As investigações da Polícia Federal nas operações Prime e Sordidum revelam uma evolução meteórica na carreira do empresário de Dourados Claudinei Tolentino Marques, 42 anos. Ele é suspeito de fazer parte de um “gigantesco” esquema de lavagem de dinheiro em movimentações financeiras que atingem cifras de R$ 300 milhões.
O Ministério Público Federal, em manifestação contra a revogação da prisão preventiva, apresenta o “crescimento patrimonial exponencial nos últimos anos” de Claudinei, que até abril de 2012 era vendedor das lojas Gazin. Atualmente, junto com seu irmão Luiz Antonio Tolentino Marques, 47 anos, são responsáveis por diversas empresas, entre construtoras, transportadoras, aeronave, e fazendas no Mato Grosso.
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As investigações apontam que, filtradas todas as operações suspeitas tendo como titular a pessoa física Claudinei Tolentino e suas empresas (GR Construtora, Ervais, Federal Armas, Wonderful God), há um total de 11 comunicações com a soma geral de valores de R$ 113 milhões.
As empresas foram abertas após ele deixar a função de vendedor da loja de eletrodomésticos e contou com o auxílio de sua esposa e de dois filhos, atualmente com 19 anos e 13 anos.
Informações levantadas em relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) mostram um total de 71 comunicações de operações em espécie para Claudinei e suas empresas, que atingiram o montante de R$ 23,5 milhões.
Com relação às operações atípicas, em sete comunicações, relacionadas a contas que possuem como titular as empresas ou o próprio Claudinei, foi movimentada a quantia de R$ 54 milhões, entre créditos e débitos.
Em nome da empresa GR Construtora e Incorporadora Ltda, foram adquiridos imóveis que as investigações apontam fazerem parte da Fazenda Bandeirantes, no município de Tesouro (MT), cujo valor total de aquisição teria sido de R$ 14,45 milhões.
Segundo a Polícia Federal, “a aquisição/administração de imóveis rurais e semoventes não faz parte do objeto social das empresas de CLAUDINEI TOLENTINO MARQUES e, aparentemente, também não fazem parte da sua rotina, o que desperta a suspeita de que, além de movimentar valores de origem ilícita pertencente a terceiros, CLAUDINEI atue na ocultação de bens que pertenceriam de fato a terceiros.”
A GR Construtora, entre 19 de dezembro 2019 e 24 de agosto de 2023, recebeu em depósitos em espécie o total de R$ 15,3 milhões, divididos em 35 depósitos, constando como realizados, em sua grande maioria, pela própria empresa e, em alguns casos, por Claudinei Tolentino. Das cinco maiores transações realizadas no período acima, ele consta como depositante em duas delas, totalizando R$ 7 milhões.
A empresa Tolentino M E Granitos Eireli, que pertence a Claudinei, constou em 38 comunicações relacionadas à transferência de veículos, o que implicou na movimentação de mais de R$ 10 milhões no período de 26 de março de 2020 a 23 de fevereiro de 2023, sendo que a compra e venda de veículos não faz parte do objeto social da empresa.
Lavagem do tráfico de cocaína
A Polícia Federal e o Ministério Público defendem que há provas de que Claudinei e seu irmão Luiz Antonio Tolentino Marques utilizam suas empresas para ocultar patrimônio dos irmãos Marcel Martins Silva e Valter Ulisses Martins Silva, sobretudo veículos de alto valor.
A comercialização ilegal de armas também integraria o rol de crimes praticados pelos irmãos Tolentino, dizem os investigadores.
Ao todo, três grupos são investigados pela movimentação excessiva de dinheiro em Ponta Porã. A lavagem de dinheiro ocorria para legalizar o lucro com o tráfico de cocaína, que abastecia tanto grandes centros no Brasil quanto o mercado internacional, com remessa para países da América Central.
“A deflagração da Op. “Prime” terminou por revelar que os irmãos TOLENTINO MARQUES são, em realidade e de fato, operadores precípuos de outro esquema multimilionário de lavagem em tese, mas em benefício de um gigantesco narcotraficante cujas bases de operação dá-se no estado de São Paulo, com forte entrada no mercado europeu da cocaína, ainda que colateralmente o irmão CLAUDINEI, residente de Dourados, tenha tido provável ponto de conexão com os irmãos MARTINS, em beneficiamento criminoso da reciclagem de recursos daqueles por igual”, relata o MPF.
“É o teórico caso em que uma estrutura industrial de lavagem de dinheiro em larguíssima escala em favor de certo grupo termina sendo “emprestada” para lavar recursos de outro grupo, independentemente de como sejam as premissas da negociação”, completa o órgão ministerial.
O Ministério Público Federal ainda trabalha na denúncia, que já conta com 120 páginas, segundo o órgão. As investigações indicam “uma movimentação financeira da ordem de R$ 300 milhões, atualmente sob análise e processamento em razão do grande volume de valores envolvidos”.
Os irmãos Tolentino foram presos durante a deflagração das operações Prime e Sordidum, em 15 de maio deste ano.
Outro lado
Em pedido de revogação da prisão na 3ª Vara Federal de Campo Grande, a defesa de Claudinei alega que foi superado o prazo para conclusão das investigações, não remanescem os motivos que ensejaram a prisão preventiva, negam que o empresário esteja envolvido com lavagem de dinheiro e que todas as suas atividades são legais.
“O peticionante nega a prática, em qualquer medida, com a lavagem de capitais, registrando que as negociações veiculares elencadas no inquérito policial se desenvolveram com absoluta licitude e legalidade, com a devida contratualização, o que afasta as inferências de clandestinidade ou ocultação. Nega o envolvimento ou mesmo ciência de qualquer falsidade documental em benefício de VALTER ULISSES, com o intuito de facilitar a autorização para aquisição de armas de fogo.”
“Também rechaça as alegações de enriquecimento desproporcional, justificando os rendimentos em decorrência de suas atividades como empresário, mediante a utilização da empresa GR CONSTRUTORA E INCORPORADORA LTDA, em funcionamento desde 2010; atesta a legalidade das transferências bancárias para seu irmão LUIS ANTONIO TOLENTINO MARQUES, devidamente declaradas como empréstimos em sua declaração de RIPF.”
O juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, porém, decidiu manter a prisão preventiva do suspeito, conforme decisão publicada no Diário da Justiça Federal de 9 de agosto.