O ex-secretário estadual de Saúde, Flávio da Costa Brito Neto, apagou os dados do telefone celular 48 horas antes da Operação Turn Off ser deflagrada e ainda passou à noite acordado à espera do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Conforme a investigação, ele foi primeiro beneficiado pelo vazamento da investigação pelos desvios milionários na saúde e na educação.
Além de Britto, a Operação Erasure mirou o ex-secretário estadual-adjunto da Educação, Édio Antônio Resende de Castro Bloch, a ex-coordenadora de contratos da Secretaria Estadual de Educação, Andréa Cristina Souza Lima, o ex-assessor Thiago Haruo Mishima.
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O empresário Sérgio Duarte Coutinho Júnior, que estava preso naquele dia junto com o irmão, Lucas de Andrade Coutinho, foi citado, mas não foi alvo da operação.
De acordo com a investigação do Gaeco, Flávio Britto tomou conhecimento da Operação Turn Off, que foi deflagrada no dia 29 de novembro do ano passado, com dois dias de antecedência. No 27 de novembro, após uma ligação pelo aplicativo de Mishima. Logo em seguida, ele apagou conversas com o próprio ex-assessor e com a “Comercial Health Brasil”, referência a empresa que é ré pelo desvio de R$ 46 milhões na saúde.
Britto ainda teria apagado o histórico no Google. Ele e Tiago conversaram em outras cinco ocasiões ao longo dos dias 27 e 28 de novembro do ano passado.
Na ocasião, Flávio Britto era secretário estadual-adjunto de Governo. De acordo com o Gaeco, ele mudou o horário de dormir. Geralmente, o ex-secretário dormia entre 22h e 23h. Na véspera da Operação Turn Off, o MPE apontou que ele não dormiu.
Acostumado a levantar-se às 6h30, Flávio passou a madrugada, a partir das 3h45, olhando sites de notícias locais. Quando os promotores do Gaeco e do GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção) bateram na sua porta, às 6h do dia 29 de novembro, o ex-secretário estava trajado e sentado na sala, inclusive com a cama arrumada, como se tivesse esperando os visitantes para o café da manhã.
Reset seletivo
Thiago Haruo Mishima também resetou o celular e formatou o smartphone. Ele desinstalou o WhatsApp e só restaurou alguns diálogos. Criou nova conta no Google e ainda trocou de número de telefone para acessar o aplicativo de mensagens na véspera da operação.
Logo após conversar com Mishima, Sérgio Coutinho procurou uma loja da Apple na Capital. DE acordo com a investigação, o empresário apagou até as conversas com a esposa, Thaline Coutinho do WhatsApp.
Outro fato curioso é que Sérgio Coutinho realizou 64 buscas na internet na véspera da Operação Turn Off, nos quais buscou os termos “limpar histórico de buscas iphone”, “seis fatores que inidcam que seu iphone está grampeado” e “como excluir icloud”.
Andréa Lima apagou as mensagens n véspera, no dia 28 de novembro de 2023. Conforme a investigação do Gaeco, ele resetou o celular seis vezes entre as 3h da madrugada e as 18h do dia 28. Na madrugada do dia 29 de novembro, horas antes do Gaeco bater na sua porta, a então coordenadora de contratos acordou e apagou as mensagens do celular mais duas vezes.
Conversas com autoridades
O adjunto da Educação, Édio Antônio, também começou a apagar as mensagens a partir do meio-dia do dia 28 de novembro de 2023. Foram 54 eventos apagando mensagens de conversas com Flávio Britto, Thiago Mishima e Andréa Lima.
Outras conversas no aplicativo excluídas foram o presidente regional do PSDB, o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), o presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP), o deputado estadual Márcio Fernandes (MDB) e até o deputado federal Vander Loubet (PT).
O juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, acatou pedido de busca e apreensão contra os quatros formulados pelo Gaeco.
O Gaeco investiga o quarteto por obstrução de investigação de organização criminosa e violação de sigilo funcional. O objetivo da investigação é descobrir quem foi o “dedo duro” da investigação e avisou da Operação Turn Off.