Um dos principais alvos da Operação Velatus, deflagrada contra corrupção na Prefeitura Municipal de Terenos, é Tiago Lopes de Oliveira, residente em Santa Fé do Sul (SP). Em dois anos, ele teve uma evolução meteórica na vida, passando de taxista para chefe de gabinete do prefeito Henrique Wancura (PSDB) e dono de construtora com R$ 1,8 milhão em contratos com o município.
O caso de Oliveira é relatado no pedido de busca e apreensão pelos promotores de Justiça Eduardo de Araújo Portes Guedes e Bianka Machado Arruda Mendes. Ele pediu demissão do cargo de chefe de gabinete um dia antes de constituir a empresa e só ligou a luz da construtora após ganhar a 2ª licitação, que teria sido fraudada pelo então secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Isaac Cardoso Bisneto.
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Conforme a denúncia, Tiago trabalhou como taxista em Terenos até meados de 2020 quando se transformou em um dos principais assessores do tucano. Ele foi chefe de gabinete até o dia 25 de fevereiro de 2022. Um dia antes, conforme o Ministério Público Estadual, ele abriu a D’Aço Construção e Logística.
Para ganhar a primeira licitação, com a participação de outras empresas, que nem disfarçavam o esquema ao apresentar o mesmo valor na abertura das propostas, a empresa de Tiago Lopes de Oliveira não precisou de nenhuma experiência. O primeiro contrato de R$ 212,9 mil foi ganho no dia 5 de junho de 2022.
Dois dias depois, no dia 7 de junho de 2022, a D’Aço Construção ganhou o segundo contrato, no valor de R$ 1,107 milhão. Os promotores descobriram que a empresa nem tinha ligado a luz do prédio ainda. A Energisa MS só ligou a energia no dia 13 de junho de 2022 – oito dias após a construtora inexperiente e sortuda ganhar a primeira licitação na gestão de Wancura.
E a sorte continuou irrigando a pequena construtora, que tinha capital social de R$ 50 mil. NO dia 18 de julho de 2022, a empresa ganhou outra licitação, no valor de R$ 500 mil.
Outra curiosidade, a D’Aço Contrução e Logística funcionava no imóvel do empresário Sidney Groti Chaves, pai de Hander Grote Chaves, da HG Empreiteira e Negócios, em Terenos, que foi preso durante o cumprimento de um dos mandados de busca e apreensão porque tinha um revólver calibre 22. Sidney pagou a fiança e liberou o filho no mesmo dia na delegacia, segundo noticiado pelos jornais Midiamax e Campo Grande News.
De acordo com a denúncia, a HG fazia parte do esquema criminoso de fraudar licitações em Terenos com a D’Aço, a Bonanza, a Sansão Inácio Rezende e Genilton da Silva Moreira. Todos foram alvos do GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e do Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado) na última terça-feira (13).
Em uma planilha apreendida com os empresários, o MPE encontrou lista de repasses de suposta propina para Tiago Lopes de Oliveria e para Isaac Bisneto. Conversas interceptadas mostram os empresários falando que o empresário cobrava uma porcentagem sobre os contratos firmados com o município de Terenos.
A Operação Velatus teve o sigilo levantado pela Justiça e o processo é público. O juízo de Terenos repete a sistemática de publicidade adotada nas operações Tromper, pelo juiz Fernando Moreira Freitas da Silva, em Sidrolândia, e Laços Ocultos, pelo juiz Daniel Raymundo da Matta, em Amambai.
Já o juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, decretou sigilo absoluto e até ameaçou advogados com a divulgação de detalhes dos desvios milionários na educação e na saúde revelados pela Operação Turn Off.