A nova investida da PF (Polícia Federal) contra Waldir Neves, conselheiro afastado do TCE (Tribunal de Contas do Estado), mostra suspeita de pagamento de propina e lavagem de dinheiro envolvendo amigo de infância, cinco empresas e várias pessoas de uma mesma família. O enredo ainda inclui explicações envolvendo empréstimos e promissórias destruídas.
Ocupante de cadeira na Corte Fiscal oriunda da Assembleia Legislativa, o ex-deputado estadual Waldir Neves é o conselheiro afastado com o cargo mais ameaçado: os deputados se articulam para a retomada da vaga e indicação de um novo político.
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Na berlinda desde 2021, quando foi deflagrada a operação Mineração de Ouro, Waldir também foi alvo da Terceirização de Ouro em 2022, que afastou ainda os conselheiros Ronaldo Chadid e Iran das Neves. Mas na última quarta-feira, foi alvo sozinho da fase Casa de Ouro, em que a PF foi em busca de esquema ligado ao conselheiro.
O ponto de partida da investigação foi imóvel na Euclides da Cunha, que leva a fama de ser a mais charmosa de Campo Grande. Para a PF, uma teia entre empresas e pessoas físicas foi montada para ocultar que o dinheiro tinha origem em contrato do TCE, portanto verba pública, e que Neves era o dono da casa “de ouro”.
“A casa da Rua Euclides da Cunha, (…), Campo Grande-MS, foi adquirida em 2016 por WALDIR NEVES, mas colocada em nome da empresa de seu amigo de infância VANDERLEI MORAIS (que também fez uso do direito ao silêncio – vide vídeos), com a celebração de instrumento de contrato particular em nome de seu assessor e funcionário particular NERCYADNE CUNHA MARQUES DE SOUZA (cujo nome foi alterado para JOÃO NERCY), tendo como vendedor ABELARDO TEIXEIRA FRAGA, ocultando-se, assim, o verdadeiro proprietário (WALDIR NEVES)”.
“Aduz, ainda, que conversas mantidas entre VANDERLEI FARIAS MORAIS e sua filha, THAYNA NOGUEIRA MORAIS, confirmam que o imóvel, apesar de registrado em nome da empresa de VANDERLEI, a MORAIS & NOGUEIRA LTDA, sempre pertenceu ao Conselheiro WALDIR NEVES BARBOSA (fls. 10-23). A análise dos dados obtidos com as medidas cautelares de afastamento de sigilo bancário e fiscal de VANDERLEI MORAIS e da empresa MORAIS & NOGUEIRA LTDA indicam aparente incapacidade financeira para a aquisição de imóvel de valor tão elevado”.
Thayna Morais, filha de Vanderlei, recebeu aproximadamente R$ 350 mil da Dataeasy Consultoria e Informática Ltda entre 2018 e 2021. O TCE e a empresa tinham contrato para prestar serviços de apoio técnico às atividades de tratamento das informações do tribunal, com objetivo de redução de desperdício e monitoramento de produção. Nas outras fases, a PF apontou gastos de R$ 102 milhões entre 2018 e 2022.
A Dataeasy também fez pagamento para empresas que teriam relação com Neves. “(…) foi possível identificar que a empresa DOCSYSNET GESTAO ELETRONICA DE DOCUMENTOS LTDA, transferiu R$ 160 mil para a empresa OM2L SOLUCOES EM INFORMATICA LTDA, de propriedade e de ABELARDO TEIXEIRA FRAGA (vendedor da casa), sendo que tais movimentações ocorreram logo após recebimentos provenientes da empresa DATAEASY”.
O desembolso era em razão de um programa (software) que seria fornecido ao TCE, mas que nunca entrou em funcionamento, e digitalização de documentos, embora a Corte Fiscal utilize protocolos e processos eletrônicos.
“Ou seja, a nosso ver, R$ 160 mil provenientes de crimes contra o TCE/MS foram transferidos para pessoa que vendeu uma casa ao Conselheiro WALDIR NEVES BARBOSA”.
Na sequência, com a quebra do sigilo bancário do empresário Sergio da Costa Correia, e de suas empresas Docsys Tecnologia/Doscsysnet Gestão Eletrônica, identificou transferência para uma quinta empresa, a Eletro Móveis (que tem Milton Cappi como sócio), e para pessoas com o mesmo sobrenome. As transferências foram entre 2016 e 2022, logo após o recebimento de valores provenientes da Dataeasy e do próprio TCE.
“Inquirido, o empresário SERGIO DA COSTA CORREIA disse que os valores repassados à família CAPPI eram referentes ao pagamento de empréstimos, descrevendo operações financeiras atípicas e suspeitas, com emprego de dinheiro em espécie e assinatura de notas promissórias, que teriam sido destruídas (fls. 70-73)”.
O ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Francisco Falcão, autorizou buscas em endereços ligado a quatro pessoas da família Cappi e de Sergio Correia.