condições de trabalho não pagando o mesmo salário para professores contratados e concursados. A candidata criticou a gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB), padrinho político de Beto, que passou a pagar metade do salário do concursado ao professor temporário desde julho de 2019.
Os ataques continuaram nos questionamentos feitos pelos professores da rede municipal. Beto Pereira criticou o pagamento de supersalários pela atual gestão de Adriane. “É preciso extirpar a folha secreta, que é uma vergonha para nossa cidade”, acusou o tucano.
Rose atribuiu o baixo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) ao sucateamento na educação. Ela destacou que o índice é baixo desde 2013 em decorrência da superlotação das salas, que estariam com 40 alunos e sem ar condicionado ou ventilador quebrado. A candidata do União Brasil lembrou que acabaram com os laboratórios de ciências e penalizaram a educação especial para reduzir custos.
Adriane se defendeu e afirmou que está realizado a maior revitalização de 205 escolas, a primeira em décadas, e destacou o diálogo com os professores. Ela disse que vai colocar ar condicionado ainda neste ano nas escolas e prometeu lançar concurso para administrativos da educação após as eleições.
Bolsonaro x Lula
Camila defendeu as gestões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-governador Zeca do PT. “Não tem como defender a educação e apoiar o Bolsonaro”, criticou a petista, em uma indireta a Beto Pereira e Adriane, que brigaram pelo apoio do ex-presidente. A petista destacou a gestão bolsonarista, que foi marcada por cortes na educação e protesto de estudantes. “É preciso ter lado, lado de quem investe na educação”, defendeu a petista.
Bolsonaro não foi defendido por Beto Pereira nem Adriane. No entanto, Figueiró elogiou Camila pela autenticidade, mas causou a fúria da plateia ao criticar Lula, sem citá-lo. “O meu herói morreu na cruz e o dela foi condenado em todas as instâncias”, afirmou o empresário, tentando se firmar como candidato contra a esquerda.
Carta de compromisso
Cinco dos seis candidatos – Adriane, Beto Pereira, Camil Jara, Luso Queiroz e Rose Modesto – assinaram a carta da ACP, que elencou 25 compromissos com a educação pública e de qualidade. Figueiró foi o único que não assinou, sob a alegação de que o texto “era muito acanhado”. Ele acusou os professores de se “contentarem com migalhas”.
Rose disse que pretende fazer tudo por Campo Grande a partir da visão de uma professora. Ela citou a falta de mil quilômetros de vias para serem pavimentadas e a dor de 70 mil pacientes aguardando por exame ou consulta médica na rede pública.