Quando os termômetros de Dourados, município distante 229,9 quilômetros de Campo Grande, não ultrapassaram os 20ºC em julho, o frio talvez tenha penalizado um grupo desavisado de profissionais de saúde que precisou correr em lojas e camelôs em busca de casacos e mantas para dar início a um trabalho, até então, inédito na cidade, a cooperação entre Brasil e Angola na área de saúde no Hospital Universidade da Grande Dourados.
Entre as médicas acostumadas ao calor médio de 39º de Angola está a intensivista Maria Augusta Alberto Faria, cuja estadia é justificada para atender a “gente como a gente” em busca de atendimento médico naquela unidade.
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Maria Augusta, 33 anos, integra o grupo de 13 profissionais provenientes do Programa de Formação de Recursos Humanos em Saúde Brasil-Angola, coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação e o Ministério das Relações Exteriores em parceria com o Ministério da Saúde por meio da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e que começou a desembarcar em Dourados no dia 8 de julho.
Cooperação Brasil Angola ajuda a fortalecer instituições e profissionais
O objetivo da cooperação técnico-educacional é fortalecer o sistema de saúde angolano, com a formação dos profissionais em residência, doutorado, mestrado, especialização, aperfeiçoamento e estágio complementar. De acordo com o chefe do Setor de Gestão do Ensino, Wesley Eduardo Ferreira, Angola é responsável por todo o processo e a designação das vagas nas instituições brasileiras ocorreu de acordo com a disponibilidade.
Além da intensivista, uma verdadeira Babel, com representantes de seis dialetos de Angola, também integra a delegação, originária, entre outros, dos distritos de Cunene, Ondjiva, Luanda, Bié, Lunda Sul e Saurimo. São profissionais da pediatria, da geriatria, da ginecologia, da cirurgia geral e da clínica médica.
Há duas pessoas com a finalidade específica de atuar com a população indígena: um profissional da psicologia e outro da enfermagem. Para além da designação específica, Maria Augusta ressalta que a maioria dos atendimentos é mesmo direcionada à população indígena, por ser também esse o maior grupo que procura os serviços do HU Dourados.
Atuar com uma comunidade tão diversa ainda era uma novidade para o grupo, porque o histórico de cooperação em saúde dos governos brasileiro e angolano termina por privilegiar grandes centros, com ênfase para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. “Agora, vamos chegar onde nunca chegamos antes”, comemora a médica, cujas queixas voltaram-se apenas aos difíceis 4º C enfrentados pelo grupo.
Se o frio é uma contrariedade, todo o resto compensa, como a disponibilidade de carne bovina (o bom e velho churrasco) e a afetividade que une muitos povos. “Somos seres humanos, nos adaptamos a tudo. Agora, a carne é muito boa. Amo a comida brasileira. Estamos em uma zona diferente, mas quase tudo aqui é como Angola, trabalhamos com pessoas periféricas, pessoas afáveis, gente”, resume.